Finalmente comecei a ler o "Mindfulness Yoga, the awakened union of breath, body and mind" de Frank Jude Boccio, e estou a gostar por vários motivos (obrigado pela recomendação Sagara!).
Sempre me pareceu haver muita semelhança mas também uma certa oposição entre o Yoga Sutra do Patanjali e o ensinamento de Buda. Parece que o autor do livro tinha o mesmo problema e estudou tudo, o yoga hindu, o yoga budista e escreveu um livro. Que sorte! Traduzo umas frase a seguir para não me esquecer:
"É interessante que, enquanto que a maior parte das formas de yoga (pre-clássicas e pos-clássicas) tendem ao pensamento não-dualista, o yoga clássico de Patanjali, aliado à escola dualista Samkhya Darshana, é ele próprio dualista. Patanjali fala numa bifurcação estrita entre o espírito (purusha) e a natureza ou matéria (prakriti). Neste sistema, parecem existir inúmeros purushas e o essencial do ensinamento e prática do Yoga Sutra é que o praticante cultive o discernimento (viveka) entre o purusha transcendente e tudo o que é "não eu" (anatman); isto inclui todo o organismo psico-fisiológico, o qual faz parte do prakriti (note-se que o significado da palavra anatman como usada por Patanjali é ligeiramente diferente do seu significado em textos budistas).
Portanto aqui, ironicamente, o yoga torna-se uma espécie de separação e abandono dos fenómenos ou realidade relativa até que o yogini recupere o seu verdadeiro eu. De facto, comentários ao Yoga Sutra disserem (o que parece desconcertante, como um koan Zen) que "yoga é viyoga" - união é separação!
Quer escolhamos aderir à metafisica de Patanjali ou não, este processo de discernimento, ou viveka, está presente também em escolas não-dualistas de yoga, Vedanta e Budismo. Portanto, mesmo para budistas não-dualistas, o estudo do Yoga Sutra dualista de Patanjali pode ser ricamente recompensador. Adicionalmente, muitos nas tradições Védicas e tântricas, defendem que Patanjali pretendeu apenas oferecer um modelo de prática e não uma ontologia independente.
A fluidez de interpretação, e tolerância para a contradição e paradoxo, são factores fortes encontrados em todos os ensinamentos de yoga."
...
"Desde o seu primeiro ensinamento de Dharma ao último, que o Buda sempre disse que o Caminho Octuplo é a forma de nos libertarmos de vez do dukkha (nota do tradutor, eu: aquela insatisfação de fundo lixada, que teima em não nos deixar).
Setecentos anos mais tarde, Patanjali, para criar uma escola sistemática e coerente de yoga a partir da enorme variedade de ensinamentos de yoga existentes, e talvez sob a influencia do Budismo, que era uma força importante na India na altura, escreveu o Yoga Sutra, e codificou a prática principal como Ashtanga Yoga (yoga dos oito membros)."
Moral da história, podemos contar pelos dedos sem usar os polegares. :-)
Estou a achar este "yoga da atenção plena" mesmo interessante, uma integração perfeita de Budismo e Asanas. Vou continuar a ler alegremente...
segunda-feira, dezembro 25, 2006
domingo, dezembro 17, 2006
Nem sempre é assim
É divertido que encontrei e comecei a ler um livro Zen com o título "Nem sempre é assim", logo após escrever o post em que repetia a frase "é mesmo assim".
A sensação que tenho é que uma pessoa que comece a ler livros destes, sobre Zen, sem ter lido livros sobre budismo, tipo "O ensinamento de Buda", por exemplo, fica sem perceber nada de budismo. Bom, mas talvez faça também sentido ler Zen primeiro, sei la. Eu acho interessante o "largar o budismo e acordar já" do Zen. :-)
Há esta ideia que me parece particularmente interessante. A realidade é aquilo que se experimenta antes de se catalogar. As coisas acontecem, experimentam-se, depois descrevemos, catalogamos, julgamos, devia ser, não devia ser. Isso já não é a realidade. Ao observar uma flor, antes de a descrever, antes de pensar, ai está a realidade. É interessante... Mas parece que estamos convencidos que a realidade é a arrumação intelectual, a catalogação que fazemos das coisas, depois de acontecerem. É como se fosse preciso processar a realidade e simplifica-la para encaixar na nossa limitada conceptualização para que ela se torne real!
Não é um descanso saber que a realidade é, que não é preciso fazer nenhum esforço para a criar? A mim faz-me sentir em paz. Mas se calhar é só por ser alentejano, isto de não ter que fazer nada é mesmo apelativo! Excelente religião para alentejanos! Eheh, tou a brincar, claro que a ideia não é não fazer nada, faz-se tudo na mesma, a motivação é que fica mais... pura.
É mesmo assim... nem sempre é assim... é mesmo assim...
A sensação que tenho é que uma pessoa que comece a ler livros destes, sobre Zen, sem ter lido livros sobre budismo, tipo "O ensinamento de Buda", por exemplo, fica sem perceber nada de budismo. Bom, mas talvez faça também sentido ler Zen primeiro, sei la. Eu acho interessante o "largar o budismo e acordar já" do Zen. :-)
Há esta ideia que me parece particularmente interessante. A realidade é aquilo que se experimenta antes de se catalogar. As coisas acontecem, experimentam-se, depois descrevemos, catalogamos, julgamos, devia ser, não devia ser. Isso já não é a realidade. Ao observar uma flor, antes de a descrever, antes de pensar, ai está a realidade. É interessante... Mas parece que estamos convencidos que a realidade é a arrumação intelectual, a catalogação que fazemos das coisas, depois de acontecerem. É como se fosse preciso processar a realidade e simplifica-la para encaixar na nossa limitada conceptualização para que ela se torne real!
Não é um descanso saber que a realidade é, que não é preciso fazer nenhum esforço para a criar? A mim faz-me sentir em paz. Mas se calhar é só por ser alentejano, isto de não ter que fazer nada é mesmo apelativo! Excelente religião para alentejanos! Eheh, tou a brincar, claro que a ideia não é não fazer nada, faz-se tudo na mesma, a motivação é que fica mais... pura.
É mesmo assim... nem sempre é assim... é mesmo assim...
sexta-feira, dezembro 08, 2006
Om mani padme hum
Já cantei muitos mantras em aulas de yoga. Mas este é mesmo o meu preferido. Nem sei bem o que significa, já li sobre tantas interpretações diferentes.
Para mim exprime um desejo de desenvolvimento de amor incondicional, de sabedoria e das duas coisas em simultâneo. Enfim, um desejo de despertar, de progredir na remoção de obstáculos que nos impedem de estar de coração aberto e também de aceitar as coisas tal como são.
No retiro com o Sagara gostei tanto de cantar este mantra. Repetia-se quatro vezes numa melodia muito bonita. Infelizmente não me lembro precisamente da melodia. Já procurei na net, encontrei muitas melodias, mas não esta :-(
Quero cantar outra vez! :-)
Para mim exprime um desejo de desenvolvimento de amor incondicional, de sabedoria e das duas coisas em simultâneo. Enfim, um desejo de despertar, de progredir na remoção de obstáculos que nos impedem de estar de coração aberto e também de aceitar as coisas tal como são.
No retiro com o Sagara gostei tanto de cantar este mantra. Repetia-se quatro vezes numa melodia muito bonita. Infelizmente não me lembro precisamente da melodia. Já procurei na net, encontrei muitas melodias, mas não esta :-(
Quero cantar outra vez! :-)
sexta-feira, dezembro 01, 2006
A minha prática de yoga

Uma das coisa que gosto de fazer é tentar posturas difíceis. Actualmente ando a tentar o apoio nas mãos, afastado da parede. Ainda só consegui ficar cerca de vinte segundos (a da foto já é fácil :-) ).
Normalmente começo a fazer posturas assim que fico parado. Dá-me vontade e faço. Quer esteja sozinho em casa quer esteja no meio de pessoas. Este verão fazia sessões de yoga sozinho na praia cheia de gente. Além de ser agradável fazer yoga na praia, é um desafio ficar no meio de tanta gente e conseguir... fazer como se não estivesse ninguém... a pensar que sou um exibicionista :-). Mas acho muito difícil o yoga incomodar realmente alguém, é muito parado e não faz barulho, basta olhar para outro lado.
Além das duas regulares aulas por semana, faço quase todos os dias umas posturas em casa. E por vezes sessões completas, com pranayama, relaxamento e tudo.
O meu estado de espírito muda muito depois de fazer yoga. Fico mais calmo, bem disposto, mais atento, e é tão simples...
Em termos físicos acho que o yoga é mesmo bom para a flexibilidade e equilíbrio. Mas acho que para treino aeróbico e força não é grande coisa. Além do yoga corro e nado, e até levanto pesos uma vez por semana!
É importante manter o corpo em bom estado. Mens sana in corpore sano!
A minha prática de meditação
Agora estou a meditar todos os dias de manhã. Coloco o cronómetro do telemovel em contagem decrescente: 20 minutos. E por vezes mais vinte.
Tem acontecido assim. Começo por observar a respiração, centro-me no movimento suave do abdómen, e começo a ficar muito tranquilo. A certa altura ligo à insatisfação profunda que existe em mim, e reconheço que existe o mesmo no coração das outras pessoas, e choro, por vezes até soluço. Depois começo novamente a ficar tranquilo. Mas estou mais sensível, menos auto-centrado, mais ligado aos outros. E faço metta, primeiro eu, depois alguém próximo, alguém neutro, alguém difícil, todos juntos, e todos sem excepção. A seguir fico apenas a notar, mas não foco num ponto, fico a notar tudo o que está a acontecer no momento, as sensações no corpo, a respiração, o bater do coração, os sons da rua, os pensamentos que vão aparecendo... Dirijo a atenção aos estímulos que surgem, e solto logo a seguir. Por vezes também procuro sensações agradáveis, desagradáveis e neutras no corpo, e solto logo. Claro que também fico perdido nos filmes mentais, mas depois volto, sem frustração... é mesmo assim...
Não escolhi fazer isto assim, acho que se auto-arranjou. Parece muita coisa pra pouco tempo, e é! Por vezes fico na primeira parte, a de ficar tranquilo, e nem isso resulta. Esta manhã fiz tudo, em cerca de 45 minutos, mas perdi-me durante algum tempo na última parte, num sonho qualquer. Mas não faz mal... é mesmo assim...
Acho que cada pessoa que queira praticar meditação acaba por encontrar a sua própria rotina. A minha regularidade foi duvidosa durante muitos meses, mas parece que agora estabilizou. E se mudar muda... é mesmo assim...
Om Shanti! (Paz Fofinha)
Tem acontecido assim. Começo por observar a respiração, centro-me no movimento suave do abdómen, e começo a ficar muito tranquilo. A certa altura ligo à insatisfação profunda que existe em mim, e reconheço que existe o mesmo no coração das outras pessoas, e choro, por vezes até soluço. Depois começo novamente a ficar tranquilo. Mas estou mais sensível, menos auto-centrado, mais ligado aos outros. E faço metta, primeiro eu, depois alguém próximo, alguém neutro, alguém difícil, todos juntos, e todos sem excepção. A seguir fico apenas a notar, mas não foco num ponto, fico a notar tudo o que está a acontecer no momento, as sensações no corpo, a respiração, o bater do coração, os sons da rua, os pensamentos que vão aparecendo... Dirijo a atenção aos estímulos que surgem, e solto logo a seguir. Por vezes também procuro sensações agradáveis, desagradáveis e neutras no corpo, e solto logo. Claro que também fico perdido nos filmes mentais, mas depois volto, sem frustração... é mesmo assim...
Não escolhi fazer isto assim, acho que se auto-arranjou. Parece muita coisa pra pouco tempo, e é! Por vezes fico na primeira parte, a de ficar tranquilo, e nem isso resulta. Esta manhã fiz tudo, em cerca de 45 minutos, mas perdi-me durante algum tempo na última parte, num sonho qualquer. Mas não faz mal... é mesmo assim...
Acho que cada pessoa que queira praticar meditação acaba por encontrar a sua própria rotina. A minha regularidade foi duvidosa durante muitos meses, mas parece que agora estabilizou. E se mudar muda... é mesmo assim...
Om Shanti! (Paz Fofinha)
quinta-feira, novembro 16, 2006
Clareza
Agora parece-me tudo tão claro. Enquanto as coisas forem vistas desta forma a insatisfação fundamental vai sempre existir. O problema é as coisas aparecerem permanecerem e depois desaparecerem. A solução é ver que não permanecem, que é tudo apenas um fluxo.
Podemos procurar esquecer esta insatisfação de fundo, consequência de ver tudo a morrer à nossa volta, de irmos também morrer, e nada parecer ter sentido. Para isso é preciso arranjar muitas distracções, fazer muitas coisas para não pensar muito. E ir vivendo pequenos prazeres, cultivando os apegos. E vejo toda a gente à minha volta a seguir este caminho, a agarrar-se a coisas, a distracções, a tentar fazer muitas coisas, convencidos de que é a solução, de que é "aproveitar a vida", todos a fugir de si próprios, desesperadamente, tudo em vão... Esta solução não me satisfaz, definitivamente. Sei que a insatisfação se vai sempre manter. No entanto por vezes desperdiço tanta energia a alimentar ilusões, que agora vejo claramente só me afastarem do essencial: a realidade, dura e crua. Não quero voltar a fugir.
Outra hipótese é adoptar um sistema de crenças, uma religião qualquer que nos permita explicar tudo, e tudo fica com sentido. Isto para mim também não dá, ia sempre ter dúvidas e a insatisfação persistiria.
O budismo é qualquer coisa a meio. Não se evita o problema mas também não há crenças. A ideia é precisamente deixar as crenças, os apegos, soltar todas as falsas seguranças e ver e aceitar as coisas tal como são. Acabar com o "querer que sejam de outra forma". Esta é a raiz do sofrimento, e vendo o Todo, sendo uno com o Todo, o sofrimento desaparece.
Pronto, só há mudança, mais nada, é claro que nada permanece, e não há "eu" nenhum, é tudo uma ilusão. Há um fluxo, apenas. E agora? O problema é que a compreensão disto não basta. Não adianta repetir muitas vezes que as coisas de facto são assim. É preciso despertar, Ver, ou melhor Ser. Talvez um dia venha a ser claro que "os quereres" não são nada, e que os filmes mentais são menos interessantes que este momento, e venha a ser possível estar, em pleno, no momento presente. Na verdade sei que é possível andar neste sentido, e isso para mim basta.
Mas é preciso impregnar o ser com este conhecimento, gerar sabedoria, treinar a mente, meditar. Experimentar a impermanência, no corpo, na mente, no dia a dia... E ficar cada vez mais sensível, cada vez mais desperto. Investigar, e paralelamente à sabedoria cultivar o amor/compaixão, afinal todos os seres têm o mesmo problema, e vai tudo no mesmo sentido. É preciso ir removendo tudo aquilo que nos tapa os olhos.
E se houver mesmo muitas vidas qual é a pressa? :-) Pouco importa se há ou não muitas vidas. O que é facto é que existe um sentido de urgência, um desejo de despertar. Não é útil fazer perguntas sobre a flecha, é preciso remove-la. Na verdade não sabemos grande coisa. E no budismo não se procura explicar tudo. Há um problema concreto, esta insatisfação, o meu sofrimento, o de todos os seres. Há uma intuição de que é possível viver em verdade, deixar as crenças e apegos, soltar tudo, aceitar as coisas tal como são, despertar, acabando finalmente com o sofrimento.
Entretanto, o melhor a fazer é continuar alegremente com a "prática do agora", para o beneficio de todos os seres. Esta frase soa mesmo bem! :-)
Podemos procurar esquecer esta insatisfação de fundo, consequência de ver tudo a morrer à nossa volta, de irmos também morrer, e nada parecer ter sentido. Para isso é preciso arranjar muitas distracções, fazer muitas coisas para não pensar muito. E ir vivendo pequenos prazeres, cultivando os apegos. E vejo toda a gente à minha volta a seguir este caminho, a agarrar-se a coisas, a distracções, a tentar fazer muitas coisas, convencidos de que é a solução, de que é "aproveitar a vida", todos a fugir de si próprios, desesperadamente, tudo em vão... Esta solução não me satisfaz, definitivamente. Sei que a insatisfação se vai sempre manter. No entanto por vezes desperdiço tanta energia a alimentar ilusões, que agora vejo claramente só me afastarem do essencial: a realidade, dura e crua. Não quero voltar a fugir.
Outra hipótese é adoptar um sistema de crenças, uma religião qualquer que nos permita explicar tudo, e tudo fica com sentido. Isto para mim também não dá, ia sempre ter dúvidas e a insatisfação persistiria.
O budismo é qualquer coisa a meio. Não se evita o problema mas também não há crenças. A ideia é precisamente deixar as crenças, os apegos, soltar todas as falsas seguranças e ver e aceitar as coisas tal como são. Acabar com o "querer que sejam de outra forma". Esta é a raiz do sofrimento, e vendo o Todo, sendo uno com o Todo, o sofrimento desaparece.
Pronto, só há mudança, mais nada, é claro que nada permanece, e não há "eu" nenhum, é tudo uma ilusão. Há um fluxo, apenas. E agora? O problema é que a compreensão disto não basta. Não adianta repetir muitas vezes que as coisas de facto são assim. É preciso despertar, Ver, ou melhor Ser. Talvez um dia venha a ser claro que "os quereres" não são nada, e que os filmes mentais são menos interessantes que este momento, e venha a ser possível estar, em pleno, no momento presente. Na verdade sei que é possível andar neste sentido, e isso para mim basta.
Mas é preciso impregnar o ser com este conhecimento, gerar sabedoria, treinar a mente, meditar. Experimentar a impermanência, no corpo, na mente, no dia a dia... E ficar cada vez mais sensível, cada vez mais desperto. Investigar, e paralelamente à sabedoria cultivar o amor/compaixão, afinal todos os seres têm o mesmo problema, e vai tudo no mesmo sentido. É preciso ir removendo tudo aquilo que nos tapa os olhos.
E se houver mesmo muitas vidas qual é a pressa? :-) Pouco importa se há ou não muitas vidas. O que é facto é que existe um sentido de urgência, um desejo de despertar. Não é útil fazer perguntas sobre a flecha, é preciso remove-la. Na verdade não sabemos grande coisa. E no budismo não se procura explicar tudo. Há um problema concreto, esta insatisfação, o meu sofrimento, o de todos os seres. Há uma intuição de que é possível viver em verdade, deixar as crenças e apegos, soltar tudo, aceitar as coisas tal como são, despertar, acabando finalmente com o sofrimento.
Entretanto, o melhor a fazer é continuar alegremente com a "prática do agora", para o beneficio de todos os seres. Esta frase soa mesmo bem! :-)
segunda-feira, novembro 13, 2006
Dhyanas
Faz hoje uma semana que me aconteceu a coisa mais extraordinária de sempre. Estava a passar por um profundo desgosto. Li um pouco de um livro sobre budismo Zen. Uns momentos depois o meu estado de consciência mudou. Estava muito relaxado, todo o querer desapareceu e fiquei num estado de aceitação total. Os sentidos ficaram como que amplificados. Como se o contraste fosse realçado. Comecei a ouvir todos os sons, os pequenos desconfortos mostraram-se, a consciência corporal aumentou, senti uma pequena dor no pescoço que já lá estava. Havia um profundo contentamento. O reconhecimento de que tudo o que existe é o momento presente, aquilo que está realmente a acontecer tornou-se muito mais interessante que os usuais filmes mentais. Os pensamentos começaram a surgir um a um. E era um aparece solta, aparece solta, muito claro. Um deles era "isto está mesmo a acontecer" meio questão, meio afirmação. E outro "nunca vou conseguir explicar isto a ninguém". Também os usuais pensamentos recorrentes apareceram, mas não ficaram, vi-os claramente como ilusões, criadas pela mente para me afastar da realidade, do momento presente, que é única coisa que existe. E surge esta frase plena de significado "é preciso querer Ver, mas para ver Ver não se pode querer".
Foi como se uma película que turva a percepção tivesse sido removida, pela primeira vez. E parecia ver as coisas pela primeira vez. Como se nunca as tivesse notado. O estado era caracterizado pelo soltar, a atenção dirigia-se claramente a cada objecto, visual, auditivo, táctil, mental, para logo depois o soltar. E tudo era observado. Acho que isto pode ser comparado ao que acontece sob o efeito de álcool. Quando se bebe o estado de consciência muda, fica mais obscurecido. Foi como que ao contrário, como se tivesse andado com os copos a vida toda, e agora finalmente, tivesse ficado sóbrio por algum tempo.
Agora sei qual é a diferença entre compreender e Ver. Entendo que mesmo o Dharma é para ser soltado. Vejo claramente que é possível apenas estar, ser só presença, desperta. Viver mesmo o presente ganhou para mim outro significado. O budismo só interessa mesmo para isto. São indicações de quem despertou para nos ajudar a despertar. E despertar não é mais que ver para além do querer, é ver directamente, e não através de conceptualizações inclusive budistas. Claro que provavelmente o que acabei de escrever não faz nenhum sentido para muita gente. Talvez faça para algumas pessoas, para mim faz.
Falei com pessoas esclarecidas sobre isto e parece que é uma coisa natural. Estando num estado de maior receptividade é natural que se tivessem criado condições para isto acontecer. Este estado é aparentemente um estado de absorção chamado "primeiro Dhyana". Estados assim podem ser induzidos. Em retiros prolongados podem-se conseguir induzir intencionalmente. Eu não faço a miníma ideia de como repetir a "experiência".
Note-se que não estou a falar de uma coisa tipo "ah, hoje estou um bocadinho mais claro". Eu não sou muito dado a eventos extraordinários e experiências místicas. Mas isto é mesmo extraordinário e não há qualquer dúvida quando acontece.
Estive depois a ler sobre Dhyanas e parece que existem oito, sendo este o mais básico. E há pessoas que conseguem "entrar" em cada um intencionalmente, permanecer o tempo que querem e sair quando querem.
Decididamente, vou continuar a meditar e a participar em retiros.
Foi como se uma película que turva a percepção tivesse sido removida, pela primeira vez. E parecia ver as coisas pela primeira vez. Como se nunca as tivesse notado. O estado era caracterizado pelo soltar, a atenção dirigia-se claramente a cada objecto, visual, auditivo, táctil, mental, para logo depois o soltar. E tudo era observado. Acho que isto pode ser comparado ao que acontece sob o efeito de álcool. Quando se bebe o estado de consciência muda, fica mais obscurecido. Foi como que ao contrário, como se tivesse andado com os copos a vida toda, e agora finalmente, tivesse ficado sóbrio por algum tempo.
Agora sei qual é a diferença entre compreender e Ver. Entendo que mesmo o Dharma é para ser soltado. Vejo claramente que é possível apenas estar, ser só presença, desperta. Viver mesmo o presente ganhou para mim outro significado. O budismo só interessa mesmo para isto. São indicações de quem despertou para nos ajudar a despertar. E despertar não é mais que ver para além do querer, é ver directamente, e não através de conceptualizações inclusive budistas. Claro que provavelmente o que acabei de escrever não faz nenhum sentido para muita gente. Talvez faça para algumas pessoas, para mim faz.
Falei com pessoas esclarecidas sobre isto e parece que é uma coisa natural. Estando num estado de maior receptividade é natural que se tivessem criado condições para isto acontecer. Este estado é aparentemente um estado de absorção chamado "primeiro Dhyana". Estados assim podem ser induzidos. Em retiros prolongados podem-se conseguir induzir intencionalmente. Eu não faço a miníma ideia de como repetir a "experiência".
Note-se que não estou a falar de uma coisa tipo "ah, hoje estou um bocadinho mais claro". Eu não sou muito dado a eventos extraordinários e experiências místicas. Mas isto é mesmo extraordinário e não há qualquer dúvida quando acontece.
Estive depois a ler sobre Dhyanas e parece que existem oito, sendo este o mais básico. E há pessoas que conseguem "entrar" em cada um intencionalmente, permanecer o tempo que querem e sair quando querem.
Decididamente, vou continuar a meditar e a participar em retiros.
domingo, novembro 05, 2006
Completamente pedido
Agora nada mais faz sentido. O que sou afinal? O que quero? Digo a mim próprio o que sou, o que quero, mas não acredito no que digo. Já não distingo o que sou do que quero ser. Já não sei em que parte do caminho me encontro, oscilo entre a meta a alcançar e um ponto que passou, mas não sei em que ponto me encontro, nem que caminho estou a seguir. Não sinto nada, e depois sinto tanto e depois nada. Onde estão as minhas ilusões preferidas? A realidade é insuportável! Preciso desesperadamente de uma nova ilusão para me agarrar. Estou completamente perdido...
sexta-feira, novembro 03, 2006
O fundo do vale
Às vezes descemos tão fundo que parece que não vamos voltar a subir... mas não é assim, depois vem a colina, vem sempre a colina, e começamos de novo a subir, alguma vez não foi assim?
Reflectir e meditar na impermanencia dá muito jeito nestas alturas... tudo muda, é só uma questão de tempo... melhores tempos virão... a colina vai aparecer...
É só ficar sentado, observar o momento presente... sentir o corpo, observar os pensamentos... sem agarrar ou alimentar nenhum deles...
Reflectir e meditar na impermanencia dá muito jeito nestas alturas... tudo muda, é só uma questão de tempo... melhores tempos virão... a colina vai aparecer...
É só ficar sentado, observar o momento presente... sentir o corpo, observar os pensamentos... sem agarrar ou alimentar nenhum deles...
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