terça-feira, abril 03, 2007

Impermanência, amor, apego e relacionamentos

Tudo muda, nada permanece, só existe mudança. Isto aplica-se a muitos níveis e também aos relacionamentos. Eu acho que ninguém gosta de saltar de relacionamento em relacionamento durante muito tempo. Existe todo o entusiasmo e estimulo da novidade quando se conhece uma pessoa, quando se descobre uma nova paixão, mas só isto não é satisfatório. No fundo acho que procuramos todos uma relação que dure, que se aprofunde, que gere uma cumplicidade forte, procuramos um companheiro para a vida. E surge naturalmente um forte apego. Não queremos perder a pessoa com quem estamos. E de certo modo cultivamos este apego pois queremos que a relação dure. Do ponto de vista budista, o apego é causa do sofrimento. Suponho que o Buda não tinha namorada, ou então andava sempre a mudar. :-)


Acho que se pode progressivamente reduzir o apego e purificar o amor. No entanto aquela pessoa continua a ser especial, continua a ser a nossa companheira. Queremos aquela e não outra. Parece haver uma contradição aqui. É igual com os amigos. Recordo a história de um companheiro do Buda "espiritualmente avançado" que chora a morte de alguém e diz que tinha apego ao corpo da pessoa... Mas afinal queremos amor sem apego mas com umas excepções?

Acho que é tudo uma questão de seguir o caminho do meio. Não sou um Buda, tenho apegos, até cultivo apegos... No fundo temos que reconhecer as nossas limitações, conhecer-nos. Existe algum apego por quem nos está próximo mas podemos na mesma cultivar o amor por todos os seres...

Talvez um dos segredos para que um relacionamento dure seja aceitar a impermanência. As coisas não são iguais agora e ao fim de algum tempo. De facto mudam em cada instante. O que se descobre nos primeiros dias não se vai descobrir nos dias seguintes. Depois descobrem-se outras coisas. O relacionamento não vai ser igual, vai tudo mudando, a intensidade das primeiras descobertas não se pode repetir, pois não existem de novo as primeiras descobertas. No entanto é possível continuarmos a ficar cada vez mais próximos, criar em cada instante uma união cada vez mais plena na descoberta dos mistérios desta vida... é preciso estar desperto, aceitar que as coisas mudam e não desistir à mínima adversidade... é preciso acreditar... acreditar no amor... Eu acredito! :-)

5 comentários:

Soneca disse...

Coisas tão claras, que te foram passadas tantas vezes... e tanto demoraste a compreendê-las... parabéns, sabes finalmente que equilíbrio não é uma escolha.

Imhotep disse...

Obrigado. Cada um segue o seu caminho, ao seu ritmo, qual é a pressa? Todas as experiências são enriquecedoras, obrigado. Acho que o importante é mesmo conhecermos-nos e ter um bom compromisso entre a aceitação daquilo que somos e o querer melhorar, ou caminhar para algum lado...

Soneca disse...

Não tens de quê. Estou tão feliz! Uma boa viagem, e bem-hajas por tudo... e por nada. O que é bom... é bom!
Um beijinho pikenu e um sorriso.

Ben Oliveira disse...

Ótimo texto. Estava curioso para saber qual seria a visão budista sobre os relacionamentos amorosos, visto que, muitas vezes, é comum o apego.
Abraços

Anónimo disse...

Olha acho que uma coisa é a mudança natural, que esta sim é saudável, outra é a mudança forçada.