quinta-feira, abril 26, 2007

Amar sem apego

Eu acho que não é possível amar sem apego. Talvez um ser iluminado possa fazer isso. Nós temos que nos limitar a aceitar as nossas limitações e ir melhorando um pouco.

Quando existe uma paixão forte existe muito apego. Um sentimento de posse, qualquer coisa animal. Algo que nos faz sentir auto-centrados, egoístas. Algo difícil de aceitar. Parece contraditório, por um lado queremos o bem da pessoa que amamos, mas por outro só nos preocupamos connosco próprios, queremos a pessoa para nós. No entanto, para nós seres pouco iluminados, o mais natural quando se está com alguém é existir um misto de amor e paixão. Eu sinto que na paixão há muito de sexual. Como se só com amor não existisse a "agressividade" que é precisa para o sexo. Por isso, o melhor é aceitar as emoções negativas que vêem com a paixão. Antes isso que um amor assexuado :-). Enfrenta-las e sofre-las, até que passem. Não as evitar, destrui-las progressivamente... Se não surgissem nunca as poderíamos enfrentar!

Estou a ler um livro do Carl Rogers, um psicoterapeuta algo controverso, ao que parece. Com base na sua experiência de psicoterapeuta, ele diz no fundo da natureza humana, o que existe é um querer estar bem e ser social. Isto contraria as ideias cristãs e do Freud, tão impregnadas, de que somos essencialmente animais violentos e que temos que nos manter controlados. Por isso, todas as emoções negativas associadas ao amor romântico, não são o mais profundo que em nós existe. Fazem parte do caminho, que estamos fartos de saber que por vezes é difícil de percorrer. É preciso aceitar as dificuldades, não fugir do sofrimento e ir eliminando a negatividade em vez de a contornar.

Eu acho que qualquer situação exterior que desperte negatividade e nos permita diminuir o apego, purificando o amor, não deve ser evitada. Pelo contrário, deve ser sofrida e vista como uma oportunidade para crescer.

Isto faz-me lembrar uma ideia que gostei muito da amiga budi Isabel: devemos ver os obstáculos como se fossem muros e, em vez de contornar o muro, devemos antes derruba-lo, pedra por pedra.

5 comentários:

sa.ra disse...

eu acho que só é possível amar sem apego!

se há apego, então não é ainda amor!

é paixão, desejo, busca, consolo, necessidade, etc.

o mistério do amor é esse... a dificuldade é essa: descobrir a sua verdadeira natureza!

beijinho
dia muito feliz!

sa.ra disse...

acrescento:

é possivel amar sem apego e sentir a fruição sexual tal como ela é! vibrante!
uma coisa não anula a outra! o sexo é uma forma de ligação, e não exclusimente o magistério do prazer físico!

basta ver o Tantra - um tratado religioso, isto é, de re-ligação com e através do outro- Infelizmente foi importado para o Ocidente como o manual das mil e uma posições...

depois há que distinguir sentimentos de emoções.
as emoções são reacções aos sentimentos... pode reagir-se com posse, com apego ao alegado sentimento amor... mas se o amor é fundado na Consciência, não há reacção, apenas acção - acção de amor... e desapego!

parece sem-sal?!
:)

beijo!

Imhotep disse...

Podes mesmo experimentar um amor totalmente puro? Eu uso os termos com o significado que ouvi uma vez a Tsering atribuir-lhes. Ela também disse que um sentimento bom que temos por alguém próximo é sempre um misto de amor (querer bem) e apego (querer para mim).

Eu acho que a nossa verdadeira natureza é uma espécie de amor puro com total desapego. Mas ainda não somos só isso, não é?

Quanto ao Tantra. Entendo que o sexo possa realmente ser uma experiencia espiritual conjunta, mas não estou assim tão avançado. Para mim é ainda uma mistura, tem qualquer coisa de animal.

Mas também acredito como tu que tudo é possível, que o amor é possível, que o sexo dos deuses é possível, que a iluminação é possível...

Uma coisa que aprendi recentemente foi a não deixar que o crescimento que desejo me faça perder de vista as limitações que ainda tenho. É um equilíbrio delicado...

sa.ra disse...

Sabes, quando me falaram pela primeira vez em "matar" o ego, pensei: "não sei se quero! não sei se quero matar a emoção, o frémito"... fiquei tão assustada.. pensei que era o caminho para a "indiferença", para qualquer coisa que me anularia... que anularia o desejo... aquilo pareceu-me uma ameaça de abate... foi difícil entender...

depois, passo a passo fui percebendo e experimentado o que isso siginificava.

foi um processo longo, intenso, experiementado no quotidiano, in vivo, na pele e no sangue que me corria nas veias... muitas vezes aprendi sofrendo, sofrendo o efeito enfasto do apego...

e fui-me libertando dele, camada após camada... mas o trabalho nunca está concluído...

hoje amo sem apego. é uma amor diferente, sereno, de benquerença, mas ainda assim intenso, saboreado...
a parte animal nada tem que ver com o apego, mas com a nossa dimensão "animal" que não pode ser negada... somos corpo físico e isso deve ser aceite e vivido... a elevação jamais poderá passar pela anulação do corpo....

passa antes, acredito, pelo exercício livre e consciente - conscientemente-consciênte de que somos também e sempre corpo.

Acho que, com frequênca, as correntes espirituais tendem a induzir que devemos "anular" o corpo. Não concordo... devemos superar, ir além e integrar... isto é, incluir o corpo na dança do espírito.

às vezes lamento não ter entendido antes... mas só aprendemos quando estamos disponíveis para aprender, nem um minuto antes, nem um minuto depois...

por outro lado, o apego manifesta-se em todas as esferas, inclusive ao nível das crenças, das ideias e dos valores que cultivamos...

é um exercício muitas vezes doloroso... e retorna. retorna de forma inesperada, para abordar uma nova camada... uma nova expressão recondida, oculta de apego...

neste momento voltei à estaca zero.
porque o "quadro" mudou, e estou a lidar com coisas novas, noutra esfera, para as quais não sei nada...

é outro âmbito do apego... agarramo-nos a tantas coisas... tentamos conservar coisas que depois se revelam obstáculos, barreiras, impecilhos!

estou a zero... abri o coração ... que a vida me ensine e me mostre o caminho...

nunca nada está acabado...

beijinho

ISABEL Mar disse...

olá! Só agora é k vi a referência k fazes à analogia entre obstáculos e muros; a ideia NÃO é minha, é do meu Mestre de QiKung : ) os obstáculos devem ser vistos como muros... podemos contorná-los ou saltar por cima deles, mas o ideal é destruí-los, derrubá-los; NÃO é difícil se tivermos paciência para tirarmos pedra por pedra, tijolo por tijolo!!!