
Talvez nunca vá memorizar este nome, mas vai ser difícil esquecer a experiência de estar sentado perto dele a ouvir.
Começa por dizer que não é um mestre realizado e que nem é muito erudito. E depois conta as quatro nobre verdades como se fossem uma história, a história da nossa vida. Acompanha as ideias com exemplos adequados e divertidos. Na verdade o mais interessante não é o que disse mas sim o modo como o disse.
Sentado sem qualquer pressa, como se não tivesse chegado e nem fosse embora. Com um pequeno portátil no colo, cantarola uns mantras baixinho. Com a sala muito cheia, tive que me sentar à frente, perto do senhor monge. Pega no microfone, sem apego ou indiferença. Começa a falar, num inglês perfeito, claro, pausado. Fiquei surpreendido, como se não esperasse aquilo, vindo do Tibete devia haver alguma coisa estranha. Mas não, pelo contrário, sem quaisquer pretensões, a tranquilidade é autentica, vê-se, parecia muito familiar. Adequa claramente o que tem a dizer a quem está a ouvir, como faria o Buda. Conta as quatro nobres verdades como uma perspectiva, dizendo várias vezes "deste ponto de vista". É uma forma de vermos as coisas, nada mais.
As quatro nobres verdades: a existência do sofrimento, a causa do sofrimento, o caminho para a libertação do sofrimento, e a cessação. Descreve o estado iluminado, como sendo um estado em que não há sofrimento mental nem causas do sofrimento. É fácil ver que se pode reduzir o sofrimento e as suas causas, e talvez consigamos imaginar que desaparecem, e a mente fica totalmente livre. E para caminhar neste sentido é preciso treinar a mente, meditando.
Alguns exemplos: Quando alguém nos dirige palavras menos boas, podemos vê-las como uma flecha que fica cravada no coração. Em vez de retirarmos a flecha, pegamos nela e começamos a abrir um buraco no coração, em várias direcções. Exemplifica a ignorância, o não sabermos como lidar com as situações e o apego a falsas soluções como a reacção de cólera que nada resolve. Se alguém nos rouba o lugar do estacionamento ficamos zangados, além de ficarmos sem lugar ainda nos consegue roubar espaço na mente. Seria melhor sermos bondosos mesmo após perder o lugar. Outro exemplo de apego: alguém que quando tem sede, bebe coca-cola. Bebendo muita coca-cola não se fica sem sede, seria melhor beber água. Mas por vezes é difícil acabar com o apego, da ignorância resulta o apego, o apego a falsas soluções para os problemas. E o exemplo do futebol. O jogador italiano diz ao frances: vai para a rua, e o frances responde: está bem, eu vou. O italiano soube escolher as palavras certas para produzir o efeito desejado no frances.
Gostava de escrever tudo aqui para não me esquecer... mas não me lembro da perfeita sequência de palavras e não vou tentar. Ficam alguns exemplos, uma pequena brisa da imagem em vez de toda a experiência, que seria impossível transformar em letras.
E depois das quatro nobres verdades terminou, e o Paulo Borges, repete em português as palavras do mestre, com uma precisão inacreditável. Mas após terminar ainda dá uma sugestão:
Não interessa nada dizer que se é budista. O importante é desenvolver um bom coração. Ser bondoso não é algo que temos que fazer ou devemos fazer por razões morais. É agradável ser bondoso. Pela manhã ao acordar observa, vê se te sentes bondoso. E pensa numa pessoa de que gostas, imagina a sua cara... se for bom, se for agradável, se te sentires feliz, continua... Agora pensa que tens o mesmo sentimento por todos os seres... imagina... Não vai haver tempo para fazer outra coisa senão ser feliz...
Não consigo exprimir o que vinha com as palavras... não é possível... mas tocou-me tão a fundo... meditar e desenvolver um bom coração, é "só" isso...
