domingo, julho 16, 2006

Caminhos seguidos

Acho que "o sentido da vida é viver, viver o melhor possível, ser feliz" não é grande coisa. Afinal que orientação dá isto? O que é ser feliz? Ser o mais feliz possível? E como se faz? Claro que cada pessoa tem que encontrar o seu caminho. Pode sempre inspirar-se no caminho que outros seguiram. Eu não encontro nada mais inspirador que a filosofia do Buda, talvez pela limitação da minha forma de pensar, meio científica e sem lugar para crenças. O budismo apenas nos ensina a transformar a mente e a "ver interiormente" as coisas tal como são, o que eventualmente pode acabar com o "sofrimento mental" de uma vez por todas.

O essencial é extremamente simples e prático, e questões que não contribuem para o progresso no caminho, não interessa colocar, só servem para satisfazer uma superficial curiosidade intelectual. Como caminhar para a alegria e paz então? O sofrimento existe, é um facto, toda a gente sofre de uma forma ou de outra, a vida não parece satisfatória. E de onde vem esta insatisfação? Resulta do apego a uma ilusão que criámos. A ilusão de que existem várias entidades separadas e permanentes, especialmente eu próprio, o que gera a noção de um ser permanente que vai morrer, extinguir-se. Apegamos-nos a estas entidades, surge o desejo, a causa do sofrimento. É preciso então acabar com o desejo acabando com a causa do desejo, a ignorância. A ignorância é a ilusão criada, de um mundo de identidades que existem por si só, separadas umas das outras. É preciso ver as coisas tal como são, impermanentes, desprovidas de existência intrínseca. Todas são parte de um todo, cada coisa surgiu e vai terminar, quando não houver condições para se manter. Isto aplica-se a todos os objectos materiais mas também às formações mentais. Os pensamentos e emoções surgem e depois desaparecem, a respiração, as ondas do mar, mas também as rochas à volta do paredão, é só uma questão de tempo. Sem o "eu" e as outras entidades não pode haver apego, e sem apego não há desejo e não há sofrimento. Depois só resta o sofrimento físico, até não haver corpo.

O Buda descobriu uma forma de alcançar uma visão correcta das coisas, de modo a não haver mais lugar para sofrimento, um caminho para o fim da insatisfação: conduta ética, disciplina mental e introspecção. Cultiva-se em simultâneo o amor universal e a sabedoria. O impermanência, que em tudo existe, pode em particular ser vista em mim próprio, observação constante, mas não tensa, o caminho é o da moderação. A vida é em todo o lado, não há pressa, e o caminho leva ao desapego, ao fim do desejo e insatisfação, à paz e alegria.

Claro que compreender racionalmente a impermanência não vale de nada. É preciso ver a impermanência, a vacuidade e simultaneamente gerar compaixão. Esta forma de percepção não racional é curiosa, um bocado estranha para os ocidentais, "insight". Talvez o que chamamos sentimentos sejam o que mais se aproxima, ninguém tenta compreender racionalmente o amor, mas vê-se...

Acho que estou muito budista. O fundo do blog ficou preto, o vazio, com umas impurezas, as letras cinzentas...

Om mani padme hum

1 comentário:

wm disse...

"Claro que compreender racionalmente a impermanência não vale de nada. É preciso ver a impermanência, a vacuidade e simultaneamente gerar compaixão."

Obrigada!
Temos de falar mais...
Hoje estou por Aveiro :)
beijo