terça-feira, outubro 31, 2006

Crescer

Quero, sim quero. Poder ter o coração sempre aberto e dar, dar e desaparecer para não poder receber nada em troca. Dar a qualquer ser, sem o ter. Poder tocar qualquer pessoa, dar afecto a qualquer um, a quem nunca vi. Agarrar e dançar com qualquer pessoa, ansiosa ou tranquila, velha ou nova, bonita ou feia, saudável ou doente, perfumada ou mal cheirosa, e sentir para além do seu querer, do seu corpo, do seu cheiro, um coração igual ao meu, e ligar ao ser humano que como eu sofre. Dar um bocadinho de afecto, a qualquer ser.

A dor é tanta que parece que não a vou poder suportar mais. Mas é melhor assim, é melhor manter o coração aberto e sofrer tanto, que ficar insensível, à superfície, morto em vida. As lágrimas que não param de correr e a insuportável dor no peito são boas, são vida. A vida dói, crescer dói.

E devia fazer amor com quem quiser, com que precisar. Devia poder fazer amor com toda a gente. O sexo também pode ser uma forma de afecto. Vendo para além de todos os preconceitos deste mundo obscurecido, é uma forma linda de conectar dois seres, especialmente se não está ligado a nenhuma posse, se não há apego. Fazer amor com quem nunca se viu, encher um coração humano de alegria, e desaparecer...

Sim, quero crescer. Sofrer livremente, fazer de tudo um pouco, descer ao fundo e voltar à superfície e voltar a descer. Já não sei se o budismo me abre o coração ou fecha. Bom, a meditação faz-me chorar tantas vezes. Mas não pode ser só ficar sentado a meditar, protegido das tempestades...

E quero um lar e uma familia. Mas não para me esconder, para me proteger. Quero que o meu lar seja todo o universo e a minha família seja constituída por todos os seres. Quero ser capaz um dia de poder olhar para qualquer ser humano e ver o ser humano, é assim que quero crescer...

E quero deixar de querer... e ser só amor...

1 comentário:

Avusa disse...

Que bom que é para ti cresceres.
Que bom que é para mim ver-te crescer.

E que bom ver que voltaste a escrever.

Grande abraço.