Gostei muito de ouvir falar a Tsering. Pareceu-me tão inteligente e com tanta abertura de espírito. A perspectiva que apresentou é, para este agregado que sou eu, simplesmente a realidade. É assim que vejo as coisas, como a Tsering diz.
O sentimento positivo que temos por alguém é sempre composto de duas coisas: amor e apego. O amor é o "querer bem", nada mais. Eu quero que sejas feliz, tu queres ser feliz, e tudo está bem, há coincidência de interesses. O apego é o "querer para mim". É algo egoísta, e causa do sofrimento. Tem a ver com posse, é um "querer bem se for meu", o meu interesse é o centro, eu sou mais importante. E é a isto que usualmente se chama amor. Claro que não há coincidência de interesses, ninguém vai concordar que eu é que sou importante.
Não há sentimento de amor puro ou apego puro. É como se uma percentagem fosse amor e a restate apego. Mas é claramente do nosso interesse aumentar a percentagem de amor reduzindo a de apego. É melhor para todos se o sentimento for mais amor e menos apego.
Mas também em relação a nós próprios sentimos apego, que depois oscila entre apego e aversão. E se não nos amamos a nós próprios não podemos amar os outros. Ai vamos naturalmente parar ao "eu" que está para além do corpo e do espírito (espírito como pensamentos, emoções, etc). É esse "eu" que leva a ideia de alma, ou à doutrina budista do não-eu. Interiorizar o "não-eu" é acabar com o raiz do apego, o apego ao "eu". Bom, eu acho que pelo menos podemos reduzir o apego, cultivando o amor, no interesse de todos.
Perguntei se existirem pessoas pelas quais temos a um sentimento que é claramente mais amor que apego, pode ser útil para generalizar o sentimento para outras pessoas. Estava à espera de resposta afirmativa. Mas fiz a pergunta na mesma. Por vezes fico descontente comigo, por não conseguir dirigir o amor para todas as pessoas. Sinto como se haver pessoas especiais fosse um obstáculo à equanimidade. Se o amor é um desejo de bem a ti, que como ser humano como eu tens igualmente direito à felicidade que desejas, porque motivo surge mais naturalmente em relação a algumas pessoas? Bom, às vezes perguntas a mais não ajudam. As coisas são como são e temos é que fazer o melhor uso possível delas.
E fiquei contente com a resposta da Tsering. É muito bom que existam pessoas pelas quais sentimos amor. É pior quando não existem. Pelo que percebi, podemos usar essas pessoas em exercícios, de modo a cultivar o amor por todas. E parece-me natural. Uns vislumbres de amor puro ou quase puro, já são encontrar o sentimento, depois é "só" expandir.
E também se falou concretamente de relacionamentos. São normalmente baseados em apego. As paixões aparecem quando as pessoas nem se conhecem. Por isso estou apaixonado por uma imagem que criei, não pela pessoa, que ainda nem conheço. É o meu interesse que é projectado, a imagem que me interessa é criada, e a pessoa é minha propriedade um objecto de apego, não é ela, sou eu. E posso viver até muito tempo com a pessoa, mas é sempre com essa minha imagem. Claro que é melhor se a base do relacionamento for mais amor e menos apego. Se for menos essa projecção do meu querer e mais um conhecimento da pessoa e amor "querer bem".
E a química? Foi um momento divertido. Pelo que entendi, para um relacionamento ser bem sucedido pode começar por haver química ou não. E há químicas entre mim e várias pessoas, não apenas uma, e com outras não. Claro que, quando a base de um relacionamento é atracção física, não pode durar muito. É suposto as pessoas conviverem uma com o outra. Mas obviamente que também não podem ser sexualmente repulsivas. Hum, resumindo, a meu ver é preciso que a base seja um verdadeiro conhecimento da pessoa, e um sentimento de amor, e não uma paixão apego que não passa de uma ilusão. Mas andamos em busca do amor romantizado das histórias "e foram felizes para sempre".
É difícil resistir ao apego. Dá a sensação de que se vai perder qualquer coisa. Mas não se perde nada, só egoísmo. E ganha-se amor, liberdade, alegria. O apego possui, fecha-nos, aperta-nos, o amor é abertura, liberta.
Querer bem. Só. Querer bem e ser útil a quem se quer bem, e querer bem mesmo que não possa ser útil. É assim quando é amor, e sabe-se que é amor. E cultivar este amor "querer bem" é cultivar a felicidade, é uma alegria, é tudo, nada mais é preciso.
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7 comentários:
pus um link pra este teu texto; não me senti capaz de escrever -nem tenho objectividade- e a tua capacidade de síntese é mt boa; epá, tens uma memória... :P
'química? foi um momento divertido' - essa não foi a gozar cmg, pois não?
Oh, foi divertido para ti também.
Obrigado, mas acho que me esqueci de muitas coisas importantes de que a Tsering falou.
Tive pena de não ir no domingo. Suponho que falaram de desapego e indiferença. O amor verdadeiro que dá liberdade é usualmente confundido com desinteresse. É tipo "se não me consideras propriedade tua, é porque não gostas de mim" :-). Bom, vais escrever qq coisa sobre o que falaram?
pois, o amor é exactamente o oposto do «eu quero ser tua», isso é apego; amor é mais do tipo «eu quero ser... contigo»! mas não, não vou falar sobre isso :( desculpa, mas posso garantir-te que o desapego e indiferença não tem nada a ver. Usando uma metáfora de surf, não se trata de ficar simplesmente na praia a olhar para as ondas com indiferença, mas de as viver, só que sem sermos arrastados por elas nunca! E sem cairmos... E toda a gente sabe como isso é difícil
Sim, a tua primeira frase diz tudo... a quem a entende :-)
E a metáfora também, faz-me sentir uma saudável alegria de viver, sem apego.
Não há surfistas com vontade de agarrar uma onda e ficar sempre a andar em cima dela? Simplificava as coisas. :-)
que alegria ter a oportunidade de ler o teu blog. farto-me de aprender através de ti meu amigo :)
e estas discussões deviam ser obrigatórias... quase q lá estive :D e ajudou-me
Obrigada
PS: já me inscrevi no curso ;)
IMHOTEP mas HÁ surfistas a desejar tar sempre em cima da onda... eu kuando tou mt serena... não interessa! k giro ... o WM ou a WM (mas ia jurar k é masculino pelo 'tom') diz que devia ser obrigatório este tipo de discussões ... lol. achas mesmo? pra quê? já há tantas coisas k fazemos por obrigação; não é mt mais giro ter esta liberdade de escrever onde nos apetece e sempre e só quando nos apetece? eu adoro a liberdade... e tem tudo a ver com esta ideia de amor...
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