segunda-feira, setembro 22, 2008

A caminho

Passei o fim de semana num retiro de silêncio orientado pelo Ricardo Sasaki.

Parece-me tudo tão claro. Algumas pessoas são mais adaptadas. Querem um bom emprego, um bom carro, uma boa casa e uma família... mas há outras mais insatisfeitas. Como estou no segundo grupo para mim é clara a necessidade de mudar alguma coisa. Não é o mundo que tenho que mudar mas sim a minha própria mente.

O Budismo não me dá um sistema de crenças, não me dá respostas para nada. Mas dá-me técnicas para transformar a mente, uma orientação. O Budismo Theravada, que procura basear-se apenas no ensinamento original do Buda, parece ter uma abordagem quase científica ao problema. Parece que o Buda não era muito dado a rituais e crenças, isso surgiu depois...

Acredito na meditação, é a minha crença. Acredito que pode transformar a mente. Mesmo as tendências mais enraizadas que nos fazem sofrer, que geram insatisfação. Como o exercício físico pode transformar o corpo, a meditação pode transformar a mente. Treinado podemos ficar mais sábios. Acumular conhecimentos não nos torna mais sábios. Mas meditar pode tornar.

O caminho pode ser longo, mas o que importa não é chegar, é cada passo. É a atenção que se dedica a cada instante, a cada pressionar destas teclas, a tudo o que acontece em cada momento.

Parece tão simples. Porque é que às vezes é tão complicado? Porque é que ficamos mergulhados nesta tagarelice mental, nesta constante projecção de filmes mentais e nem sabemos o que estamos a fazer e o que está a acontecer? Porque motivo não praticamos para nos libertarmos desta tendência doentia?

Já há algum tempo que mantenho uma prática diária de meditação e este retiro reforçou a minha motivação para continuar.

A caminho...

sexta-feira, agosto 29, 2008

O optimismo do budismo

Em resumo, esta vida é insatisfatória. E podemos contar com muitas formas de insatisfação e sofrimento no futuro. Além disso não vai terminar com a morte. Não, não é assim tão simples. Vamos voltar a nascer para sofrer mais ainda. E vai ser assim por milhões de anos, se meditarmos muito. No entanto há-de chegar o dia em que não voltamos a nascer.

Mas não há problema pois só temos que lidar com o sofrimento do momento presente. Nas muitas vezes no futuro em que vamos morrer queimados, ter escaldantes metais liquidos derramados para dentro dos nossos futuros corpos, perder subitamente pessoas queridas e todas os outras imaginaveis formas de sofrimento fisico e mental, pelas quais já passamos também no passado, podemos preocuparnos apenas com o momento presente.

Não é tão bom? Saber que so temos que lidar com o presente e que um dia isto vai tudo terminar? Mas note-se que não temos que acreditar nisto porque nos dizem. É possivel ver que é de facto assim, meditando.

Ainda bem que no "fluxo de consciência individual" que passa de umas vidas para as outras não são transportadas recordações das torturas das vidas anteriores, pelo menos a nível consciente.

Será mesmo seguro meditar?

terça-feira, agosto 26, 2008

O caminho do meio


Acabei hoje de ler este livro. Parece que o encontrei mesmo na altura certa. A última das quatro sublimes verdades é "o caminho do meio". Este livro é sobre isso.

Embora simpatize com o Budismo Tibetano e o Budismo Zen, tenho claramente mais inclinação para o Theravada. Tenho lido tantos livros sobre budismo. Talvez ainda leia outros mas sinto que de certa forma este foi o último. Já não saber mais que as quatro nobres verdades e o caminho aqui descrito. Quero apenas praticar...

segunda-feira, junho 16, 2008

De scooter

Consumo: ainda não estive a medir... mas a potência da fonte é 300w e no máximo demora umas oito horas a carregar. Por isso deve bastar multiplicar o preço do kw/h por 8*0,3.

Autonomia: não medi isto devidamente, mas sempre na velocidade máxima, suponho que seja pouco mais que 40km. Como moro apenas a 10km do trabalho, não é coisa que me preocupe. Já andei até descarregar quase totalmente a bateria. Não pára de repente. Vai andando cada vez mais devagar e depois liga e desliga. Ainda fiz uns três kilometros quase sem bateria.

Velocidade: na zona de Aveiro, plana, aguenta-se a 47,5km/h com uma pessoa (70 kg) e a 45km/h com duas (120kg).

Gozo: é muito agradável saber que se está a andar no veículo mais ecológico e económico que existe. Antes desta scooter tive uma Honda Hornet 600, que andava a 230km/h. Às vezes sinto a falta daquela potência todas nas rectas, mas andar de scooter é muito agradável. Devagar é uma experiência diferente, veêm-se as coisas pelo caminho...

quinta-feira, abril 24, 2008

Scooter eléctrica



Ontem comprei uma scooter eléctrica... e estou a pensar usa-la o mais possível.

Porque raio de motivo andamos de carro, uma tonelada de ferro que polui imenso, se podemos andar num veiculo assim? Há coisas que estão ao nosso alcance...


Ainda não a tenho mas já a experimentei. É tipo andar de bicicleta sem pedalar. Não faz barulho e não deita fumo. Parece que gasta só 40 cêntimos por cem kilometros. Com tarifa bi-horária deve ser uns 20 centimos. Um carro a gasolina gasta uns 10 euros. Portanto umas 50 vezes mais. Tenho que confirmar estas contas...

Claro que uma bicicleta polui ainda menos, pois é preciso ter em conta a produção de energia eléctrica. Mas a casa é longe demais para andar de bicicleta. Nesta scooter, a 50km/h, parece razoável.


Até estou a pensar escrever num blog sobre a minha experiência com a scooter. Pode ser que leve mais pessoas a comprar e são menos umas toneladas de lixo emitido por carros...

Estão com desconto de 200 euros na Feira de Março em Aveiro:
ecomotores.

terça-feira, abril 15, 2008

Matemática Budista

Ao longo da história, foram surgindo paradigmas cada vez mais ajustados. Já se pensou que a terra era plana, depois que rodava à volta do sol, que havia muitos deuses, depois só um, que a mecânica clássica explicava tudo e depois veio a quântica e depois o paradoxo EPR... Aparentemente estamos a ficar mais próximos da Realidade. Mas existirá mesmo alguma Realidade Última? Se existir estará mesmo ao alcance da compreensão de um ser humano?

Veio-me esta ideia... Suponhamos que o meu paradigma actual é P1. Eu posso deixar algumas crenças erradas e conseguir um paradigma melhor, digamos P2. E assim sucessivamente construo uma sucessão de paradigmas (Pn). Então é só estudar esta sucessão e ver se é convergente. Se for, o limite da sucessão é a Realidade Última. Mas a sucessão ser convergente não basta, podia ser preciso uma infinidade de termos. Hum, de facto segundo o budismo esta sucessão ou é constante a partir de certa de certa ordem, ou finita, não se sabe bem o que acontece a um iluminado. :-)

Parece uma ideia parva mas não é assim tanto... Primeiro deixa implícito que é o meu paradigma que tem que mudar, ninguém me pode dizer o que é a Realidade Última, dar respostas. Depois que, independentemente da existência ou não de limite da sucessão, parece possível avaliar se estamos mais perto da zona de convergência...

Uma vida com sentido

Como é que o meu budismo dá sentido à vida?

O meu budismo não dá respostas. Não sei se há ou não vida depois da morte, não sei se a lei do karma admite excepções, em principio não existe deus mas não estou certo disso... etc. Não tenho respostas para nada.

Claro que todos temos crenças, são a base que nos permite interagir com o mundo. Eu tenho crenças. E progredir é libertar-me delas.

Mas afinal que raio de religião é esta que em vez de nos dar qualquer coisa para nos agarrarmos ensina-nos a largar tudo?

Bom, na verdade há algumas crenças, mesmo no meu budismo. Eu acredito que existem sementes boas e más em mim, e que posso regar as boas e não alimentar as más. E também acredito que se pode ir para além do bem e do mal.

Então escolho a seguinte perspectiva: vejo-me a mim próprio como uma esfera, com luz branca no centro e montes de lixo à volta. A mim e as outros seres. O sentido desta vida é ir removendo progressivamente o lixo à volta até que a luz branca se manifeste, sem obstruções.

Nem sempre sei o que é o melhor a fazer para me libertar, e aí o Caminho do Meio, orienta-me, como um mapa...

E o essencial do Caminho do Meio é para mim apenas isto:

1. Existe dukkha (sofrimento, desencaixe);

2. A causa é o desejo (o querer que seja o que não é);

3. É possível cessar o dukkha e as causas (momentaneamente, por algum tempo, talvez de vez);

4. Existe um caminho para acabar com o dukkha, o Nobre Caminho Óctuplo (um mapa).

O Nobre Caminho Óctuplo é formado por oito aspectos que se agrupam em três grupos:

I - Sabedoria (1. Compreensão, 2. Motivação);
II- Conduta (3. Fala, 4. Acção, 5. Modo de subsistência);
III- Meditação (6. Esforço correcto, 7. Atenção, 8. Concentração).

E como funciona o Nobre Óctuplo Caminho?

Orienta-nos na transformação progressiva da mente de modo a libertarmos-nos das tendências mentais perturbadoras, da parte menos boa em nós, ou do lixo em torno do centro luminoso da esfera.

As perturbações mentais (por exemplo a raiva) existem em três níveis diferentes:

1) latente (exemplo, raiva por despoletar),

2) manifesto (exemplo, sentir raiva),

3) transgressão (exemplo, agir ou falar movido pela raiva).

O grupo II do caminho (conduta ética) permite-nos lidar com os níveis 2) (manifesto) e 3) (transgressão) e o grupo III (meditação) com o nível 1) (latente). O grupo I (sabedoria) é o ponto de partida e o objectivo do caminho, o auto-conhecimento, a sabedoria e compaixão.

A ideia é cultivar os oito aspectos em simultâneo...

Então basicamente tenho que me portar bem (grupo II; porque é vantajoso para mim e para os outros, não é porque senão deus castiga), tornar-me sábio (grupo I; que é basicamente ver mais longe a interdependência, e ser compassivo, em vez ter visões curtas e atribuir culpas) e meditar (grupo III; sentado e atenção plena durante o dia).

Assim tenho a salvação garantida! Se existir Deus vou para o céu. Se há renascimentos tenho garantido um bom renascimento. Se a vida terminar com a morte também está bem pois vivo uma vida com sentido.

Ah, a expressão "Caminho do Meio" é para aplicar a tudo. Não há interesse em ser demasiado sério nem demasiado a brincar, é sempre pelo Meio!

segunda-feira, abril 14, 2008

Curso do Sagara

Participei no segundo nível do curso de meditação do Sagara na UPB Porto... Já foi há uma semana que terminou.

Há tantas religiões, filosofias, espiritualidades... E tanta gente desorientada, sem saber bem para onde se virar. Eu desde que conheci a história da vida do Buda nunca tive grandes dúvidas, a base do meu caminho nesta vida é o Budismo.

Algumas pessoas sentem-se mais ligadas aos aspectos mais esotéricos do Budismo, a rituais e a crenças. Mas o Sagara, que é Budista, parece a pessoa menos religiosa que conheço. No sentido mais usual da palavra.

Para escolher um caminho, além de ter que fazer sentido intelectualmente, é fundamental ter em conta o que ele fez à pessoa que o sugere. Talvez tenha um efeito semelhante em nós.

A concentração, clareza de discurso, bom humor e abertura de espírito do Sagara quase que nos deixam iluminados só com o curso!

A forma como propões o Octuplo Caminho, faz todo o sentido intelectualmente. Voltei a meditar regularmente e sinto-me orientado e com vontade de participar num retiro.

Quem por vezes sente que a vida não tem sentido, quem se identifica com a filosofia do yoga mas não é dado a crenças e em particular não acredita em Deus, tem que fazer um curso com o
Sagara!

quarta-feira, abril 02, 2008

Vida

Eh, e um gaijo que pensa como eu acerca da vida! :-)

"All conditioned things are impermanent" - When one sees this with wisdom, one turns away from suffering. This is the path to purification. -

Buddha...

Moda

Olha que fixe, um gajo que pensa o mesmo que eu da moda :-)

Fashion is a form of ugliness so intolerable that we have to alter it every six months.

Oscar Wilde