quinta-feira, setembro 08, 2011

Yoga Artístico


No mundo do yoga existem inúmeras escolas, mestres, linhagens, métodos, estilos. Há yoga para todos os gostos. Na prática de posturas há estilos mais estáticos em que abundam permanências e outros mais dinâmicos. A prática pode ser fisicamente leve ou extremamente exigente.


Há todo o tipo de religiões, filosofias e crenças associadas ao yoga. Num extremo existem as práticas extremamente esotéricas, o mundo pode estar povoado de deuses, energias, mantras e cores mágicas ou palavras sagradas. Noutro extremo há a prática em que se procura apenas estar presente, atento ao que está a acontecer. Em qualquer caso, uma das poucas coisas que parecem consensuais no yoga é que deve existir algum trabalho mental, ou espiritual, e não apenas físico.


Apesar de muitas escolas de yoga estão associadas a religiões ou filosofias, usualmente Hindus e Budistas, existem algumas mais abertas que não estão associadas a uma filosofia particular. Eu gosto de pensar que pelo menos o essencial da ética dos Yoga Sutras e do Caminho do Meio Budista, é algo comum às várias escolas. É pelo menos é esta a imagem do yoga que o Yoga Journal nos dá do yoga em geral.


É extraordinária a quantidade de designações de yoga existentes. Muitas designações parecem ser usadas por várias pessoas e desenvolvidas ao mesmo tempo de forma independente, como o Power Yoga ou o Acro-Yoga. Ainda agora pesquisei “Artistic Yoga” no Google e apareceu uma página do Bharat Thakur, como criador do Yoga Artístico (http://www.artisticyoga.com). Talvez existam ainda mais criadores do Yoga Artístico. Seja como for parece existir muito trabalho com qualidade em torno no yoga desenvolvido por inúmeras pessoas ao longo de muito tempo.


Dois dos aspectos que me agradam na escola de Yoga Integral, onde fiz a formação como professor de yoga, são a abertura de não estar associada a nenhuma religião e o excepcional cuidado e trabalho em torno da prática de posturas de yoga. Já vi outras coisas muito diferentes nestes dois aspectos.


Costumo praticar coreografias do Yoga Artístico fundado pelo Estevez Griego, conhecido no mundo do yoga como Swami Maitreyananda (http://www.artisticyoga.org). É um estilo de prática, dentro do Yoga Integral, em que se pretende estabelecer uma ligação entre o yoga e a arte. Há estilos de yoga em que se praticam coreografias fixas, como no Asthanga Vinyasa. No yoga artístico são criadas coreografias apropriadas para cada praticante. O resultado natural é uma prática fluída e bonita. Nesta prática, individual, em pares ou em grupo, ao ritmo da música, existe muita magia, é uma forma de expressão artística e de estar plenamente no aqui e agora. O resultado pode apenas sentir-se belo ou ser realmente muito belo, como mostram esta mulher e este homem.


Existem há muitos anos campeonatos de Yoga Desportivo. Além de método de prática, o Yoga Artístico, pela sua beleza, presta-se naturalmente para demonstrações e para estas “competições”. Surge assim o Yoga Desportivo. Pretende-se que a avaliação nestes campeonatos não seja como nos outros desportos. Como eu entendo, o espírito é mais de comemoração e partilha do que competitividade. Pretende-se que a avaliação seja espiritual. É assim por exemplo mais importante a alegria demonstrada pelo participante do que a sua flexibilidade. Claro que na prática não se pode definir como ou fazer objectivamente uma avaliação espiritual das pessoas, e assim avaliam-se as coreografias procurando ter em conta a espiritualidade. Mas na verdade, do meu ponto de vista, não importa muito quem ganha, se a atitude for apropriada todos ganham.


Ainda só participei em dois campeonatos mas conto participar em breve no campeonato Europeu de Yoga Desportivo, que já é o 13º e vai ser na Bulgária. Engraçado que, como a maior parte das pessoas interessadas por yoga, comecei por achar os campeonatos de yoga um perfeito disparate. O problema é que estamos muito centrados na cabeça. Claro que não é nada assim, como se pode ver por estes filmes do Campenato Português de Yoga Desportivo, foi o primeiro e realizou-se este ano em Aveiro: http://www.youtube.com/yogaarte. Na foto está a minha pequena yogi, que também participou.

quinta-feira, abril 07, 2011

Todas as emoções são dor?


Quando reflectia sobre a frase “todas as emoções são dor” apareceu na minha mente esta imagem, que embora não seja nova, surgiu agora como muito clarificadora.

Estou no mar, no meio das ondas. É óbvio que não consigo mudar as ondas do mar, por muito que seja a minha força de vontade, as ondas simplesmente não vão mudar a meu gosto. As ondas são as emoções. Elas simplesmente vão surgindo, não sou “eu” quem decide faze-las aparecer.

Se não estou atendo, no meio das ondas, surge de vez em quando uma onda violenta que me arrasta com força às cambalhotas e eventualmente atira-me contra a areia ou contras as rochas. Quando uma onda destas me atinge, estando assim distraído, não há nada a fazer, não dá para sair de toda aquela força que me arrasta e me domina. E além de todo o sofrimento que já existe neste percurso violento, por vezes ainda culmina num arremessar contra a areia ou mesmo contra as rochas. Assim é quando perdemos a visão do todo, estando completamente identificados com uma emoção destrutiva, completamente à mercê desta onda violenta. E além de todo o sofrimento que isto é por si só, permitimos por vezes que tenha consequências ainda piores. Estando atento talvez podesse ter mergulhado a tempo, passando por baixo da onda e evitando todo este sofrimento, ou talvez não.

Por vezes conseguimos apanhar uma boa onda e é muito bom apanhar uma onda destas. Mas mesmo aqui existe sofrimento, há tensão, há um saber que vai terminar, e pode haver uma inabilidade para sair da onda atempadamente, mais uma vez vem um arremesso contra a areia ou contra as rochas. E a seguir vem a ânsia por uma nova onda como esta, por mais deste prazer.

Este brincar nas ondas é o jogo da vida. Seja qual for a nossa actividade neste momento, as ondas continuam a surgir. Podemos estar distraídos e ser violentamente arrastados por elas. Ou podemos aprender sobre as ondas, observar, estar atentos. Podemos aprender a apanhar as boas ondas e a sair delas na altura certa. Estar atento não significa ser “controlado”, não há maneira de ficar estático no meio do mar, há sempre movimento, temos que acompanhar o movimento.

Não há maneira de parar as ondas, apenas podemos observa-las, aprender com elas informando a nossa intuição. Aprender a estar no mar quando as ondas estão boas e nas difíceis tempestades. E para aprender as ondas é preciso notar que existem, que por vezes nos levam, é preciso observar, é preciso meditar.

Isto parece tudo obvio mas o que é facto é que estamos quase sempre a fazer força para que não venham ondas que não gostamos, e para que venham daquelas ondas que gostamos. E por outro lado andamos distraídos, somos arrastados, e depois o mundo deixa de ser mundo, perde todas as cores, passa a ter apenas a cor daquela onda violenta que nos levou, e isto pode ter consequências desastrosas. Talvez todos males da humanidade advenham daqui. Da inabilidade dos homens para lidar com as ondas do mar.

sábado, abril 02, 2011

Yoga: uma religião para viciados sexuais



Voltei a encontrar na net este divertido artigo sobre Yoga e desta vez guardo aqui o link, que é de partir a rir.

Alguém que define o Yoga como "uma religião que ensina os seus praticantes a contorcer os seus corpos em posições deomoniacas com o objectivo ultimo de serem capazes de colocar os seus orgãos genitais nas suas bocas".






sexta-feira, dezembro 03, 2010

Ser mestre de si próprio


No passado fim de semana fizemos um retiro de meditação sem mestre. O mini-retiro começou na sexta à noite e terminou no domingo ao fim da manhã.

Cinco pessoas e um programa impresso numa folha, que consistia essencialmente em alternar meia hora de meditação sentada com meia hora de meditação a andar. Tivemos também duas sessões de yoga. A meditação no sábado foi intensiva, das 7:30 da manhã às 10h00 da noite.

Também lemos um texto sobre o Kalama Sutta, onde o Buda refere a importância de não aceitarmos algo, mesmo que seja ele próprio a dizer, sem validarmos com a nossa própria experiência. O texto chamava a atenção para a importância do "inquérito", do questionamento, da observação.

Até voltei a ler um pouco de Krishnamurti. Acho que uma pitada faz bem a toda a gente. Um extracto do conhecido discurso da Dissolução da ordem da Estrela: "Eu sustento que a Verdade é uma terra sem caminhos e dela não podereis vos aproximar por nenhum caminho, por nenhuma religião, por nenhuma seita."

É forte a tendência que as pessoas têm para seguir alguém, em vez de procurarem ser uma luz para si próprias. Existem muitos seres inspiradores mas em última instância cada um tem que ser mestre de si próprio e tem que ter a coragem de não se sujeitar a nenhuma forma de autoridade. Ninguém nos pode dizer o que fazer. Temos que ser nós próprios... em silêncio.

terça-feira, novembro 23, 2010

Workshop com Swami Maitreyananda e Campeonato Europeu de Yoga Artístico


Foi em Lisboa, no fim-de-semana passado. Finalmente percebi o que é uma linhagem do yoga. Não são conhecimentos, não são técnicas que passam, mas sim uma arte: a arte de ser feliz. É isso que o Estevez Griego passa as pessoas, com o seu genial sentido de humor aliado ao vasto conhecimento sobre Yoga.

Eu não entendia porque motivo a prática do Yoga Artístico me faz tão feliz. Existem várias formas de Yoga Artístico. A forma que pratico consiste essencialmente em explorar a beleza das posturas do yoga criando coreografias fluidas que envolvem posturas de yoga e cuidadas transições entre posturas, com roupas coloridas e música. É a prática em si que funciona, nem importam os resultados. Quando exprimimos através da arte o melhor que existe dentro de nós, somos flores que desabrocham. Nem importa muito se fazemos posturas de yoga muito bem ou não. É mesmo apenas a atitude, a intenção com que o fazemos. Expressar o que existe de belo em nós, deixar a criança interior sair e brincar, apenas fazer, sem pensar porquê. Na verdade continuo sem entender bem como funciona o Yoga Artístico. Só sei que esta prática, aliada a uma acção pura e bem-intencionada, me tem movido da mente para o corpo, do que penso para o que sinto, do dukkha para o sukha. Não me lembro de viver tão feliz, durante tanto tempo, em toda a minha vida…

E entendo agora que não são palavras que passam. E sinto-me muito grato ao Estevez, quem criou o Yoga Artístico, uma pessoa extraordinária que tive o privilégio de conhecer melhor este fim-de-semana, que iniciou a Juliana Brod nesta arte, outra pessoa extraordinária, que foi quem me tocou com o Yoga Artístico, com quem pratico, quase diariamente.

Foi também o 12º Campeonato Europeu de Yoga Artístico este fim-de-semana. Foi um grande desafio para mim participar. Os nossos resultados foram muito bons. Várias medalhas de prata e ouro! A Juliana ficou em primeiro lugar no Yoga Artístico individual, como era de esperar. E somos os dois campeões europeus de Yoga Artístico em pares! Não havia muitos participantes, mas estou determinado a promover o Yoga Artístico Desportivo (a variante direccionada para a “competição espiritual”) para divulgar o Yoga Artístico. Acredito que, tal como eu, devem existir outras pessoas para quem esta prática encaixa perfeitamente. No próximo ano deve ser na Bulgária. Estou lá caído!

segunda-feira, agosto 02, 2010

Pedro Kupfer e Advaita Vedanta


Ontem fui à Casa Ganapati a um Sat Sanga.

Foi muito boa a sessão de kirtans mas o que me impressionou mesmo foi a conversa do Pedro Kupfer. Foi absolutamente brilhante. Até vi uma aura em torno dele no fim da conversa (e eu não acredito nestas coisas! :-) ).

Fiquei muito curioso em relação ao Advaita, de que não sei grande coisa. É umas das filosofias hindus, não dualista. A noção de Ishvara, do modo como o disse, que suponho seja a visão do Advaita, é uma noção de "Deus" que parece servir inclusive a ateus e budistas. Um principio único que existe em tudo, que inclui as leis naturais como a gravidade... Existirão diferenças essenciais entre advaita e budismo?

"Nós já somos plenos. Somos Ishvara. Somos plenos na alegria e na tristeza. Existe um abismo entre aquilo que somos e aquilo que pensamos que somos ou devíamos ser, devido aos condicionamentos ao longo da nossa vida."

Acho que "aquilo que somos" pode ver-se como atman ou como a natureza de buda.

Também fiquei curioso em relação à Ética de Espinosa que parece ter notáveis semelhanças com a filosofia Advaita. Tenho ouvido falar tanto de Espinosa mas nunca li um livro completo.

E agora... Andanças!!!



segunda-feira, maio 03, 2010

Palestra "Prática do Dharma"

Ontem dei uma palestra no espaço de Yoga, com este título, a mesma que preparei para o curso de Yoga Integral que estou a frequentar. Apareceu muita gente, apesar de não ter divulgado publicamente. Foi interessante e divertida a sessão de perguntas e conversa após a apresentação. O primeiro slide com o resumo:

Buda (O que descobriu)

O problema da palavra “Budismo” (Kalama Sutta)

Budismo (Quatro Nobres Verdades e Caminho do Meio)

Meditação (Os Dois Pilares)

Budismo e ciência (Em sintonia)

Prática Budista não Budista (O essencial)

quarta-feira, abril 28, 2010

Sofrimento outra vez


Nesta vida existe sofrimento, todos os dias, em cada instante! Alguns dias mais que outros. E isto é absolutamente normal.

Desde que ouvi falar do Buda que entendi que não quero caminhos de felicidades. É tão cansativo fingir que o sofrimento não existe. Vejo tantas estratégias de tanta gente, mais ou menos refinadas para tentarem manter-se na crista da onda, sempre em frenética actividade e em grande esforço. Vão morrer a correr ou parar um dia? As ondas sobem e descem!

Por falar em ondas, hoje já está bastante calor, é altura de voltar ao bodyboard...

segunda-feira, abril 26, 2010

Dhukka


De tempos a tempos volto à primeira nobre verdade: dhukka.

Existe sofrimento na existência humana. Estamos sujeitos à dor, envelhecimento, doenças e morte. E podemos tentar ignorar isto com distracções ou procurar viver a vida em pleno, também o sofrimento.

Raramente olho para a televisão, mas ontem à noite olhei para um daqueles programas que mostram como a vida das vedetas de televisão é plena de felicidade. Ficando a olhar para a televisão esquecemos facilmente que a nossa própria existência tem sofrimento. Talvez a solução seja ficar sempre a olhar para a televisão, fugir à vida e um dia morrer sem ter vivido...

Do mesmo modo que nos podemos abrir à dor física e notar cada sensação até que fique apenas a dor deve ser possível notar no corpo o sofrimento mental até que fique só o sofrimento mental. O que quer isto dizer?



terça-feira, abril 13, 2010

Onde está o bebé? Cá está ele!


Às vezes o bebé chora profundamente e grita... em silêncio. E não sabemos o que quer, o que tem, que mal o aflige...