sexta-feira, junho 19, 2009

A impermanência e os bidés

Tinha acabado de ler uma frase neste livro que dizia que inicialmente o asana era apenas encontrar uma postura sentada que nos permitisse estar muito tempo sentados em meditação sem desconforto físico.

A pensar sobre se deveria meditar sentado ou a fazer posturas de yoga, sentei-me neste bidé. Subitamente o bidé parte-se. Montes de sangue, um grande golpe, quatro pontos... Tive muita sorte com o lugar do corte.

Sábado de manhã, dia 13 de Junho... Aprendi na pele o que significa a impermanência, a fragilidade desta vida humana. Em qualquer instante tudo pode mudar. Subitamente os nossos dilemas deixam de fazer sentido. Mesmo sentado num bidé! Não podemos contar com nada como garantido...

sábado, junho 06, 2009

Yoga, Meditação e Budismo



Às vezes sinto a prática das posturas do yoga apenas como uma preparação física para a meditação a seguir. Toda a gente sabe que Asana não é só físico. Mas quem faz realmente meditação na prática de Asana?


“Two early sutras in which the Buddha gave meditation instructions are the Anapanasati (Awareness of Breathing) and the Satipatthana (Establishing of Mindfulness) sutras. In the Southern (Theravada) tradition of Buddhism these sutras are still considered the most important texts on meditation practice. […]
From my first introduction to these sutras, their incredible value for asana practice has been apparent to me - lifting the physical practice of asana from a mere preparatory role for meditation into a real and deep meditation practice itself." - Frank Jude Boccio.

Estou a ler novamente este livro. Diz o Georg Feuerstein: "This book should be read by every aspiring yoga practitioner."

segunda-feira, junho 01, 2009

Ter fé

Desde que fui ao retiro com o Ricardo que medito todas as manhãs 45 minutos, logo ao sair da cama. Nos últimos dias tem sido difícil. Parece que a mente se está a tornar cada vez mais hábil na criação de distracções.

Observar o ar nas narinas não é interessante. É preciso inventar histórias, criar fantasias. Mas o problema é que as histórias não estão a acontecer. O movimento da respiração no corpo imóvel está a acontecer. Afinal o que é interessante? Viver em sonhos ou viver o momento em que de facto se está vivo?

Em cada momento respiro. Em cada instante estou vivo. Não é preciso esperar pelo prazer do almoço, ou de um encontro, pela conclusão do que estou a escrever, ou qualquer outra coisa.

Há sempre uma pequena ânsia de concluir o que se está a fazer para fazer algo a seguir. E quero que os 45 minutos passem, que os dias passem, que esta emoção me deixe, que tudo passe.

Mas o que vem a seguir? Mas o que há de interessante "a seguir"? Porque motivo caminhamos com ânsia de chegar? Afinal chegamos onde? Não estaremos sempre aqui? Porque é que o próximo passo é melhor que este?

Não poderemos mesmo estar onde estamos, sem querer o que vem a seguir e sem inventar prazeres em mundos ilusórios?

Pode mesmo a mente ser treinada para estar eternamente presente, no tempo e no espaço, focada, descontraidamente atenta?

Eu estou a com fé numa técnica, que o Buda ensinou. Chama-se Anapanasati.

terça-feira, maio 26, 2009

A fórmula da felicidade


O Ricardo Sasaki, professor de Buddhismo Theravada, passou-nos a seguinte fórmula no mini retiro que fizemos em Gaia, de 16 a 18 de Maio.
Esta fórmula matemática (que gentilmente me dedicou por causa de eu ser matemático :-) ) garante a Felicidade:

C = 2I + 2A = V

Conhecimento correcto
Impermanência
Interdependência
Aceitação
Apreciação
Vida iluminada

Fica aqui a fórmula para não nos esquecer-mos. É uma brincadeira mas também é uma coisa séria.

Este retiro, embora curto, mudou radicalmente o meu estado de espírito e tenho conseguido manter uma prática de meditação diária.

Agora espero manter a prática e continuar membro do Nalanda, procurando entender e praticar o essencial do ensinamento do Buddha, com o inspirador apoio do Ricardo.


sexta-feira, abril 03, 2009

rebirth

"The Buddha refused to have any dealings with those things which don't lead to the extinction of Dukkha. Take the question of whether or not there is rebirth. What is reborn? How is it reborn? What is its kammic inheritance? (kamma-is volitional action by means of body, speech or mind.) These questions are not aimed at the extinction of Dukkha. That being so, they are not Buddhist teaching and they are not connected with it. They do not lie in the sphere of Buddhism. Also, one who asks about such matters has no choice but to indiscriminately believe the answer he is given, because the one who answers is not going to be able to produce any proofs, he's just going to speak according to his memory and feeling. The listener can't see for himself and so has to blindly believe the other's words. Little by little the matter strays from Dhamma until its something else altogether, unconnected with the extinction of Dukkha."

Buddhadasa Bhikkhu

quarta-feira, março 18, 2009

Meditação na Universidade de Aveiro

Desde o dia 10 de Fevereiro que um pequeno grupo de pessoas se junta na Universidade de Aveiro para meditar.

Sempre me pareceu que um seminário na Universidade é um lugar ideal para a prática de meditação. Conversamos com o Padre Alexandre que gentilmente nos acolheu e nos autorizou a usar uma salinha no CUFC (Centro Universitário Fé e Cultura) todas as terças das 18 às 19:30.

O grupo não é Cristão nem Budista nem de outra religião qualquer. O que nos une é apenas o interesse pela meditação e a vontade de praticar em grupo.

Não existe nenhum mestre no grupo. E os encontros têm corrido bem assim. Sem nenhuma espécie de planeamento o que tem acontecido é uma prática de meia hora de meditação sentada (alguns no chão outros em cadeiras) seguida de uma prática de meditação a andar (uma volta à sala, lentamente) e depois conversamos um bocadinho.

As principais fontes de inspiração do grupo actual talvez sejam o Budismo (da tradição Theravada) e Krishnamurti. Mas a ideia é manter o grupo aberto a quem tem interesse por meditação. O espírito não é de cultivo de crenças mas sim de abertura...

Quando aparece alguém sem experiência da meditação (já aconteceu) alguém no grupo dá indicações.

Para praticar connosco basta aparecer na entrada do CUFC (ao lado do seminário) às terças entre as 18:00 e as 18:10.

terça-feira, novembro 04, 2008

A morte

Foi a consciência de que a morte existe, assim como o envelhecimento e as doenças, e o sofrimento em geral, o mais importante que me aconteceu quando me comecei a interessar por budismo. Isto é essencial na vida e, assim como eu, todos os outros estão sujeitos ao mesmo! Isto originou em mim uma profunda mudança de perspectiva. Podia não ter passado de mais uma frase: "todos os seres sofrem". Mas não foi assim.

E essa mudança de perspectiva solucionou os meus mais terríveis problemas na vida: a condução agressiva e a timidez. Note-se que estes dois problemas juntos tornavam dificil o meu encaixe no DSM IV pelos especialistas de saúde mental. Não tinham etiqueta para me colocar, eheh.

Por isso para mim a consciência de que a morte existe é essencial. É algo a ter presente. A alternativa é arranjar distracções e evitar pensar nisso. Mas não me satisfaz.

No entanto, embora nesta margem não haja duvida de que existe a morte, parece que na outra margem, de algum modo não existe esta morte. Consigo imaginar que se eu conseguir "ver" que de facto tudo morre em cada instante, que eu morro e renasço em cada instante, então talvez se atenue esta distinção entre as "pequenas mortes" que a todo o momento ocorrem e a "grande morte" final.

Mas como diria o Buda, especular sobre o que é a iluminação não é conducente à iluminação. Nesta margem é claramente vantajoso estar consciente da morte e do sofrimento. Vamos remover a seta ou ficar a imaginar como vai ser bom quando ela for removida?

segunda-feira, setembro 22, 2008

A caminho

Passei o fim de semana num retiro de silêncio orientado pelo Ricardo Sasaki.

Parece-me tudo tão claro. Algumas pessoas são mais adaptadas. Querem um bom emprego, um bom carro, uma boa casa e uma família... mas há outras mais insatisfeitas. Como estou no segundo grupo para mim é clara a necessidade de mudar alguma coisa. Não é o mundo que tenho que mudar mas sim a minha própria mente.

O Budismo não me dá um sistema de crenças, não me dá respostas para nada. Mas dá-me técnicas para transformar a mente, uma orientação. O Budismo Theravada, que procura basear-se apenas no ensinamento original do Buda, parece ter uma abordagem quase científica ao problema. Parece que o Buda não era muito dado a rituais e crenças, isso surgiu depois...

Acredito na meditação, é a minha crença. Acredito que pode transformar a mente. Mesmo as tendências mais enraizadas que nos fazem sofrer, que geram insatisfação. Como o exercício físico pode transformar o corpo, a meditação pode transformar a mente. Treinado podemos ficar mais sábios. Acumular conhecimentos não nos torna mais sábios. Mas meditar pode tornar.

O caminho pode ser longo, mas o que importa não é chegar, é cada passo. É a atenção que se dedica a cada instante, a cada pressionar destas teclas, a tudo o que acontece em cada momento.

Parece tão simples. Porque é que às vezes é tão complicado? Porque é que ficamos mergulhados nesta tagarelice mental, nesta constante projecção de filmes mentais e nem sabemos o que estamos a fazer e o que está a acontecer? Porque motivo não praticamos para nos libertarmos desta tendência doentia?

Já há algum tempo que mantenho uma prática diária de meditação e este retiro reforçou a minha motivação para continuar.

A caminho...

sexta-feira, agosto 29, 2008

O optimismo do budismo

Em resumo, esta vida é insatisfatória. E podemos contar com muitas formas de insatisfação e sofrimento no futuro. Além disso não vai terminar com a morte. Não, não é assim tão simples. Vamos voltar a nascer para sofrer mais ainda. E vai ser assim por milhões de anos, se meditarmos muito. No entanto há-de chegar o dia em que não voltamos a nascer.

Mas não há problema pois só temos que lidar com o sofrimento do momento presente. Nas muitas vezes no futuro em que vamos morrer queimados, ter escaldantes metais liquidos derramados para dentro dos nossos futuros corpos, perder subitamente pessoas queridas e todas os outras imaginaveis formas de sofrimento fisico e mental, pelas quais já passamos também no passado, podemos preocuparnos apenas com o momento presente.

Não é tão bom? Saber que so temos que lidar com o presente e que um dia isto vai tudo terminar? Mas note-se que não temos que acreditar nisto porque nos dizem. É possivel ver que é de facto assim, meditando.

Ainda bem que no "fluxo de consciência individual" que passa de umas vidas para as outras não são transportadas recordações das torturas das vidas anteriores, pelo menos a nível consciente.

Será mesmo seguro meditar?

terça-feira, agosto 26, 2008

O caminho do meio


Acabei hoje de ler este livro. Parece que o encontrei mesmo na altura certa. A última das quatro sublimes verdades é "o caminho do meio". Este livro é sobre isso.

Embora simpatize com o Budismo Tibetano e o Budismo Zen, tenho claramente mais inclinação para o Theravada. Tenho lido tantos livros sobre budismo. Talvez ainda leia outros mas sinto que de certa forma este foi o último. Já não saber mais que as quatro nobres verdades e o caminho aqui descrito. Quero apenas praticar...