Parece que os budistas não temem a morte. Nem põem em causa se há mesmo renascimento, a coisa integra-se muito naturalmente na filosofia deles. Mas não é por haver renascimento que não temem a morte. De facto, conseguindo atingir o nirvana, não se renasce mais. A ideia é portanto "morrer de vez".
Às vezes parece-me que, por instantes, entendo qualquer coisa... Não há nada de permanente, renasce-se a cada instante nesta vida, não sou o mesmo de um instante para o outro, nem sou diferente. Sou apenas a combinação dos cinco grupos (matéria, sensações, percepções, formações mentais e consciência), os quais estão constantemente em mudança, não se mantendo iguais por dois momentos consecutivos. A todo o momento nascem e morrem.
Um ser é a combinação dos cinco grupos, de energias físicas e mentais que não deixam de existir quando o corpo físico deixa de funcionar. "O querer, a intenção, o desejo, a sede de existir, de continuar, de se tornar cada vez mais e mais, é uma força tremenda que movimenta vidas inteiras, existências inteiras, e move até o mundo no seu todo. Esta é a mais poderosa força, a mais poderosa energia do mundo." Esta energia continua a existir quando o corpo deixa de funcionar, manifesta-se noutra forma, produzindo re-existência. O ciclo de continuidade permanece enquanto existir esta força motriz. Poderá unicamente ser interrompido quando a "sede" for eliminada pela sabedoria. Quando se "vê" a verdade a "sede" termina. Nirvana.
Não há alma! Portanto nada de permanente, imutável, passa de um momento para o seguinte. Assim, nada de permanente ou imutável passa de uma vida para a seguinte. Um homem de sessenta anos não é a mesma pessoa que a criança de há sessenta anos, nem uma pessoa diferente. O mesmo acontece com uma pessoa que morre aqui e renasce noutro lugar.
Alguns entraves a compreender o pensamento budista são claros, outros nem tanto. Para a ciência não há mais que matéria, leis físicas: morre o corpo, morre o cérebro e o autómato finito pára. Aplicamos sempre o princípio do terceiro excluído, e algumas coisas, bom, não sabemos provar. Mesmo quem não é crente tem o pensamento afectado pela ideia de existir alma, qualquer coisa de transcendente, permanente, que existe além do corpo, um "eu". Não se suporta a impermanência, a não existência intrínseca... Não há um "eu" que se perde com a morte, talvez baste "ver" isto.
Hum... tanto interesse tenho pela morte. A ideia não é andar a pensar em coisas tristes. A morte existe, e pode-se aprender a ve-la de outras formas. Não pensemos nisso, não me satisfaz... Acho que quero viver no presente mas com a visão do conjunto... deve ser da idade avançada... a morte aproxima-se...
sábado, janeiro 21, 2006
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