segunda-feira, junho 27, 2005

Dois dias na Barra

Não sei bem o que me leva a escrever coisas sobre mim num blog que todas as pessoas podem ver. Terei a presunção de poder escrever alguma coisa que interesse a alguém? Vou só contribuir para o aumento do lixo na internet mas na verdade nem quero saber...

Há dois dias que vivo na Barra, sozinho num apartamento vazio, sem água e sem luz. No quarto tenho uma espuma fina para dormir e uma mala com roupa. Também tenho um rádio, um tapete para o yoga e uma almofada indiana. Ouço musica relaxante, medito e faço yoga. Sinto-me bem sozinho no quarto e sozinho no meio dos veraneantes alegres que não conheço. Não sei o que aconteceu ao medo da solidão, se esta paz e este sossego, que não me lembro de ter antes, vão durar.

O apartamento vazio faz-me lembrar o inter rail. Recordo-me de pensar que podia andar de comboio a vida toda, a improvisar, sem conforto, sem nada, sem parar. Uma almofada e uma parede branca...complicar para quê? É um apartamento Zen e quero que continue assim.

Ontem resolvi nadar até à Costa Nova. Em menos de meia hora fiquei cheio de frio e saí da água, não cheguei à Costa. Estava um nadador salvador à minha espera, zangado. Parece que me acompanhou durante todo o percurso. Ainda lhe expliquei que nadava longe para não incomodar os surfistas, mas não adiantou, ficou zangado na mesma. Suponho que também não ia adiantar se lhe explicasse que não me importava de morrer afogado. Fosse morrer para uma praia não vigiada. Hoje fui novamente a caminho da Costa Nova, as ondas estavam pequenas e pude nadar perto da costa evitando os surfistas e os nadadores salvadores...mas não o frio. Não avancei para além da meia hora, mas desta vez voltei a nadar, mesmo com frio. Nunca vou chegar à Costa Nova, desisto. Talvez com um fato térmico conseguisse contornar os surfistas, evitar os nadadores salvadores e vencer o frio, mas assim não tinha interesse.

É bom sair de casa à noite e percorrer o paredão, fica-se no meio do mar. O mar à noite faz-me sempre sentir um arrepio no peito e sonhar com histórias de marinheiros e tempestades no mar alto. Mas não gosto das pontas do paredão, no início há o barulho dos bares e no fim o cheiro a mijo. Divertem-me os casais que por lá passeiam no escuro, fazem-me lembrar da intensidade das paixões acabadas de nascer...condenadas quase sempre a uma curta existência.

Vou voltar para lá...

3 comentários:

Vânia Carlos disse...

Como ousas invadir o meu paredão, esse espaço que me é tão especial?... entre o início turbulento e o final que me impede de avançar mais ainda, é o local que melhor acolhe as minhas emoções, que me deu momentos de nítida sensação de pertença, de fusão, de felicidade...
Tantas vezes por lá vagueei a pensar porque tantas pessoas se cruzam, passeando nesse duro bloco de cimento, com resquícios de muralha, e raramente se encontram... procuram algo, ou alguém, mas afinal, lá bem no fundo não há nada... porque não se olham então nos entretantos, entre início e fim??... porque não se acolhem e vão ver o mar???...

Imhotep disse...

Também te sentas naqueles banquinhos a contemplar a linha do horizonte e a ouvir o mar a bater mas rochas?

Vânia Carlos disse...

Sim... sou definitivamente dessas!!!...