sexta-feira, dezembro 07, 2007

A vida de Buda

Alguém colocou o documentário da BBC que me chamou a atenção para o Budismo no youtube! É muito bom...

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Pornografia


Houve tempos em que se adoravam esculturas de pénis em procissões. Simbolizavam a energia sexual, uma dádiva para apreciar. Tempos em que se esculpiam cenas de orgias nos monumentos... Depois surgiu o culto do espírito em detrimento do corpo. O corpo tornou-se uma coisa suja, o sexo motivo de culpa. A saudável celebração do sexo foi substituída por uma doentia propagação do culto da culpa.

Terminada a breve introdução histórica, queria só escrever aqui que não vejo mal nenhum na pornografia. Se há pessoas que querem mostrar-se nuas, a fazer sexo, e há pessoas que gostam de ver, quem é que é prejudicado com isso? Ninguém.

Eu, como a maioria das pessoas saudáveis, gosto de ver fotografias de pessoas nuas e filmes com sexo explícito. Por vezes apetece-me fazer isso, e faço. Parece que grande parte da informação que passa na Internet, tem a ver com sexo.

Mas, talvez devido ainda ao culto da culpa, não existe uma atitude saudável. Os filmes pornográficos são todos de má qualidade e de mau gosto. No entanto encontram-se pequenas cenas bastante bonitas. Filmes eróticos existem com mais qualidade, mas são ridículos. Quando é altura de aparecerem cenas de sexo aparece, em vez disso, qualquer coisa que não tem nada a ver, é frustrante.

Já ouvi todo o tipo de argumentos disparatados contra a pornografia. Fala-se em pedofilia, em mulheres que são exploradas... mas parece-me sempre que é tipo ser contra a que se caminhe na rua para combater os atropelamentos. Também parece existir o preconceito de que uma pessoa que pode apreciar pornografia, não tem bom gosto, ou qualquer coisa do género. Eu sou alentejano. Para mim uma açorda de alho é a comida mais básica que existe. Mas gosto muito de açorda de alho. E não me parece que isto me incapacite de algum modo para apreciar comidas mais sofisticadas.

Não há muito tempo, a masturbação era o pior dos pecados. Mas parece haver estudos que mostram que grande parte das pessoas, mesmo com relacionamentos sexualmente satisfatórios, se masturbam. Será um pecado maior se nos masturbarmos a ver pornografia? Se calhar é um pecado menor pois, o estimulo visual da pornografia pode permitir que a masturbação seja mais rápida! Hum... talvez o melhor seja mesmo fazer o sexo com a luz apagada, parcialmente vestido, e apenas com o objectivo da procriação.

A desconstrução de preconceitos incutidos que foram passando de geração em geração, não se faz de um dia para o outro... Mas temos a liberdade de por tudo em causa!

A única regra é não fazer sofrer ninguém: nem a nós próprios nem aos outros. Porque toda a gente se quer libertar do sofrimento e das causas do sofrimento, e ser feliz. Nenhum caminho que não prejudique ninguém é inaceitável. Mais não sei.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Lynch, o realizador que medita


Uma notícia interessante:


O realizador norte-americano David Lynch esteve este sábado no European Film Festival, o último dia da mostra portuguesa, para dar uma Masterclass aberta ao público.

[...]

«A meditação ajuda a libertar, a ser feliz por dentro», disse o cineasta. «Procura o reino dos céus que tens dentro de ti e o resto virá por acréscimo», continuou. «Com a meditação as coisas negativas - a raiva, a depressão, a tristeza - desaparecem», garantiu o realizador durante a Masterclass.

Questionado sobre o impacto que esta disciplina teve na sua vida pessoal, em particular como artista, David Lynch comentou que antes de começar era uma pessoa afectada pela depressão e pela raiva.

«Com a meditação consegui ultrapassar emoções negativas como o medo e a ira, libertei a minha consciência e a criatividade começou a fluir», descreveu.

[..]


«Podem dizer que sou louco, mas ao menos tentem e vejam o que pode acontecer. Em Portugal bastariam 350 professores para toda a população», disse na Masterclass.


Notícia competa

quinta-feira, outubro 11, 2007

Esta vida...


Tenho passado tanto a tempo a ler e a pensar sobre religião, filosofia, espiritualidade... E que aprendi eu?

Neste momento sinto-me bem. Nos últimos dias, semanas, tudo tem corrido bem, não há nada que eu queira muito, não há nada que não esteja bem... No entanto persiste esta sensação de que continuo vulnerável. Podia estar tudo igual mas senti-me em baixo. E claro que pode acontecer a qualquer momento algo que me deixe em baixo. Enfim, não sei como fazer para voltar para um estado favorável se dele sair...

A nossa psicologia é inútil. Serve apenas para encontrar doenças e pôr-nos de novo a funcionar. E quem não tem doenças e quer apenas aumentar e controlar o estado geral de felicidade? Acho que agora existe uma "psicologia positiva" que vai mais neste sentido...

O que há de comum às diversas religiões e filosofias? No fundo a ideia é sempre sermos felizes e vivermos no meio de pessoas felizes. Mas como fazemos isso? Às vezes simplesmente não conseguimos pôr em prática toda a teoria que conhecemos para ser felizes. Meditação? Não tenho meditado...

Sinto como se estivesse mesmo à beira de uma grande descoberta, algo que não se pode transformar em palavras... é estranho.

Mas parece que já não "sonho com a iluminação". Não estou perto. Tenho apenas que ir dando atenção a cada coisa, amor, família, amigos, trabalho, etc...

Vivia num sonho... agora estou mais consciente das minhas limitações. Não estou perto e contudo estou mais perto porque me conheço um bocadinho melhor.

Sinto que ao querer viver na paz do yoga ignorava as arestas que existiam por limar. Agora vejo-as e posso lidar com elas. Cheguei a ser completamente dominado por estas "arestas por limar", mas agora já não...

Não posso chegar de repente às alturas sem trabalhar primeiro as bases, a estrutura...

Não vou mais fugir à negatividade que em mim encontro. Vou enfrentar tudo, reconhecer sem fugir tudo o que surge, o bom e o mau, e aprender cada vez mais sobre as causas da felicidade e sofrimento...

Um dia hei-de desvendar este mistério e descobrir como funciona a mente humana e como se faz para ser sempre feliz. E depois ensino a toda a gente!

terça-feira, setembro 18, 2007

Emoções destrutivas

Apreciar o momento presente, mudar a perspectiva, não há nada que seja mau em todas as perspectivas...

Podemos saber muito bem a teoria e em certas alturas não conseguimos pôr nada em prática. E ficamos tristes, irritados...

Como é que o correm estes estados de espírito negativos? O que acontece antes e depois? Podemos mesmo ver as emoções cada vez mais perto do momento em que ocorrem?

Será que podemos mesmo chegar a encontrar o conjunto de causas que nos levam a um estado de espírito negativo?

Poderemos transformar-nos profundamente ao ponto de acabar de vez com todas as emoções destrutivas e gerar apenas estados positivos?

Podemos aprender muitas coisas mas isso não faz de modo algum que nos sintamos sempre bem, o que no fundo é o que importa. Por vezes até parece ser ao contrário. Parece que as pessoas mais "inteligentes" são mais infelizes.

Mas afinal o que se passa? A inteligência não poderá ser usada em nosso favor?

Dicionario. bem: causa felicidade; mal: causa sofrimento. :-)

segunda-feira, setembro 17, 2007

De volta?

Ainda estou vivo, lembrei-me que talvez fosse boa ideia escrever isto no blog.

Agora não medito, não faço yoga... Apanhei uma otite há um mês que finalmente parece estar a passar, e pensava que não me podia por da cabeça para baixo. Depois o otorrino disse que se calhar até fazia bem.

Continuo a ler sobre budismo, e continuo a pensar que o mais importante nesta vida é ser feliz...

Agora leio o livro "Emoções destrutivas e como domina-las" sobre um dialogo em que participou o Dalai Lama, cientistas, psicólogos, filósofos ocidentais... muito interessante.

Continuo a praticar uma "atenção vigilante" e vou voltar a meditar e fazer yoga...

terça-feira, julho 03, 2007

O carro e o cão

Uma viagem de 400km. Faltavam uns 300 metros para chegar. Um gato preto cruza a estrada. Olho para ele e penso: "um gato preto que cruza o caminho da azar, eheh mas que azar pode haver agora, estou quase a chegar". Olho em frente, um grande cão aparece subitamente à frente do carro. Em cheio, o cão morreu e o carro voltou de reboque... Uma viagem so termina no último instante...

quinta-feira, junho 28, 2007

O momento


Sofremos porque podemos prever o futuro, porque recordamos o passado...

Por vezes não é fácil ficar apenas a apreciar as sensações e bem estar deste momento. Sentir que "não é preciso fazer mais nada, já tenho tudo o que preciso"... apreciar apenas, estar, já está tudo bem. Ah, como são bons estes momentos de paz...

Acho que foi o Osho que escreveu que não é possível não ser feliz no momento presente...

Aparecem pensamentos sobre o passado, com emoções associadas. E também sobre o futuro. Mas sou livre de os olhar no meio de tudo o mais que neste momento existe, observar serenamente as emoções como parte da experiência deste momento, sem me apegar a nada...

Era bom que todas as pessoas tivessem a clareza da minha mente neste momento...

Om Shanti

terça-feira, junho 19, 2007

O sofrimento existe


Nascemos, vivemos e acabamos por morrer. Os dias vão passando, um após outro, vamos fazendo umas coisas, há alturas em que nos sentimos melhor, outras pior, a única coisa certa é a morte... Quem é que ainda não se deteve por instantes com este pensamento? Por vezes tudo parece desprovido de sentido. Se a coisa se torna crónica é preciso acreditar em qualquer coisa, seja em Deus ou no Freud, ou noutra coisa qualquer.

Também se pode acreditar que o sentido da vida é ir removendo a negatividade para que, vida após vida, a verdadeira essência da mente se revele e alcancemos a total sabedoria, bom coração... o nirvana. É mais uma crença, que podemos escolher.

Mas por vezes tudo parece sem sentido, não há crença que nos valha... esforço para quê? Onde vamos parar? Sempre à morte, nada mais. E antes de morrer é preciso sofrer, sofrer muito, ver outras pessoas a ficar doentes, a morrer até finalmente ser a nossa vez. Sofremos porque não temos o que queremos, e se temos sofremos na mesma por saber que o vamos perder.

De tempos a tempos volto à primeira nobre verdade: o sofrimento existe. Isto custa muito... mas talvez tenha aprendido mais alguma coisa de cada vez que aqui volto... ao essencial. Vamos lá começar outra vez... isto cansa.

quinta-feira, maio 24, 2007

Pesadelo


Estava no hospital, deitado e a soro. A certa altura a tensão no meu braço aumentou e o sangue começou a subir pelo tubo do soro. Eu sabia que só tinha que relaxar o braço ou então retirar a agulha. Mas não conseguia fazer uma coisa nem outra e estava a morrer. Apareceu uma enfermeira, olhou para mim mas não ligou muito. Não sei se não lhe pareceu importante ou se não sabia o que fazer...

Às vezes não é possível retirar a agulha e nem ao menos conseguimos relaxar o braço...

Visão estreita

Todos temos problemas e tendência a olhar para os problemas sempre sob a mesma perspectiva. Recordo-me agora de uma ideia do Dalai Lama: é muito difícil que algo seja mau sob todas as perspectivas.

No entanto os mesmos pensamentos sucedem-se, as perspectivas são as mesmas. Normalmente temos a habilidade de escolher aquelas que mais nos fazem sofrer e que em nada contribuem para a resolução do problema.

Talvez seja esta forma de funcionamento da mente que esteve na causa dos piores eventos na história da humanidade. Perde-se a visão do conjunto, a noção do que é realmente importante e do que é acessório. E fica-se preso a uma ideia, a um pensamento, a uma perspectiva entre inúmeras outras possíveis para as quais estamos cegos: seja a superioridade da raça ariana, por exemplo.

Às vezes ao fim do dia a visão estreita surge em mim, foi assim ontem à noite. A minha mente fica menos clara, perco a visão do conjunto, já não sei o que é importante, sou um ser triste, que sofre desamparadamente, incapaz de dirigir a atenção para os diversos pontos que constituem a experiência do momento, agarrado a uma perspectiva única que me faz sofrer, que se auto alimenta e não morre...

Esta manhã, olhando para o céu, vi o universo, a minha visão alargou-se. As pessoas à minha volta desejam apenas ser felizes. Eu desejo ser feliz. Não há nada que me faça mais feliz que ver sorrisos de felicidade à minha volta. Tudo o resto é acessório... é tão simples. Contribuir um pouco para a felicidade de quem me rodeia ou, se isso não for possível, manter "nobre silêncio".

Porque razão é tão difícil recordar em certas alturas que "é muito difícil que algo seja mau sob todas as perspectivas" e que "a única coisa que interessa é que as pessoas sorriam de felicidade"?

Portas abertas

Posso estar aqui e manter as portas abertas sem medo de que ao olhar para outras direcções possa ter vontade de ir para outro lugar e abandonar este, que é seguro. Será que mesmo assim posso estar aqui em pleno? Ou para isso será preciso colocar uma venda nos olhos que não me deixe ver a mais que uns metros de distância. É assim tão difícil ser livre?

O equilíbrio é delicado, como em tudo o mais. Se fico aqui, cego para tudo o resto, sufoco neste lugar, apodreço. Se me perco a pensar que podia estar em outro lugar qualquer, já não estou aqui, em pleno, vivo em sonhos.

É por isso que uma abertura total é difícil e existe a tendência a agarrar qualquer coisa e ficar neste lugar seguro. Numa abertura total, num amor universal, todos os lugares são bons. Como escolho onde ficar? Vou perder o meu lugar seguro? Perder o "eu"?

Estou cansado deste yo-yo, deste abre e fecha. Quero estar aqui em pleno e sem medo de mudar de lugar! Quero expor o meu peito à mais terrível punhalada... e constatar que afinal o ego não passa de uma membrana permeável que o punhal nunca pode atingir...

terça-feira, maio 22, 2007

Experiencing Heart

Também costumo ler a newsletter do Buddhism Connect, lembrei-me de partilhar aqui as minhas duas subscrições yogi/budis:

"[...] It is very important to realise that the whole of the path of the Dharma is for releasing the 'heart' or rather that which we refer to as 'heart' - not the conceptual construct or ideas we have about it but what it is in itself [...]"

[texto completo/subscrição gratuita]

segunda-feira, maio 21, 2007

impermanence

Costumo ler a newsletter do yoga journal. Gostei particularmente da de hoje, sobre impermanência:

"As the Buddha said, impermanence is the nature of the human condition. This is a truth we know in our minds but tend to resistin our hearts. Change happens all around us, all the time, yet welong for the predictable, the consistent. We want the reassurance that comes from things remaining the same.

...

we can live to the fullest when we recognize that our suffering is based not on the fact of impermanence but rather on our reaction to that impermanence."


[texto completo/subscrição gratuita]

sexta-feira, maio 18, 2007

happiness

"I believe that the purpose of life is to be happy. From the moment of birth, every human being wants happiness and does not want suffering. Neither social conditioning nor education nor ideology affect this. From the very core of our being, we simply desire contentment." Dalai Lama

Desde o nascimento, cada ser humano quer ser feliz e não quer sofrer...

Por algum motivo foi esta ideia tão simples que me tornou budista. Sinto que é essencial... Na interacção com outros seres humanos, se alguma coisa negativa em mim surge e consigo ligar logo a esta ideia, toda a negatividade se dissipa... é como eu: apenas quer ser feliz e não sofrer.

No entanto, esta e outras ideias tão simples, que para mim significam tanto, por vezes quando as digo a outras pessoas, vejo que para elas nada significam
e dizem algo como: isso para mim não é novo, já sabia isso...

Posso transmitir a ideia, mas não o efeito que ela em mim provoca... Mas não importa, se me continuar a transformar a mim próprio, pode ser que um dia possa passar o efeito aos outros mesmo sem dizer grande coisa. Cada pessoa precisa ouvir algo diferente. A minha esperança é que, conhecendo-me cada vez mais a mim próprio, fique mais sensível e aberto aos outros e perceba o precisam de ouvir.

Se cada um escrever nos blogs o que o toca, talvez mais pessoas sejam tocadas! :-) Não sei se respondi ao teu desafio Sara.


Beijinhos e bom fds.

Luís

sexta-feira, abril 27, 2007

Onde está o muro?

Esta vida é tão estranha... uma pessoa fica tão empenhada em partir o muro, pedra por pedra e ele desaparece, subitamente... é como se ao ficar completamente determinado em combater a negatividade descobrisse que não há nada a combater...

Não é a primeira vez que sinto que mesmo no fundo do poço existe um atalho para sair para fora.

Agora sinto-me solto, como que inundado por uma profunda aceitação. Estou aqui, está tudo bem... o passado já não existe e no futuro, vai ser outra vez "estou aqui, está tudo bem", quando chegar trato dele, agora não importa, também não existe... Podem-se repetir estas coisas sem que signifiquem nada... agora está pleno de significado. Para quem le é igual. Mas quando eu voltar a ler, num momento menos bom, talvez o significado ainda aqui esteja também...

Pranayama


Por vezes esqueço-me disto mas as técnicas de controle de respiração do yoga são para mim a forma mais rápida de alterar o estado de humor.

Há alturas em que uma pessoa esquece todas as técnicas. Em que simplesmente não é possível meditar. É nessas alturas que uma simples "respiração quadrada" pode ser decisiva.

Em caso de grande stress, por exemplo, até se pode fazer enquanto se faz outra coisa qualquer e tem um efeito calmante tão rápido. Duvido que qualquer ansiolitico bata isto. Basta formar um quadrado com a respiração. Contar até 10 quando se inspira, até 10 na retenção com os pulmões cheios, até 10 ao expirar e até 10 na retenção com os pulmões vazios. O número 10 é um exemplo, o importante é usar o mesmo tempo em cada uma das quatro fases. O tempo deve ser o maior possível sem ficar roxo. Tou a brincar, não deve haver muito desconforto mas deve ser longo o suficiente para desacelerar tudo. E o exercício dura o tempo que nos apetecer, é tão simples e eficaz...

Na meditação budista a ideia é observar a respiração sem a controlar. Mas eu acho que antes de iniciar a meditação por vezes é muito útil fazer um pranayama relaxante ou energizante mais prolongado.

quinta-feira, abril 26, 2007

Amar sem apego

Eu acho que não é possível amar sem apego. Talvez um ser iluminado possa fazer isso. Nós temos que nos limitar a aceitar as nossas limitações e ir melhorando um pouco.

Quando existe uma paixão forte existe muito apego. Um sentimento de posse, qualquer coisa animal. Algo que nos faz sentir auto-centrados, egoístas. Algo difícil de aceitar. Parece contraditório, por um lado queremos o bem da pessoa que amamos, mas por outro só nos preocupamos connosco próprios, queremos a pessoa para nós. No entanto, para nós seres pouco iluminados, o mais natural quando se está com alguém é existir um misto de amor e paixão. Eu sinto que na paixão há muito de sexual. Como se só com amor não existisse a "agressividade" que é precisa para o sexo. Por isso, o melhor é aceitar as emoções negativas que vêem com a paixão. Antes isso que um amor assexuado :-). Enfrenta-las e sofre-las, até que passem. Não as evitar, destrui-las progressivamente... Se não surgissem nunca as poderíamos enfrentar!

Estou a ler um livro do Carl Rogers, um psicoterapeuta algo controverso, ao que parece. Com base na sua experiência de psicoterapeuta, ele diz no fundo da natureza humana, o que existe é um querer estar bem e ser social. Isto contraria as ideias cristãs e do Freud, tão impregnadas, de que somos essencialmente animais violentos e que temos que nos manter controlados. Por isso, todas as emoções negativas associadas ao amor romântico, não são o mais profundo que em nós existe. Fazem parte do caminho, que estamos fartos de saber que por vezes é difícil de percorrer. É preciso aceitar as dificuldades, não fugir do sofrimento e ir eliminando a negatividade em vez de a contornar.

Eu acho que qualquer situação exterior que desperte negatividade e nos permita diminuir o apego, purificando o amor, não deve ser evitada. Pelo contrário, deve ser sofrida e vista como uma oportunidade para crescer.

Isto faz-me lembrar uma ideia que gostei muito da amiga budi Isabel: devemos ver os obstáculos como se fossem muros e, em vez de contornar o muro, devemos antes derruba-lo, pedra por pedra.

sexta-feira, abril 13, 2007

Amor e apego

Não concordo com o que escrevi sobre apego. Se o apego é um "querer para mim" qual é um interesse em cultivar apegos? O sentimento que se tem por uma pessoa querida é sempre um misto de amor e apego. É importante aceitar que existe apego, pois essa é a realidade. No entanto, so o objectivo último é ser feliz, o que se deve fazer é cultivar o amor e não alimentar o apego. No amor os interesses coincidem, eu quero que fiques bem, tudo queres ficar bem.

Isto é muito fácil de dizer, e até de fazer, caso se viva num ambiente meditativo protegido em que não nos expomos muito. Mas e quando se é atingido por uma paixão fulminante que nos cega? Já não é tão simples. Ai cada um tem que encontrar o seu caminho.

Quando a pessoa que adoramos está em perigo, e imaginamos a possibilidade de algo de mau lhe acontecer... adeus apego, adeus querer para mim, agora importa mesmo é que esteja bem, o sentimento transforma-se em amor, saio do quadro, já não importo para nada, fica bem, fica bem, fica onde estiveres, mas por favor... fica bem...

Cultivar algo em que acreditamos, seja uma amizade, um relacionamento amoroso, ou qualquer outra coisa boa, não significa querer que permaneça, não tem que ser cultivar um apego, pode ser querer fluir e crescer por um determinado caminho...

Sinto-me mais solto, mais claro e orientado, novamente...

quarta-feira, abril 04, 2007

Meditação e condições adversas

Às vezes sinto que de certa forma me encontro numa espécie de retiro há já mais de dois anos. Desliguei a televisão e o radio e nunca mais liguei. Raramente olho para as páginas de jornais na net. Desde ai que faço yoga e leio muito sobre budismo, mas só comecei a meditar regularmente há uns meses.

Neste momento estou numa situação relativamente difícil. E acho que é nestas situações que esta "prática espiritual" se revela muito útil. Não sei evita o sofrimento. Por vezes não consigo interpretar favoravelmente as condições exteriores e sofro. No entanto, é a recuperação das situações difíceis que me parece mais rápida e sólida. O que se passa comigo? Condições materiais não me faltam, tenho tudo o que preciso, não quero mais nada. Bom, passei a semana passada em Portugal. Foi uma semana que vive em êxtase, num paraíso com um serzinho lindo, que adoro, semana em que não meditei... Agora voltei para a Inglaterra e estou aqui sozinho num lugar em que claramente não quero estar. A Universidade está deserta por causa das férias, o trabalho tem corrido bem mas tenho trabalhado sozinho, podia estar em qualquer lado. Estou completamente entregue a mim próprio... É o terceiro dia que aqui estou. No primeiro tinha toda a espécie de emoções negativas recorrentes e inseguranças, no segundo livrei-me de algumas e hoje já estou a aprender a estar aqui de outro modo. Agora já vejo isto como uma oportunidade. Não vai haver mais saídas todas as noites, vou poder usar todo este tempo em que estou sozinho para trabalhar e praticar yoga e meditação e reforçar a minha "energia espiritual", ou seja, preparar-me melhor para a vida, o que inclui eventuais novas situações adversas que vão sempre surgir. Sei que não vou deixar de "querer voltar" mas agora posso ao mesmo tempo "estar" aqui e aproveitar. Mas é interessante como ha dois dias tudo o que aprendi pareceu totalmente inútil. Eu sei que não são as condições exteriores que determinam o nosso nível de felicidade mas apesar disso não consegui alterar a minha reposta imediatamente e vivi em ansiedade. No entanto só passaram três dias e já está tudo a ganhar sentido, uma orientação sólida novamente.

Claro que também ajudou conversar com amigos que lá ficaram. Esta palestra do Matthieu, que aconselho, também me fez bem: Change your Mind Change your Brain: The Inner Conditions for Authentic Happiness

Não é a primeira vez que sinto que a prática de meditação me permite sair mais facilmente de situações difíceis. Não tenho qualquer dúvida de nos torna mais felizes e nos prepara para vida. Não é remédio santo como é obvio, mas ajuda mesmo muito...

terça-feira, abril 03, 2007

Impermanência, amor, apego e relacionamentos

Tudo muda, nada permanece, só existe mudança. Isto aplica-se a muitos níveis e também aos relacionamentos. Eu acho que ninguém gosta de saltar de relacionamento em relacionamento durante muito tempo. Existe todo o entusiasmo e estimulo da novidade quando se conhece uma pessoa, quando se descobre uma nova paixão, mas só isto não é satisfatório. No fundo acho que procuramos todos uma relação que dure, que se aprofunde, que gere uma cumplicidade forte, procuramos um companheiro para a vida. E surge naturalmente um forte apego. Não queremos perder a pessoa com quem estamos. E de certo modo cultivamos este apego pois queremos que a relação dure. Do ponto de vista budista, o apego é causa do sofrimento. Suponho que o Buda não tinha namorada, ou então andava sempre a mudar. :-)


Acho que se pode progressivamente reduzir o apego e purificar o amor. No entanto aquela pessoa continua a ser especial, continua a ser a nossa companheira. Queremos aquela e não outra. Parece haver uma contradição aqui. É igual com os amigos. Recordo a história de um companheiro do Buda "espiritualmente avançado" que chora a morte de alguém e diz que tinha apego ao corpo da pessoa... Mas afinal queremos amor sem apego mas com umas excepções?

Acho que é tudo uma questão de seguir o caminho do meio. Não sou um Buda, tenho apegos, até cultivo apegos... No fundo temos que reconhecer as nossas limitações, conhecer-nos. Existe algum apego por quem nos está próximo mas podemos na mesma cultivar o amor por todos os seres...

Talvez um dos segredos para que um relacionamento dure seja aceitar a impermanência. As coisas não são iguais agora e ao fim de algum tempo. De facto mudam em cada instante. O que se descobre nos primeiros dias não se vai descobrir nos dias seguintes. Depois descobrem-se outras coisas. O relacionamento não vai ser igual, vai tudo mudando, a intensidade das primeiras descobertas não se pode repetir, pois não existem de novo as primeiras descobertas. No entanto é possível continuarmos a ficar cada vez mais próximos, criar em cada instante uma união cada vez mais plena na descoberta dos mistérios desta vida... é preciso estar desperto, aceitar que as coisas mudam e não desistir à mínima adversidade... é preciso acreditar... acreditar no amor... Eu acredito! :-)

quarta-feira, março 21, 2007

La Vida Es un Carnaval

Todo aquel que piense que la vida es desigual,
tiene que saber que no es asi,
que la vida es una hermosura, hay que vivirla.
Todo aquel que piense que esta solo y que esta mal,
tiene que saber que no es asi,
que en la vida no hay nadie solo, siempre hay alguien.

Ay, no ha que llorar, que la vida es un carnaval,
es mas bello vivir cantando.
Oh, oh, oh, Ay, no hay que llorar,
que la vida es un carnaval
y las penas se van cantando.

Todo aquel que piense que la vida siempre es cruel,
tiene que saber que no es asi,
que tan solo hay momentos malos, y todo pasa.
Todo aquel que piense que esto nunca va a cambiar,
tiene que saber que no es asi,
que al mal tiempo buena cara, y todo pasa.

Ay, no ha que llorar, que la vida es un carnaval,
es mas bello vivir cantando.
Oh, oh, oh, Ay, no hay que llorar,
que la vida es un carnaval
y las penas se van cantando.
Para aquellos que se quejan tanto.
Para aquellos que solo critican.
Para aquellos que usan las armas.
Para aquellos que nos contaminan.
Para aquellos que hacen la guerra.
Para aquellos que viven pecando.
Para aquellos nos maltratan.
Para aquellos que nos contagian.

Translation:
Everyone out there that thinks that like is unfair,
Needs to know that's not the case,
Because life is beautiful, you just have to live it.
Everyone out there that thinks they are alone and that that's bad
Needs to know that's not the case,
Because in life no one is alone, there is always someone

Ay, there's no need to cry, because life is a carnival,
It's more beautiful to live singing.
Oh, Ay, there's no need to cry,
For life is a carnival
And your pains can be alieviated through song.

Everyone out there that thinks that life is always harsh,
Need to know that's not the case,
That there are just bad times, and it will all pass.
Everyone out there, that thinks that this will never change,
Need to know that's not the case,
The bad times will turn, it will all pass.

Ay, there's no need to cry, because life is a carnival,
It's more beautiful to live singing.
Oh, Ay, there's no need to cry,
For life is a carnival
And your pains can be alieviated through song.
For those that complain forever.
For those that only critisize.
For those that use weapons.
For those that pollute us.
For those that make war.
For those that live in sin.
For those that mistreat us.
For those that make us sick.

(http://www.stlyrics.com/lyrics/amoresperros/vidaesuncarnaval.htm)

sábado, março 03, 2007

Sacrifício e culpa

O culto da culpa judaico-cristão está de tal forma incutido que às vezes nem dou pela sua acção. Parece absurdo, mas por vezes acho que sinto culpa por me sentir bem. Acho que é tipo "não deveria estar a esforçar-me mais, sacrificar-me por qualquer coisa?". Como se devesse abdicar de me sentir bem para fazer algo por alguém.


No budismo as coisas são tão mais naturais e lógicas. Não me parece que haja esta coisa do sacrifício, a ideia é mesmo sentirmos-nos bem. Faz-se pequenas coisas pelos outros com alegria, e sabendo que a sua alegria tem como consequência a nossa, simplesmente porque é gratificante sentir alegria à nossa volta.


Por exemplo, tantas vezes que danço com mulheres velhas, feias, transpiradas e mal cheirosas, e sinto-me bem, feliz. Não há sacrifício da minha parte para que a senhora fique alegre, basta um olhar desarmado que encontra um olhar que também desarma e ficamos ambos felizes, somos iguais... e dançamos. Isto se calhar não é um bom exemplo, mas o que quero dizer é que podemos fazer coisas boas sem nos sacrificarmos, bastando para isso ter a inteligência de encontrar nelas alegria. E é bom que nos sintamos bem a fazer coisas boas, não tem lógica sentirmos-nos culpados por isso. Não é preciso perder quando se dá, pode-se sempre ganhar... se nos conhecermos o suficiente é assim que as coisas funcionam.


E porque é que estou a escrever isto? Ah, porque estou para aqui sozinho num país estranho e sinto-me bem... Será que tenho algum problema? Tenho que me esforçar mais? :-)

quinta-feira, março 01, 2007

Yoga e dança

Esta manhã lá meditei mais uma vez... ou tentei meditar. Ultimamente a minha meditação não tem sido grande coisa. Acho que é assim desde que fiquei entusiasmado pela dança. Também não danço nada bem. Em horas a dançar sinto que danço apenas uns segundos...

Mas continuo a sentir que devo explorar as duas coisas. A meditação e yoga por um lado, e a dança por outro. São duas faces de nós igualmente importantes, a meu ver. E duas formas de explorar o corpo. Estar sereno e presente é tão importante como soltar a alegria e paixão, que também em nós existe. Além disso a dança aproxima-nos das outras pessoas, novas, velhas, bonitas feias. O que importa é dançar e sorrir. A filosofia do yoga, por exemplo, por vezes afasta-nos, pois não faz sentido para as pessoas à nossa volta. Cria-se um mundo seguro, isolado... Mas como é que se concilia aquela agitação da salsa com a serenidade do yoga? Será que uma coisa prejudica a outra? Talvez seja apenas preciso encontrar um ponto de equilíbrio, entre estas minhas duas "paixões". Olha, talvez até de dê para misturar. Uns passos de salsa com posturas de yoga ou uns krias de salsa kundalini. Oh, é só seguir e intuição, ir pelo caminho do meio e tudo vai ao lugar. La vida es um carnaval, om shanti, etc, vou pra aula da salsa.

domingo, fevereiro 25, 2007

O infinito na palma da mão

Estou a ler este livro. É uma longa conversa entre um cientista que se tornou monge e um budista que se tornou cientista. Este está escrito em português, mas ainda é mais difícil de perceber que o outro.

Parece haver uma estranha coincidência entre o que diz a física moderna e a filosofia budista. Já nem sei o que é que existe. Parece que quer matéria quer consciência em termos de existência estão em pé de igualdade. Apenas há o todo e relações entre coisas que não existem por si. O que se observa depende sempre do observador. E nos instantes iniciais do big bang não se entende nada pois a mecânica quântica e a relatividade geral não se conseguem conciliar. Tudo é possível. E pode ser que o big bang seja um de muitos, embora actualmente se pense que não. E pode ser que o mundo, ou os mundos, existam desde sempre como diz o budismo. A consciência pode existir sem matéria? Os renascimentos fazem sentido? Parece que não se sabe grande coisa e tudo é possível e nada existe nem não existe. Esta vida é um grande mistério...

Condições exteriores

É o quarto fim de semana que passo neste país. Já nem me lembro que vivia num apartamento limpinho junto ao mar, antes de vir para aqui. A cozinha está sempre cheia de loiça suja, espalhada por todo o lado, há "undergraduates" nos outros quartos do apartamento :-). Tive que comprar loiça e panelas e como no quarto. Tenho tão poucas coisas, um só prato, talheres, 3 panelas... E parece que não é preciso mais nada. E se fosse para outro lugar, ainda com menos objectos de conforto? Era igual, adaptava-me ao fim de dois dias, como aqui. Sei que é temporário... e se não fosse? É interessante verificar que todos aqueles objectos de conforto que acumulamos, desaparecem e não são precisos, assim, instantaneamente, quando se mudar de lugar. Mas arranjei logo um tapete de yoga... mantenho-me alegre na mesma, faço yoga aqui no quarto, medito... É tão interessante ver como nos adaptamos, e pequenas coisas ganham outro valor. Parece que se pode estar bem em qualquer lado.

A vida mudou muito quando comprei uma bicicleta, que custou três semanas de gasolina em Portugal. Ganhei asas, passava tanto tempo a andar a pé... Uma simples bicicleta deu-me tanta alegria...

Tenho tempo demais para trabalhar, dá para cansar e fazer outras coisas. Tenho saído quase todas as noites. Danças na Universidade e fora, as pessoas são tão simpáticas em todo o lado neste país. Mas estou cansado, vou começar a sair menos. Tive uma gripe terrível há mais de uma semana, e ainda não recuperei totalmente, talvez o cansaço também seja disso. Que noite passei, gripe a sério, e não tinha paracetamol. Havia uns instantes em que o desespero diminuia um bocadinho, quando tentava fazer pranayama.

As condições exteriores podem piorar, piorar muito, e podemos ficar felizes na mesma. Há sempre um lugar em que nos podemos sentar, e com esta mania de sentar de pernas cruzadas nem é preciso cadeira, basta uma almofada. :-)

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Buddhism without beliefs

Acabei de ler este livro. A teoria do karma e renascimentos, natural no tempo do Buda, não é essencial, diz. Fala na importância da imaginação e criatividade de cada um para o que o Dharma se adapte a novas realidades e se mantenha vivo. No entanto, perdendo-se aspectos místicos, corre também o risco de ser "engolido" por qualquer outra coisa, como a psicoterapia ou o cristianismo contemplativo. E fala de instituições religiosas que procuram manter crenças para não perderem poder. Enfim, gostei, acho que tem razão em muitas coisas.

E os renascimentos? É como Deus, não sei, e não vou crer porque me dizem. Vou morrer, é a única coisa certa. Quando? Não sei. E não há maneira de garantir que não vai ser neste instante. E sou feliz. Afinal o que vai morrer? E não vejo necessidade de promessas de boas vidas futuras ou ameaças de infernos. Basta esta. E não há respostas, só há perguntas... que não pedem resposta...

Bom livro, é pena estar em inglês e não perceber quase nada do que lá esta escrito... :-)

domingo, janeiro 21, 2007

Deixar o Zorba dançar

Há quase um mês que não tenho vontade de escrever...

Gosto da ideia do "Zorba the Buda" do Osho. Por vezes é preciso deixar o Zorba dançar... Ando dedicado à dança. Tive a minha primeira actuação esta sexta no Açucar e Salsa. Foi uma experiência interessante. Uma actuação publica de bachiata num bar cheio de gente. Dancei duas vezes bachiata antes dos ensaios e a coreografia parecia-me enorme, impossível de decorar. Mas acabou por correr tudo bem, foi muito divertido. O filme:

Agora sinto que estou a melhorar muito depressa na salsa. É um raio de uma dança complicada, cheia de voltas e malabarismos. Finalmente começo a sentir a musica e a sentir que danço no meio daquela confusão de braços e voltas. Cheguei a pensar que não era possível.

Dia 2 de Fevereiro vou para Londres e a vontade de escrever deve voltar. Por agora vou fazendo os meus vinte minutos matinais de meditação e partilhando o sukkha com a dança...