sexta-feira, novembro 20, 2009

Espiritualidade


Vou continuar em Janeiro o curso de professores de Yoga Integral no Porto, que recomendo sem reservas.

Alguns extractos que gostei de uma entrevista ao Swami Maitreyananda:

"O Yoga ensina a desenvolver a inteligência espiritual do ser humano, entendendo-a como a capacidade de adaptação afectiva, sentimental e anímica de um indivíduo ao seu meio. Esta capacidade de adaptação espiritual permite ao yogui ultrapassar sentimentos e situações que para outras pessoas seriam insuportáveis."

[...]

"O Yoga é, antes de mais, uma arte, ciência e filosofia de vida que integra a mente, o corpo e o espírito do ser humano, desenvolvendo a sua educação espiritual."

[...]

"Para a maioria das pessoas não é muito clara a diferença entre a sua mente e o seu espírito. Em psicologia este esforço de entender que o espiritual é um plano diferente embora integrado no mental e no físico, deve-se ao Dr. Viktor Frank (terceira escola de Viena, depois de Freud e Adler); o seu contributo permitiu separar a Noologia da Psicologia, para compreender a dimensão espiritual do indivíduo."

Entrevista completa: Swami Maitreyananda

terça-feira, novembro 10, 2009

Originalidade

No mundo académico todos procuram escrever algo que seja original. E então por isso amontoam-se artigos, a maior parte inúteis e sobre problemas particulares, muitos deles inventados.

Mas o que é essencial nestas nossas vidas são coisas muito simples. E esta obsessão pelo original afasta-nos do que é essencial. Será original esta ideia? Pouco me importa.

Quando é que algo que escrevemos é original? Basta que se sinta ou será preciso verificar se já está publicado em alguma revista científica internacional?

Deve ser preciso um estado meditativo muito profundo para verificar que algo é criatividade e não repetição de algo que surgiu em toda a nossa experiência até este momento. Hoje estou-me a rir de mim próprio...

Um poema de Bashô:

“Olhe cuidadosamente

A Nazuna desabrocha

Ao longo da cerca – Ah!”

Repito este para mim muitas vezes. Um dia vou saber o que diz e vai ser um poema original meu.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Para quê meditar?


Para quê meditar, ficar sentado sem fazer nada, se há tantas coisas interessantes para fazer?

Mas o que é realmente interessante? Quando fazemos as coisas que nos apetecem não estaremos a agir determinados pelos condicionamentos criados por toda a nossa experiência passada até este momento? Será possível sair deste total determinismo que nos leva a seguir automaticamente os nossos "quereres"? Haverá realmente possibilidade de ser livre?

Poderemos mesmo ao meditar decompor e observar todo o processo mental, deste os impulsos que nos levam a fazer coisas, às consequentes reacções de apego, aversão, e agir sobre este processo, escolhendo o que fazer, ou não fazer?

Quando me forço a ficar sentado sem fazer nada não estarei afinal a investigar a possibilidade de ser realmente livre?

quinta-feira, novembro 05, 2009

Falar sobre meditação


Fui falar de meditação numa aula do curso de Psicologia da Universidade de Aveiro!

Ontem, duas alunas do terceiro ano do curso de Psicologia foram visitar-nos ao nosso espaço de yoga, o SitaRama, para conversar sobre meditação, pois estavam a fazer um trabalho sobre os efeitos da meditação. Encontraram-nos na Internet.

Fui hoje falar um pouco sobre o assunto e falei também sobre a minha experiência de prática de yoga e meditação, no Departamento de Ciências da Educação. Foi interessante estar numa aula a conversar sobre isto, normalmente falo sobre matemática.

Assisti à apresentação delas, muito interessante, em que apresentavam vários estudos científicos, que comparavam grupos de meditadores com não meditadores e mostravam diversos benefícios da meditação.

No final fizemos uma curta sessão de meditação. Toda a gente pareceu muito interessada no assunto e com vontade de ir experimentar o Yoga e a meditação connosco. Vamos ver se aparecem.

Normalmente há mesmo interesse é em conversar sobre meditação. Quando se trata de praticar vem aquele pensamento do género: vou agora ficar sentado sem fazer nada com tantas coisas interessantes para fazer? :-)

quarta-feira, novembro 04, 2009

Siddhartha de Hermann Hesse

Li ontem este livro, que aparentemente toda a gente já leu, pela primeira vez. Hoje apeteceu-me escrever aqui o que me vier à cabeça, sobre o livro.

Siddhartha viveu nos tempos de Gotama, o Buda. Não acreditava em doutrinas, nem em mestres. Foi um culto brâmane, depois um samana da floresta, um pedinte, a seguir um mercador rico e finalmente foi viver com o barqueiro na sua cabana, e aprendeu a ouvir o rio. E depois apareceu lá o seu filho e aprendeu a amar. O filho partiu e aprendeu a sofrer a perda de um ser amado. E assim compreendeu o “povo de crianças” em relação ao qual antes se sentia superior.

Um dia ouviu o Buda expor a sua doutrina, que achou perfeita. No entanto aprendeu mais a olhar para o Buda, para a sua serenidade, do que com a sua doutrina. O seu amigo Govinda resolveu deixar Siddhartha e seguir o Buda, mas ele não o fez. Foi para a cidade, onde viveu vinte anos, e conheceu a bela cortesã Kamala pela qual se tornou rico. Na cidade esvaziou-se completamente a sua alma, chegando à beira do suicídio, mas foi salvo pelo som do Om que veio de dentro de si, quando se ia atirar ao rio.

Siddhartha aprendeu com todas estas experiências ao longo da sua vida, e acabou por encontrar a paz que sempre procurou, numa vida simples, a escutar o rio.

O seu amigo Vasudeva, o barqueiro, parece ter passado a vida junto ao rio e tornou-se um santo, como o Buda.

Govinda, o amigo de Siddhartha, nunca encontrou a paz, apesar de aplicar a doutrina do Buda, que ajudou milhares a despertar.

A história da vida espiritual do Siddhartha é das coisas mais belas que alguma vez li.

Também achei linda a história das outras personagens, como pessoas diferentes têm caminhos diferentes. O barqueiro Vasudeva que atingiu a paz com uma vida simples. Os que beneficiam com doutrinas, os que as seguem e não beneficiam, os que não as seguem. Os que precisam de experimentar todos os caminhos para ver por si próprios que não lhes servem, os que não precisam de experimentar pois acreditam em algo simples, como a sabedoria de um rio.

O livro não diz só isto. Mas foi o que me deu vontade de escrever.

E cada pessoa segue o seu caminho...

quarta-feira, outubro 07, 2009

SitaRama



Concluí a minha formação como instrutor de Yoga Integral. O meu nome na linhagem ficou Rama (e o da minha poxinha é Sita). Somos os heróis do épico em sânscrito Ramaiana! :-)

Vamos começar a dar aulas de Yoga em Aveiro num espaço que arrendámos para o efeito, na zona do Rossio, a que vamos chamar SitaRama.

Também vamos ter sessões regulares de meditação.

Espero que esta iniciativa seja em benefício de todos os seres...

A página do SitaRama (em construção): http://sites.google.com/site/yogaintegralaveiro/.

Om Shanti!


quinta-feira, agosto 27, 2009

Avalokiteshvara


O bodhisattva da suprema compaixão. Acabei de ler, e já não sei onde, que se manifesta no momento em que ajudamos alguém... Ou seja, não temos que pensar em bodhisattvas como seres separados de nós.

Mas o ideal do bodhisattva, do Budismo Mahayana, é inspirador. O bodhisattva é um ser que está perto de atingir a iluminação mas opta por não o fazer. Continua no mundo para ajudar todos os seres a libertarem-se do sofrimento, e a sair do samsara...

A prática do Theravada é essencialmente Samatha e Vipassana, o que basicamente significa, parar e olhar. Não parece haver um ênfase tão grande na compaixão, que no entanto aparece naturalmente interligada com a sabedoria... Mas aqui não há bodhisattvas, é o salve-se quem poder!

Estou-me a sentir melhor colorindo o Theravada com um pouco da compaixão do Mahayana e da beleza do Vajrayana. A ciência do Ajahn Buddhadasa, o calor do Thich Nhat Hanh, a magia do Dalai Lama... Há tantas fontes de sabedoria e bondade.

Ontem fiz metta bhavana, a famosa meditação do amor incondicional. Já não fazia uma meditação prolongada há algum tempo. E vi como é importante dar mais ênfase ao amor e compaixão.

Entrei hoje no ano 40, com esta sensação de que, se o coração está morto não dá para parar e não há nada para ver...

Que todos os seres se libertem do sofrimento e das causas do sofrimento, e que cultivem a felicidade e as causas da felicidade.

sexta-feira, junho 19, 2009

A impermanência e os bidés

Tinha acabado de ler uma frase neste livro que dizia que inicialmente o asana era apenas encontrar uma postura sentada que nos permitisse estar muito tempo sentados em meditação sem desconforto físico.

A pensar sobre se deveria meditar sentado ou a fazer posturas de yoga, sentei-me neste bidé. Subitamente o bidé parte-se. Montes de sangue, um grande golpe, quatro pontos... Tive muita sorte com o lugar do corte.

Sábado de manhã, dia 13 de Junho... Aprendi na pele o que significa a impermanência, a fragilidade desta vida humana. Em qualquer instante tudo pode mudar. Subitamente os nossos dilemas deixam de fazer sentido. Mesmo sentado num bidé! Não podemos contar com nada como garantido...

sábado, junho 06, 2009

Yoga, Meditação e Budismo



Às vezes sinto a prática das posturas do yoga apenas como uma preparação física para a meditação a seguir. Toda a gente sabe que Asana não é só físico. Mas quem faz realmente meditação na prática de Asana?


“Two early sutras in which the Buddha gave meditation instructions are the Anapanasati (Awareness of Breathing) and the Satipatthana (Establishing of Mindfulness) sutras. In the Southern (Theravada) tradition of Buddhism these sutras are still considered the most important texts on meditation practice. […]
From my first introduction to these sutras, their incredible value for asana practice has been apparent to me - lifting the physical practice of asana from a mere preparatory role for meditation into a real and deep meditation practice itself." - Frank Jude Boccio.

Estou a ler novamente este livro. Diz o Georg Feuerstein: "This book should be read by every aspiring yoga practitioner."

segunda-feira, junho 01, 2009

Ter fé

Desde que fui ao retiro com o Ricardo que medito todas as manhãs 45 minutos, logo ao sair da cama. Nos últimos dias tem sido difícil. Parece que a mente se está a tornar cada vez mais hábil na criação de distracções.

Observar o ar nas narinas não é interessante. É preciso inventar histórias, criar fantasias. Mas o problema é que as histórias não estão a acontecer. O movimento da respiração no corpo imóvel está a acontecer. Afinal o que é interessante? Viver em sonhos ou viver o momento em que de facto se está vivo?

Em cada momento respiro. Em cada instante estou vivo. Não é preciso esperar pelo prazer do almoço, ou de um encontro, pela conclusão do que estou a escrever, ou qualquer outra coisa.

Há sempre uma pequena ânsia de concluir o que se está a fazer para fazer algo a seguir. E quero que os 45 minutos passem, que os dias passem, que esta emoção me deixe, que tudo passe.

Mas o que vem a seguir? Mas o que há de interessante "a seguir"? Porque motivo caminhamos com ânsia de chegar? Afinal chegamos onde? Não estaremos sempre aqui? Porque é que o próximo passo é melhor que este?

Não poderemos mesmo estar onde estamos, sem querer o que vem a seguir e sem inventar prazeres em mundos ilusórios?

Pode mesmo a mente ser treinada para estar eternamente presente, no tempo e no espaço, focada, descontraidamente atenta?

Eu estou a com fé numa técnica, que o Buda ensinou. Chama-se Anapanasati.

terça-feira, maio 26, 2009

A fórmula da felicidade


O Ricardo Sasaki, professor de Buddhismo Theravada, passou-nos a seguinte fórmula no mini retiro que fizemos em Gaia, de 16 a 18 de Maio.
Esta fórmula matemática (que gentilmente me dedicou por causa de eu ser matemático :-) ) garante a Felicidade:

C = 2I + 2A = V

Conhecimento correcto
Impermanência
Interdependência
Aceitação
Apreciação
Vida iluminada

Fica aqui a fórmula para não nos esquecer-mos. É uma brincadeira mas também é uma coisa séria.

Este retiro, embora curto, mudou radicalmente o meu estado de espírito e tenho conseguido manter uma prática de meditação diária.

Agora espero manter a prática e continuar membro do Nalanda, procurando entender e praticar o essencial do ensinamento do Buddha, com o inspirador apoio do Ricardo.


sexta-feira, abril 03, 2009

rebirth

"The Buddha refused to have any dealings with those things which don't lead to the extinction of Dukkha. Take the question of whether or not there is rebirth. What is reborn? How is it reborn? What is its kammic inheritance? (kamma-is volitional action by means of body, speech or mind.) These questions are not aimed at the extinction of Dukkha. That being so, they are not Buddhist teaching and they are not connected with it. They do not lie in the sphere of Buddhism. Also, one who asks about such matters has no choice but to indiscriminately believe the answer he is given, because the one who answers is not going to be able to produce any proofs, he's just going to speak according to his memory and feeling. The listener can't see for himself and so has to blindly believe the other's words. Little by little the matter strays from Dhamma until its something else altogether, unconnected with the extinction of Dukkha."

Buddhadasa Bhikkhu

quarta-feira, março 18, 2009

Meditação na Universidade de Aveiro

Desde o dia 10 de Fevereiro que um pequeno grupo de pessoas se junta na Universidade de Aveiro para meditar.

Sempre me pareceu que um seminário na Universidade é um lugar ideal para a prática de meditação. Conversamos com o Padre Alexandre que gentilmente nos acolheu e nos autorizou a usar uma salinha no CUFC (Centro Universitário Fé e Cultura) todas as terças das 18 às 19:30.

O grupo não é Cristão nem Budista nem de outra religião qualquer. O que nos une é apenas o interesse pela meditação e a vontade de praticar em grupo.

Não existe nenhum mestre no grupo. E os encontros têm corrido bem assim. Sem nenhuma espécie de planeamento o que tem acontecido é uma prática de meia hora de meditação sentada (alguns no chão outros em cadeiras) seguida de uma prática de meditação a andar (uma volta à sala, lentamente) e depois conversamos um bocadinho.

As principais fontes de inspiração do grupo actual talvez sejam o Budismo (da tradição Theravada) e Krishnamurti. Mas a ideia é manter o grupo aberto a quem tem interesse por meditação. O espírito não é de cultivo de crenças mas sim de abertura...

Quando aparece alguém sem experiência da meditação (já aconteceu) alguém no grupo dá indicações.

Para praticar connosco basta aparecer na entrada do CUFC (ao lado do seminário) às terças entre as 18:00 e as 18:10.