Como é que o meu budismo dá sentido à vida?
O meu budismo não dá respostas. Não sei se há ou não vida depois da morte, não sei se a lei do karma admite excepções, em principio não existe deus mas não estou certo disso... etc. Não tenho respostas para nada.
Claro que todos temos crenças, são a base que nos permite interagir com o mundo. Eu tenho crenças. E progredir é libertar-me delas.
Mas afinal que raio de religião é esta que em vez de nos dar qualquer coisa para nos agarrarmos ensina-nos a largar tudo?
Bom, na verdade há algumas crenças, mesmo no meu budismo. Eu acredito que existem sementes boas e más em mim, e que posso regar as boas e não alimentar as más. E também acredito que se pode ir para além do bem e do mal.
Então escolho a seguinte perspectiva: vejo-me a mim próprio como uma esfera, com luz branca no centro e montes de lixo à volta. A mim e as outros seres. O sentido desta vida é ir removendo progressivamente o lixo à volta até que a luz branca se manifeste, sem obstruções.
Nem sempre sei o que é o melhor a fazer para me libertar, e aí o Caminho do Meio, orienta-me, como um mapa...
E o essencial do Caminho do Meio é para mim apenas isto:
1. Existe dukkha (sofrimento, desencaixe);
2. A causa é o desejo (o querer que seja o que não é);
3. É possível cessar o dukkha e as causas (momentaneamente, por algum tempo, talvez de vez);
4. Existe um caminho para acabar com o dukkha, o Nobre Caminho Óctuplo (um mapa).
O Nobre Caminho Óctuplo é formado por oito aspectos que se agrupam em três grupos:
I - Sabedoria (1. Compreensão, 2. Motivação);
II- Conduta (3. Fala, 4. Acção, 5. Modo de subsistência);
III- Meditação (6. Esforço correcto, 7. Atenção, 8. Concentração).
E como funciona o Nobre Óctuplo Caminho?
Orienta-nos na transformação progressiva da mente de modo a libertarmos-nos das tendências mentais perturbadoras, da parte menos boa em nós, ou do lixo em torno do centro luminoso da esfera.
As perturbações mentais (por exemplo a raiva) existem em três níveis diferentes:
1) latente (exemplo, raiva por despoletar),
2) manifesto (exemplo, sentir raiva),
3) transgressão (exemplo, agir ou falar movido pela raiva).
O grupo II do caminho (conduta ética) permite-nos lidar com os níveis 2) (manifesto) e 3) (transgressão) e o grupo III (meditação) com o nível 1) (latente). O grupo I (sabedoria) é o ponto de partida e o objectivo do caminho, o auto-conhecimento, a sabedoria e compaixão.
A ideia é cultivar os oito aspectos em simultâneo...
Então basicamente tenho que me portar bem (grupo II; porque é vantajoso para mim e para os outros, não é porque senão deus castiga), tornar-me sábio (grupo I; que é basicamente ver mais longe a interdependência, e ser compassivo, em vez ter visões curtas e atribuir culpas) e meditar (grupo III; sentado e atenção plena durante o dia).
Assim tenho a salvação garantida! Se existir Deus vou para o céu. Se há renascimentos tenho garantido um bom renascimento. Se a vida terminar com a morte também está bem pois vivo uma vida com sentido.
Ah, a expressão "Caminho do Meio" é para aplicar a tudo. Não há interesse em ser demasiado sério nem demasiado a brincar, é sempre pelo Meio!
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário