segunda-feira, março 17, 2008

Budismo e depressão

O budismo faz todo o sentido. Claro que só podemos ser felizes no presente, nada mais existe. Não vejo dogmas no nobre caminho óctuplo É apenas um mapa extremamente lógico e útil. Que nos orienta agora a seremos felizes e a melhorar o nosso estado geral de felicidade. É preciso praticar o caminho. Usar o mapa.

Mas e naqueles dias em que tudo parece cinzento e não conseguimos pôr nada em prática? O que causa mais sofrimento? Será a depressão ou o desejo forte de nos livrarmos dela? O que fazer quando nada resulta?

Felizmente há alturas em que fico profundamente deprimido. E não consigo fazer rigorosamente nada para abandonar esse estado, ou para outro efeito qualquer. Às vezes digo a mim próprio, em alturas melhores: se voltar a acontecer vou fazer apenas isto, algo simples, para não me esquecer. Mas nunca resulta. Não me lembro. Talvez escrevendo num papel... Não dá. O problema é que tudo muda e o que resulta hoje não resulta amanhã. É como com as crianças. É preciso ser flexível. Mas como ser flexível quando se está deprimido e não se consegue fazer nada?

Felizmente também, as minhas "depressões" não duram muito. O melhor a fazer é esperar que passem. Mas até isto esqueço nessas alturas. Parece que nunca vai passar. Quando o lume está a arder é fácil dirigir a chama. Mas e quando falta a faísca que o acende?

O que me ajuda? O Budismo. É natural existir insatisfação. É o dukkha. Sem sofrimento não pode existir compaixão pois não se tem oportunidade de sentir o que os outros também sentem. Por isso a "depressão" é de certa forma uma coisa útil.

Mas também é tão horrível. Especialmente quando não parece haver causa nenhuma além do dukkha. E por vezes procuramos inventar uma causa mais aceitável.

Aceitar o sofrimento como sendo algo natural em vez de uma doença, é então a primeira coisa que me ajuda. Além da aceitação é sentir que não tenho que fazer nada. É esperar que se auto-cure, como acontece com as feridas.

Finalmente, é uma oportunidade para investigar o sofrimento. Que de facto, devido ao sofrimento, não consigo aproveitar...

Resumindo: aceitar, esperar que passe e se possível investigar enquanto dura.

Pra próxima tenho que me lembrar disto...

2 comentários:

Surya disse...

Sou um bocadinho assim tb. Mas a mim o que mais me assusta na depressão não é a tristeza, nem a infelicidade nem o sofrimento... é simplesmente o facto de que tudo deixa de ter interese. De repente o caminho que sigo na vida desagua num terreiro em que não há mais direcções. É voltar ao zero e sentir que as coisas têm a importância que a gente lhes dá...
E depois felizmente passa...

Beijinhos!
Inês

Baby Sauro disse...

Meu amigo,

parabéns pelo texto. Sei que é de grande ajuda para muitos que passam por aqui. Parabéns! Continue escrevendo.

Gassho!