sábado, agosto 25, 2012

Abertura e Tolerância


Durante uns tempos procurei ajustar-me ao papel de coordenador de um grupo budista Theravada. Aprendi muito com a experiência. A tradição das florestas da Tailândia procura preservar os ensinamentos originais do Buda e é uma fonte muito valiosa.

Agora que deixei este papel de coordenador budista sinto um tremendo alívio. Estava a sufocar, a tentar ajustar-me a algo, a forçar algo. Demorei muito tempo para perceber isto. Agora a minha respiração flui livremente, tem outra qualidade. A sensação no peito é de abertura. Até voltei a ter vontade de escrever neste blog.

Parece-me claro que, para algumas pessoas, a prática dentro de uma tradição religiosa pode ser a melhor opção. É possível não sentir a criatividade inibida, não sentir sufoco, mas pelo contrário, liberdade. Isso vê-se por exemplo em alguns monges Theravada, que parecem tão serenos e livres que até ficamos contagiados só de olhar para eles. Mas todas as pessoas são diferentes e não há o melhor caminho para todos. As florestas decididamente não são para mim… neste momento. Do Budismo fico apenas com a reflexão, a ética, a meditação, essas coisas simples que a todos são úteis e conduzem à harmonia.

Mesmo dentro do budismo há tanta intolerância. É mesmo difícil as pessoas verem que o caminho por que optaram não é o melhor do mundo mas apenas talvez o melhor para elas mesmas. Então vemos algumas pessoas do Theravada a gozarem com o ideal do Bodhisattva ou a dizerem que os textos do Mahayana não têm realmente origem no Buda. E há pessoas do Mahayana a dizer que os do Theravada seguem apenas os ensinamentos mais básicos do Buda. É estranho haver esta bairrismo dentro do Budismo, onde supostamente deveria haver a tolerância e abertura que o Buda ensinou.

Para uma pessoa que acredita em Deus ou que entrou em contacto com o Divino, por muito avançado no caminho espiritual que esteja um Budista, ele pode ser alguém que tem uma incapacidade de perceber a existência de Deus… É difícil evitar o condicionamento excessivo do meio em que estamos inseridos, mas é muito importante.

Uma coisa fundamental nesta vida parece-me ser a abertura e tolerância. Aparentemente todos concordam que Deus, o Nirvana, a Ascensão, o Indefinível, etc, não se pode definir por palavras. Então cada um tem a sua linguagem e o seu modo de aproximação a esse indefinível, que também pode ser simplesmente uma vida terrena com menos sofrimento e mais sentido.

Uns vão pelo caminho da sabedoria à procura das três marcas da existência, outros vão pela compaixão, outros acreditam ser médiuns e capazes de comunicar com a energia de Cristo… Não é preciso estabelecer uma relação de ordem entre as várias opções e argumentar que a nossa é superior às outras.

No fundo estamos mesma situação, caídos neste mundo, todos juntos, toda a humanidade, todos os seres. Cada um com a sua linguagem, podemos sempre dialogar, podemos sempre meditar todos juntos, se enfatizamos aquilo que nos une em vez das especificidades que nos afastam.

Recordo-me da famosa resposta do Dalai Lama quando um teólogo lhe perguntou qual é a melhor religião:

“A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus. É aquela que te faz melhor. Aquilo que te faz mais compassivo; aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável... A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião...”