Finalmente comecei a ler o "Mindfulness Yoga, the awakened union of breath, body and mind" de Frank Jude Boccio, e estou a gostar por vários motivos (obrigado pela recomendação Sagara!).
Sempre me pareceu haver muita semelhança mas também uma certa oposição entre o Yoga Sutra do Patanjali e o ensinamento de Buda. Parece que o autor do livro tinha o mesmo problema e estudou tudo, o yoga hindu, o yoga budista e escreveu um livro. Que sorte! Traduzo umas frase a seguir para não me esquecer:
"É interessante que, enquanto que a maior parte das formas de yoga (pre-clássicas e pos-clássicas) tendem ao pensamento não-dualista, o yoga clássico de Patanjali, aliado à escola dualista Samkhya Darshana, é ele próprio dualista. Patanjali fala numa bifurcação estrita entre o espírito (purusha) e a natureza ou matéria (prakriti). Neste sistema, parecem existir inúmeros purushas e o essencial do ensinamento e prática do Yoga Sutra é que o praticante cultive o discernimento (viveka) entre o purusha transcendente e tudo o que é "não eu" (anatman); isto inclui todo o organismo psico-fisiológico, o qual faz parte do prakriti (note-se que o significado da palavra anatman como usada por Patanjali é ligeiramente diferente do seu significado em textos budistas).
Portanto aqui, ironicamente, o yoga torna-se uma espécie de separação e abandono dos fenómenos ou realidade relativa até que o yogini recupere o seu verdadeiro eu. De facto, comentários ao Yoga Sutra disserem (o que parece desconcertante, como um koan Zen) que "yoga é viyoga" - união é separação!
Quer escolhamos aderir à metafisica de Patanjali ou não, este processo de discernimento, ou viveka, está presente também em escolas não-dualistas de yoga, Vedanta e Budismo. Portanto, mesmo para budistas não-dualistas, o estudo do Yoga Sutra dualista de Patanjali pode ser ricamente recompensador. Adicionalmente, muitos nas tradições Védicas e tântricas, defendem que Patanjali pretendeu apenas oferecer um modelo de prática e não uma ontologia independente.
A fluidez de interpretação, e tolerância para a contradição e paradoxo, são factores fortes encontrados em todos os ensinamentos de yoga."
...
"Desde o seu primeiro ensinamento de Dharma ao último, que o Buda sempre disse que o Caminho Octuplo é a forma de nos libertarmos de vez do dukkha (nota do tradutor, eu: aquela insatisfação de fundo lixada, que teima em não nos deixar).
Setecentos anos mais tarde, Patanjali, para criar uma escola sistemática e coerente de yoga a partir da enorme variedade de ensinamentos de yoga existentes, e talvez sob a influencia do Budismo, que era uma força importante na India na altura, escreveu o Yoga Sutra, e codificou a prática principal como Ashtanga Yoga (yoga dos oito membros)."
Moral da história, podemos contar pelos dedos sem usar os polegares. :-)
Estou a achar este "yoga da atenção plena" mesmo interessante, uma integração perfeita de Budismo e Asanas. Vou continuar a ler alegremente...
segunda-feira, dezembro 25, 2006
domingo, dezembro 17, 2006
Nem sempre é assim
É divertido que encontrei e comecei a ler um livro Zen com o título "Nem sempre é assim", logo após escrever o post em que repetia a frase "é mesmo assim".
A sensação que tenho é que uma pessoa que comece a ler livros destes, sobre Zen, sem ter lido livros sobre budismo, tipo "O ensinamento de Buda", por exemplo, fica sem perceber nada de budismo. Bom, mas talvez faça também sentido ler Zen primeiro, sei la. Eu acho interessante o "largar o budismo e acordar já" do Zen. :-)
Há esta ideia que me parece particularmente interessante. A realidade é aquilo que se experimenta antes de se catalogar. As coisas acontecem, experimentam-se, depois descrevemos, catalogamos, julgamos, devia ser, não devia ser. Isso já não é a realidade. Ao observar uma flor, antes de a descrever, antes de pensar, ai está a realidade. É interessante... Mas parece que estamos convencidos que a realidade é a arrumação intelectual, a catalogação que fazemos das coisas, depois de acontecerem. É como se fosse preciso processar a realidade e simplifica-la para encaixar na nossa limitada conceptualização para que ela se torne real!
Não é um descanso saber que a realidade é, que não é preciso fazer nenhum esforço para a criar? A mim faz-me sentir em paz. Mas se calhar é só por ser alentejano, isto de não ter que fazer nada é mesmo apelativo! Excelente religião para alentejanos! Eheh, tou a brincar, claro que a ideia não é não fazer nada, faz-se tudo na mesma, a motivação é que fica mais... pura.
É mesmo assim... nem sempre é assim... é mesmo assim...
A sensação que tenho é que uma pessoa que comece a ler livros destes, sobre Zen, sem ter lido livros sobre budismo, tipo "O ensinamento de Buda", por exemplo, fica sem perceber nada de budismo. Bom, mas talvez faça também sentido ler Zen primeiro, sei la. Eu acho interessante o "largar o budismo e acordar já" do Zen. :-)
Há esta ideia que me parece particularmente interessante. A realidade é aquilo que se experimenta antes de se catalogar. As coisas acontecem, experimentam-se, depois descrevemos, catalogamos, julgamos, devia ser, não devia ser. Isso já não é a realidade. Ao observar uma flor, antes de a descrever, antes de pensar, ai está a realidade. É interessante... Mas parece que estamos convencidos que a realidade é a arrumação intelectual, a catalogação que fazemos das coisas, depois de acontecerem. É como se fosse preciso processar a realidade e simplifica-la para encaixar na nossa limitada conceptualização para que ela se torne real!
Não é um descanso saber que a realidade é, que não é preciso fazer nenhum esforço para a criar? A mim faz-me sentir em paz. Mas se calhar é só por ser alentejano, isto de não ter que fazer nada é mesmo apelativo! Excelente religião para alentejanos! Eheh, tou a brincar, claro que a ideia não é não fazer nada, faz-se tudo na mesma, a motivação é que fica mais... pura.
É mesmo assim... nem sempre é assim... é mesmo assim...
sexta-feira, dezembro 08, 2006
Om mani padme hum
Já cantei muitos mantras em aulas de yoga. Mas este é mesmo o meu preferido. Nem sei bem o que significa, já li sobre tantas interpretações diferentes.
Para mim exprime um desejo de desenvolvimento de amor incondicional, de sabedoria e das duas coisas em simultâneo. Enfim, um desejo de despertar, de progredir na remoção de obstáculos que nos impedem de estar de coração aberto e também de aceitar as coisas tal como são.
No retiro com o Sagara gostei tanto de cantar este mantra. Repetia-se quatro vezes numa melodia muito bonita. Infelizmente não me lembro precisamente da melodia. Já procurei na net, encontrei muitas melodias, mas não esta :-(
Quero cantar outra vez! :-)
Para mim exprime um desejo de desenvolvimento de amor incondicional, de sabedoria e das duas coisas em simultâneo. Enfim, um desejo de despertar, de progredir na remoção de obstáculos que nos impedem de estar de coração aberto e também de aceitar as coisas tal como são.
No retiro com o Sagara gostei tanto de cantar este mantra. Repetia-se quatro vezes numa melodia muito bonita. Infelizmente não me lembro precisamente da melodia. Já procurei na net, encontrei muitas melodias, mas não esta :-(
Quero cantar outra vez! :-)
sexta-feira, dezembro 01, 2006
A minha prática de yoga
Uma das coisa que gosto de fazer é tentar posturas difíceis. Actualmente ando a tentar o apoio nas mãos, afastado da parede. Ainda só consegui ficar cerca de vinte segundos (a da foto já é fácil :-) ).
Normalmente começo a fazer posturas assim que fico parado. Dá-me vontade e faço. Quer esteja sozinho em casa quer esteja no meio de pessoas. Este verão fazia sessões de yoga sozinho na praia cheia de gente. Além de ser agradável fazer yoga na praia, é um desafio ficar no meio de tanta gente e conseguir... fazer como se não estivesse ninguém... a pensar que sou um exibicionista :-). Mas acho muito difícil o yoga incomodar realmente alguém, é muito parado e não faz barulho, basta olhar para outro lado.
Além das duas regulares aulas por semana, faço quase todos os dias umas posturas em casa. E por vezes sessões completas, com pranayama, relaxamento e tudo.
O meu estado de espírito muda muito depois de fazer yoga. Fico mais calmo, bem disposto, mais atento, e é tão simples...
Em termos físicos acho que o yoga é mesmo bom para a flexibilidade e equilíbrio. Mas acho que para treino aeróbico e força não é grande coisa. Além do yoga corro e nado, e até levanto pesos uma vez por semana!
É importante manter o corpo em bom estado. Mens sana in corpore sano!
A minha prática de meditação
Agora estou a meditar todos os dias de manhã. Coloco o cronómetro do telemovel em contagem decrescente: 20 minutos. E por vezes mais vinte.
Tem acontecido assim. Começo por observar a respiração, centro-me no movimento suave do abdómen, e começo a ficar muito tranquilo. A certa altura ligo à insatisfação profunda que existe em mim, e reconheço que existe o mesmo no coração das outras pessoas, e choro, por vezes até soluço. Depois começo novamente a ficar tranquilo. Mas estou mais sensível, menos auto-centrado, mais ligado aos outros. E faço metta, primeiro eu, depois alguém próximo, alguém neutro, alguém difícil, todos juntos, e todos sem excepção. A seguir fico apenas a notar, mas não foco num ponto, fico a notar tudo o que está a acontecer no momento, as sensações no corpo, a respiração, o bater do coração, os sons da rua, os pensamentos que vão aparecendo... Dirijo a atenção aos estímulos que surgem, e solto logo a seguir. Por vezes também procuro sensações agradáveis, desagradáveis e neutras no corpo, e solto logo. Claro que também fico perdido nos filmes mentais, mas depois volto, sem frustração... é mesmo assim...
Não escolhi fazer isto assim, acho que se auto-arranjou. Parece muita coisa pra pouco tempo, e é! Por vezes fico na primeira parte, a de ficar tranquilo, e nem isso resulta. Esta manhã fiz tudo, em cerca de 45 minutos, mas perdi-me durante algum tempo na última parte, num sonho qualquer. Mas não faz mal... é mesmo assim...
Acho que cada pessoa que queira praticar meditação acaba por encontrar a sua própria rotina. A minha regularidade foi duvidosa durante muitos meses, mas parece que agora estabilizou. E se mudar muda... é mesmo assim...
Om Shanti! (Paz Fofinha)
Tem acontecido assim. Começo por observar a respiração, centro-me no movimento suave do abdómen, e começo a ficar muito tranquilo. A certa altura ligo à insatisfação profunda que existe em mim, e reconheço que existe o mesmo no coração das outras pessoas, e choro, por vezes até soluço. Depois começo novamente a ficar tranquilo. Mas estou mais sensível, menos auto-centrado, mais ligado aos outros. E faço metta, primeiro eu, depois alguém próximo, alguém neutro, alguém difícil, todos juntos, e todos sem excepção. A seguir fico apenas a notar, mas não foco num ponto, fico a notar tudo o que está a acontecer no momento, as sensações no corpo, a respiração, o bater do coração, os sons da rua, os pensamentos que vão aparecendo... Dirijo a atenção aos estímulos que surgem, e solto logo a seguir. Por vezes também procuro sensações agradáveis, desagradáveis e neutras no corpo, e solto logo. Claro que também fico perdido nos filmes mentais, mas depois volto, sem frustração... é mesmo assim...
Não escolhi fazer isto assim, acho que se auto-arranjou. Parece muita coisa pra pouco tempo, e é! Por vezes fico na primeira parte, a de ficar tranquilo, e nem isso resulta. Esta manhã fiz tudo, em cerca de 45 minutos, mas perdi-me durante algum tempo na última parte, num sonho qualquer. Mas não faz mal... é mesmo assim...
Acho que cada pessoa que queira praticar meditação acaba por encontrar a sua própria rotina. A minha regularidade foi duvidosa durante muitos meses, mas parece que agora estabilizou. E se mudar muda... é mesmo assim...
Om Shanti! (Paz Fofinha)
quinta-feira, novembro 16, 2006
Clareza
Agora parece-me tudo tão claro. Enquanto as coisas forem vistas desta forma a insatisfação fundamental vai sempre existir. O problema é as coisas aparecerem permanecerem e depois desaparecerem. A solução é ver que não permanecem, que é tudo apenas um fluxo.
Podemos procurar esquecer esta insatisfação de fundo, consequência de ver tudo a morrer à nossa volta, de irmos também morrer, e nada parecer ter sentido. Para isso é preciso arranjar muitas distracções, fazer muitas coisas para não pensar muito. E ir vivendo pequenos prazeres, cultivando os apegos. E vejo toda a gente à minha volta a seguir este caminho, a agarrar-se a coisas, a distracções, a tentar fazer muitas coisas, convencidos de que é a solução, de que é "aproveitar a vida", todos a fugir de si próprios, desesperadamente, tudo em vão... Esta solução não me satisfaz, definitivamente. Sei que a insatisfação se vai sempre manter. No entanto por vezes desperdiço tanta energia a alimentar ilusões, que agora vejo claramente só me afastarem do essencial: a realidade, dura e crua. Não quero voltar a fugir.
Outra hipótese é adoptar um sistema de crenças, uma religião qualquer que nos permita explicar tudo, e tudo fica com sentido. Isto para mim também não dá, ia sempre ter dúvidas e a insatisfação persistiria.
O budismo é qualquer coisa a meio. Não se evita o problema mas também não há crenças. A ideia é precisamente deixar as crenças, os apegos, soltar todas as falsas seguranças e ver e aceitar as coisas tal como são. Acabar com o "querer que sejam de outra forma". Esta é a raiz do sofrimento, e vendo o Todo, sendo uno com o Todo, o sofrimento desaparece.
Pronto, só há mudança, mais nada, é claro que nada permanece, e não há "eu" nenhum, é tudo uma ilusão. Há um fluxo, apenas. E agora? O problema é que a compreensão disto não basta. Não adianta repetir muitas vezes que as coisas de facto são assim. É preciso despertar, Ver, ou melhor Ser. Talvez um dia venha a ser claro que "os quereres" não são nada, e que os filmes mentais são menos interessantes que este momento, e venha a ser possível estar, em pleno, no momento presente. Na verdade sei que é possível andar neste sentido, e isso para mim basta.
Mas é preciso impregnar o ser com este conhecimento, gerar sabedoria, treinar a mente, meditar. Experimentar a impermanência, no corpo, na mente, no dia a dia... E ficar cada vez mais sensível, cada vez mais desperto. Investigar, e paralelamente à sabedoria cultivar o amor/compaixão, afinal todos os seres têm o mesmo problema, e vai tudo no mesmo sentido. É preciso ir removendo tudo aquilo que nos tapa os olhos.
E se houver mesmo muitas vidas qual é a pressa? :-) Pouco importa se há ou não muitas vidas. O que é facto é que existe um sentido de urgência, um desejo de despertar. Não é útil fazer perguntas sobre a flecha, é preciso remove-la. Na verdade não sabemos grande coisa. E no budismo não se procura explicar tudo. Há um problema concreto, esta insatisfação, o meu sofrimento, o de todos os seres. Há uma intuição de que é possível viver em verdade, deixar as crenças e apegos, soltar tudo, aceitar as coisas tal como são, despertar, acabando finalmente com o sofrimento.
Entretanto, o melhor a fazer é continuar alegremente com a "prática do agora", para o beneficio de todos os seres. Esta frase soa mesmo bem! :-)
Podemos procurar esquecer esta insatisfação de fundo, consequência de ver tudo a morrer à nossa volta, de irmos também morrer, e nada parecer ter sentido. Para isso é preciso arranjar muitas distracções, fazer muitas coisas para não pensar muito. E ir vivendo pequenos prazeres, cultivando os apegos. E vejo toda a gente à minha volta a seguir este caminho, a agarrar-se a coisas, a distracções, a tentar fazer muitas coisas, convencidos de que é a solução, de que é "aproveitar a vida", todos a fugir de si próprios, desesperadamente, tudo em vão... Esta solução não me satisfaz, definitivamente. Sei que a insatisfação se vai sempre manter. No entanto por vezes desperdiço tanta energia a alimentar ilusões, que agora vejo claramente só me afastarem do essencial: a realidade, dura e crua. Não quero voltar a fugir.
Outra hipótese é adoptar um sistema de crenças, uma religião qualquer que nos permita explicar tudo, e tudo fica com sentido. Isto para mim também não dá, ia sempre ter dúvidas e a insatisfação persistiria.
O budismo é qualquer coisa a meio. Não se evita o problema mas também não há crenças. A ideia é precisamente deixar as crenças, os apegos, soltar todas as falsas seguranças e ver e aceitar as coisas tal como são. Acabar com o "querer que sejam de outra forma". Esta é a raiz do sofrimento, e vendo o Todo, sendo uno com o Todo, o sofrimento desaparece.
Pronto, só há mudança, mais nada, é claro que nada permanece, e não há "eu" nenhum, é tudo uma ilusão. Há um fluxo, apenas. E agora? O problema é que a compreensão disto não basta. Não adianta repetir muitas vezes que as coisas de facto são assim. É preciso despertar, Ver, ou melhor Ser. Talvez um dia venha a ser claro que "os quereres" não são nada, e que os filmes mentais são menos interessantes que este momento, e venha a ser possível estar, em pleno, no momento presente. Na verdade sei que é possível andar neste sentido, e isso para mim basta.
Mas é preciso impregnar o ser com este conhecimento, gerar sabedoria, treinar a mente, meditar. Experimentar a impermanência, no corpo, na mente, no dia a dia... E ficar cada vez mais sensível, cada vez mais desperto. Investigar, e paralelamente à sabedoria cultivar o amor/compaixão, afinal todos os seres têm o mesmo problema, e vai tudo no mesmo sentido. É preciso ir removendo tudo aquilo que nos tapa os olhos.
E se houver mesmo muitas vidas qual é a pressa? :-) Pouco importa se há ou não muitas vidas. O que é facto é que existe um sentido de urgência, um desejo de despertar. Não é útil fazer perguntas sobre a flecha, é preciso remove-la. Na verdade não sabemos grande coisa. E no budismo não se procura explicar tudo. Há um problema concreto, esta insatisfação, o meu sofrimento, o de todos os seres. Há uma intuição de que é possível viver em verdade, deixar as crenças e apegos, soltar tudo, aceitar as coisas tal como são, despertar, acabando finalmente com o sofrimento.
Entretanto, o melhor a fazer é continuar alegremente com a "prática do agora", para o beneficio de todos os seres. Esta frase soa mesmo bem! :-)
segunda-feira, novembro 13, 2006
Dhyanas
Faz hoje uma semana que me aconteceu a coisa mais extraordinária de sempre. Estava a passar por um profundo desgosto. Li um pouco de um livro sobre budismo Zen. Uns momentos depois o meu estado de consciência mudou. Estava muito relaxado, todo o querer desapareceu e fiquei num estado de aceitação total. Os sentidos ficaram como que amplificados. Como se o contraste fosse realçado. Comecei a ouvir todos os sons, os pequenos desconfortos mostraram-se, a consciência corporal aumentou, senti uma pequena dor no pescoço que já lá estava. Havia um profundo contentamento. O reconhecimento de que tudo o que existe é o momento presente, aquilo que está realmente a acontecer tornou-se muito mais interessante que os usuais filmes mentais. Os pensamentos começaram a surgir um a um. E era um aparece solta, aparece solta, muito claro. Um deles era "isto está mesmo a acontecer" meio questão, meio afirmação. E outro "nunca vou conseguir explicar isto a ninguém". Também os usuais pensamentos recorrentes apareceram, mas não ficaram, vi-os claramente como ilusões, criadas pela mente para me afastar da realidade, do momento presente, que é única coisa que existe. E surge esta frase plena de significado "é preciso querer Ver, mas para ver Ver não se pode querer".
Foi como se uma película que turva a percepção tivesse sido removida, pela primeira vez. E parecia ver as coisas pela primeira vez. Como se nunca as tivesse notado. O estado era caracterizado pelo soltar, a atenção dirigia-se claramente a cada objecto, visual, auditivo, táctil, mental, para logo depois o soltar. E tudo era observado. Acho que isto pode ser comparado ao que acontece sob o efeito de álcool. Quando se bebe o estado de consciência muda, fica mais obscurecido. Foi como que ao contrário, como se tivesse andado com os copos a vida toda, e agora finalmente, tivesse ficado sóbrio por algum tempo.
Agora sei qual é a diferença entre compreender e Ver. Entendo que mesmo o Dharma é para ser soltado. Vejo claramente que é possível apenas estar, ser só presença, desperta. Viver mesmo o presente ganhou para mim outro significado. O budismo só interessa mesmo para isto. São indicações de quem despertou para nos ajudar a despertar. E despertar não é mais que ver para além do querer, é ver directamente, e não através de conceptualizações inclusive budistas. Claro que provavelmente o que acabei de escrever não faz nenhum sentido para muita gente. Talvez faça para algumas pessoas, para mim faz.
Falei com pessoas esclarecidas sobre isto e parece que é uma coisa natural. Estando num estado de maior receptividade é natural que se tivessem criado condições para isto acontecer. Este estado é aparentemente um estado de absorção chamado "primeiro Dhyana". Estados assim podem ser induzidos. Em retiros prolongados podem-se conseguir induzir intencionalmente. Eu não faço a miníma ideia de como repetir a "experiência".
Note-se que não estou a falar de uma coisa tipo "ah, hoje estou um bocadinho mais claro". Eu não sou muito dado a eventos extraordinários e experiências místicas. Mas isto é mesmo extraordinário e não há qualquer dúvida quando acontece.
Estive depois a ler sobre Dhyanas e parece que existem oito, sendo este o mais básico. E há pessoas que conseguem "entrar" em cada um intencionalmente, permanecer o tempo que querem e sair quando querem.
Decididamente, vou continuar a meditar e a participar em retiros.
Foi como se uma película que turva a percepção tivesse sido removida, pela primeira vez. E parecia ver as coisas pela primeira vez. Como se nunca as tivesse notado. O estado era caracterizado pelo soltar, a atenção dirigia-se claramente a cada objecto, visual, auditivo, táctil, mental, para logo depois o soltar. E tudo era observado. Acho que isto pode ser comparado ao que acontece sob o efeito de álcool. Quando se bebe o estado de consciência muda, fica mais obscurecido. Foi como que ao contrário, como se tivesse andado com os copos a vida toda, e agora finalmente, tivesse ficado sóbrio por algum tempo.
Agora sei qual é a diferença entre compreender e Ver. Entendo que mesmo o Dharma é para ser soltado. Vejo claramente que é possível apenas estar, ser só presença, desperta. Viver mesmo o presente ganhou para mim outro significado. O budismo só interessa mesmo para isto. São indicações de quem despertou para nos ajudar a despertar. E despertar não é mais que ver para além do querer, é ver directamente, e não através de conceptualizações inclusive budistas. Claro que provavelmente o que acabei de escrever não faz nenhum sentido para muita gente. Talvez faça para algumas pessoas, para mim faz.
Falei com pessoas esclarecidas sobre isto e parece que é uma coisa natural. Estando num estado de maior receptividade é natural que se tivessem criado condições para isto acontecer. Este estado é aparentemente um estado de absorção chamado "primeiro Dhyana". Estados assim podem ser induzidos. Em retiros prolongados podem-se conseguir induzir intencionalmente. Eu não faço a miníma ideia de como repetir a "experiência".
Note-se que não estou a falar de uma coisa tipo "ah, hoje estou um bocadinho mais claro". Eu não sou muito dado a eventos extraordinários e experiências místicas. Mas isto é mesmo extraordinário e não há qualquer dúvida quando acontece.
Estive depois a ler sobre Dhyanas e parece que existem oito, sendo este o mais básico. E há pessoas que conseguem "entrar" em cada um intencionalmente, permanecer o tempo que querem e sair quando querem.
Decididamente, vou continuar a meditar e a participar em retiros.
domingo, novembro 05, 2006
Completamente pedido
Agora nada mais faz sentido. O que sou afinal? O que quero? Digo a mim próprio o que sou, o que quero, mas não acredito no que digo. Já não distingo o que sou do que quero ser. Já não sei em que parte do caminho me encontro, oscilo entre a meta a alcançar e um ponto que passou, mas não sei em que ponto me encontro, nem que caminho estou a seguir. Não sinto nada, e depois sinto tanto e depois nada. Onde estão as minhas ilusões preferidas? A realidade é insuportável! Preciso desesperadamente de uma nova ilusão para me agarrar. Estou completamente perdido...
sexta-feira, novembro 03, 2006
O fundo do vale
Às vezes descemos tão fundo que parece que não vamos voltar a subir... mas não é assim, depois vem a colina, vem sempre a colina, e começamos de novo a subir, alguma vez não foi assim?
Reflectir e meditar na impermanencia dá muito jeito nestas alturas... tudo muda, é só uma questão de tempo... melhores tempos virão... a colina vai aparecer...
É só ficar sentado, observar o momento presente... sentir o corpo, observar os pensamentos... sem agarrar ou alimentar nenhum deles...
Reflectir e meditar na impermanencia dá muito jeito nestas alturas... tudo muda, é só uma questão de tempo... melhores tempos virão... a colina vai aparecer...
É só ficar sentado, observar o momento presente... sentir o corpo, observar os pensamentos... sem agarrar ou alimentar nenhum deles...
terça-feira, outubro 31, 2006
Crescer
Quero, sim quero. Poder ter o coração sempre aberto e dar, dar e desaparecer para não poder receber nada em troca. Dar a qualquer ser, sem o ter. Poder tocar qualquer pessoa, dar afecto a qualquer um, a quem nunca vi. Agarrar e dançar com qualquer pessoa, ansiosa ou tranquila, velha ou nova, bonita ou feia, saudável ou doente, perfumada ou mal cheirosa, e sentir para além do seu querer, do seu corpo, do seu cheiro, um coração igual ao meu, e ligar ao ser humano que como eu sofre. Dar um bocadinho de afecto, a qualquer ser.
A dor é tanta que parece que não a vou poder suportar mais. Mas é melhor assim, é melhor manter o coração aberto e sofrer tanto, que ficar insensível, à superfície, morto em vida. As lágrimas que não param de correr e a insuportável dor no peito são boas, são vida. A vida dói, crescer dói.
E devia fazer amor com quem quiser, com que precisar. Devia poder fazer amor com toda a gente. O sexo também pode ser uma forma de afecto. Vendo para além de todos os preconceitos deste mundo obscurecido, é uma forma linda de conectar dois seres, especialmente se não está ligado a nenhuma posse, se não há apego. Fazer amor com quem nunca se viu, encher um coração humano de alegria, e desaparecer...
Sim, quero crescer. Sofrer livremente, fazer de tudo um pouco, descer ao fundo e voltar à superfície e voltar a descer. Já não sei se o budismo me abre o coração ou fecha. Bom, a meditação faz-me chorar tantas vezes. Mas não pode ser só ficar sentado a meditar, protegido das tempestades...
E quero um lar e uma familia. Mas não para me esconder, para me proteger. Quero que o meu lar seja todo o universo e a minha família seja constituída por todos os seres. Quero ser capaz um dia de poder olhar para qualquer ser humano e ver o ser humano, é assim que quero crescer...
E quero deixar de querer... e ser só amor...
A dor é tanta que parece que não a vou poder suportar mais. Mas é melhor assim, é melhor manter o coração aberto e sofrer tanto, que ficar insensível, à superfície, morto em vida. As lágrimas que não param de correr e a insuportável dor no peito são boas, são vida. A vida dói, crescer dói.
E devia fazer amor com quem quiser, com que precisar. Devia poder fazer amor com toda a gente. O sexo também pode ser uma forma de afecto. Vendo para além de todos os preconceitos deste mundo obscurecido, é uma forma linda de conectar dois seres, especialmente se não está ligado a nenhuma posse, se não há apego. Fazer amor com quem nunca se viu, encher um coração humano de alegria, e desaparecer...
Sim, quero crescer. Sofrer livremente, fazer de tudo um pouco, descer ao fundo e voltar à superfície e voltar a descer. Já não sei se o budismo me abre o coração ou fecha. Bom, a meditação faz-me chorar tantas vezes. Mas não pode ser só ficar sentado a meditar, protegido das tempestades...
E quero um lar e uma familia. Mas não para me esconder, para me proteger. Quero que o meu lar seja todo o universo e a minha família seja constituída por todos os seres. Quero ser capaz um dia de poder olhar para qualquer ser humano e ver o ser humano, é assim que quero crescer...
E quero deixar de querer... e ser só amor...
domingo, outubro 29, 2006
As outras duas
Aprendemos a metta. Meditação em que se cultiva o amor. Primeiro
por nós, depois alguém de quem se gosta, depois alguém neutro e
finalmente alguém com quem se tem dificuldades. Fiquei sempre com lágrimas na última fase. Ver a pessoa como um ser humano, que sofre também, ainda sofre mais que os outros, é menos hábil a livrar-se do sofrimento, dai as dificuldades que tenho com ela. Mas as minhas lágrimas não são grande coisa, a tristeza vem da minha impotência em fazer alguma coisa...
E no fim recebemos o mapa da felicidade. Interdependente em oposição a auto-centrado, amor em oposição a avidez/aversão, acção hábil em oposição a acção não hábil e felicidade em oposição a infelicidade. Três círculos concêntricos, no exterior encontra-se a felicidade, amor, acção hábil e interdependência, tudo relacionado.
Adorei o curso, o Sagara, tudo. Mas neste momento, por outras razões, não estou capaz de escrever nada de jeito. Nem avisto ao longe circulo nenhum...
É nestas alturas que a impermanência ajuda... isto só pode melhorar...
por nós, depois alguém de quem se gosta, depois alguém neutro e
finalmente alguém com quem se tem dificuldades. Fiquei sempre com lágrimas na última fase. Ver a pessoa como um ser humano, que sofre também, ainda sofre mais que os outros, é menos hábil a livrar-se do sofrimento, dai as dificuldades que tenho com ela. Mas as minhas lágrimas não são grande coisa, a tristeza vem da minha impotência em fazer alguma coisa...
E no fim recebemos o mapa da felicidade. Interdependente em oposição a auto-centrado, amor em oposição a avidez/aversão, acção hábil em oposição a acção não hábil e felicidade em oposição a infelicidade. Três círculos concêntricos, no exterior encontra-se a felicidade, amor, acção hábil e interdependência, tudo relacionado.
Adorei o curso, o Sagara, tudo. Mas neste momento, por outras razões, não estou capaz de escrever nada de jeito. Nem avisto ao longe circulo nenhum...
É nestas alturas que a impermanência ajuda... isto só pode melhorar...
sábado, outubro 14, 2006
Segunda aula
Aceitação e desprendimento, é o trabalho de casa.
Estava eu todo orgulhoso da minha atitude de aceitação das últimas semanas, e afinal é o que se aprende na segunda aula de um curso de meditação budista! Mas é bom para o ego. Quando algo atinge o ego surge a sua defesa e contra-ataque espontâneos, mas agora às vezes consigo parar, ficar o olhar para mim, não me defender, e divirto-me com a situação. Isto de observar a mente é o passatempo mais divertido e interessante que já tive! Ops, afastei-me do tema.
Aceitação, a ideia não é ficar passivo e aceitar o que nos cair em cima. Pelo contrário, é aceitar as coisas como são, notando todas os aspectos da experiência de estar vivo sem particular apego por nenhum deles, o que nos permite agir com maior discernimento e eficácia. Assim, aceitação e desprendimento estão relacionados.
Uma criança sobre, sofro por empatia com ela, não fico indiferente ao seu sofrimento, mas também não me identifico com o sofrimento da criança, não me apego a essa face de mim, mantenho-me aberto, sensível a toda a experiência, o que permite ter o distanciamento e discernimento necessário para fazer alguma coisa por ela. Estava na aula uma senhora que lida com crianças que sofrem. Ela e o Sagara, deixaram uma luz clara sobre esta ideia, esta atitude de abertura e sensibilidade, que é o desprendimento.
Acho que algumas pessoas consideram que é uma prova de grande sensibilidade ficar completamente impotente perante o sofrimento de alguém, de tanto se sofrer por empatia. E talvez venha daí a confusão entre desapego e indiferença. Acho que de certa forma, o desapego é qualquer coisa a meio, abertura e clareza, entre dois estados de cegueira.
O exemplo da fila no transito também é interessante. Não adianta muito ficar ansioso, a ansiedade não vai fazer os carros andarem ou o relógio parar. É um momento excelente para praticar a aceitação e o desprendimento. Há apego, sou apenas o querer chegar ao destino. É preciso aceitar a situação, não vou mesmo chegar já, estou aqui. E sentir o estar, notar que não tenho que ser só o querer. Estar sentado no sofá do carro também é aceitável. Há coisas para fazer, e uma oportunidade para não fazer nada, apenas estar, sentir o momento, praticar a atenção plena ou fazer Pranaymana... Estava mesmo ansioso com o que? Ah, acho que ia caminho não sei de onde... :-)
Nestas coisas, ser demasiado sério não é bom. Na verdade, o caminho do meio é sempre o melhor em tudo.
Ei, mas não é só na fila de transito que a atitude de aceitação e desprendimento é saudável! Eu acho que é sempre, em todo o instante. Permite-nos mesmo trabalhar de forma mais eficaz. Pois estando relaxado e sem desperdiçar energia em quereres inúteis, é mais simples fazer o melhor possível. E tendo feito o melhor possível podemos desapegar-nos dos frutos, como diz no yoga sutra do Patanjali, das consequências do que fizemos. Pois não podemos controlar tudo, existe a adversidade.
E enquanto ideia isto não serve de nada. Pode-se por em prática, já! Eu estou pondo, ao escrever isto, aceitando as minhas limitações de memória, e para a escrita, e tudo o mais, e sem dar demasiada importância a isto de estar para aqui a escrever num blog, e a ver mais neste momento que apenas a minha mente a produzir palavras que para aqui escrevo.
Ao ler isto podemos observar os seis sentidos. Ver, ouvir, sentir, cheirar, saborear, e observar também a mente incansável, os pensamentos e emoções que vão surgindo... Hum... e quando acabar de ler posso parar por um instante, reconheço a mim próprio o direito de fazer isso, e observo, neste momento único, os seis sentidos, a impermanência...
Estava eu todo orgulhoso da minha atitude de aceitação das últimas semanas, e afinal é o que se aprende na segunda aula de um curso de meditação budista! Mas é bom para o ego. Quando algo atinge o ego surge a sua defesa e contra-ataque espontâneos, mas agora às vezes consigo parar, ficar o olhar para mim, não me defender, e divirto-me com a situação. Isto de observar a mente é o passatempo mais divertido e interessante que já tive! Ops, afastei-me do tema.
Aceitação, a ideia não é ficar passivo e aceitar o que nos cair em cima. Pelo contrário, é aceitar as coisas como são, notando todas os aspectos da experiência de estar vivo sem particular apego por nenhum deles, o que nos permite agir com maior discernimento e eficácia. Assim, aceitação e desprendimento estão relacionados.
Uma criança sobre, sofro por empatia com ela, não fico indiferente ao seu sofrimento, mas também não me identifico com o sofrimento da criança, não me apego a essa face de mim, mantenho-me aberto, sensível a toda a experiência, o que permite ter o distanciamento e discernimento necessário para fazer alguma coisa por ela. Estava na aula uma senhora que lida com crianças que sofrem. Ela e o Sagara, deixaram uma luz clara sobre esta ideia, esta atitude de abertura e sensibilidade, que é o desprendimento.
Acho que algumas pessoas consideram que é uma prova de grande sensibilidade ficar completamente impotente perante o sofrimento de alguém, de tanto se sofrer por empatia. E talvez venha daí a confusão entre desapego e indiferença. Acho que de certa forma, o desapego é qualquer coisa a meio, abertura e clareza, entre dois estados de cegueira.
O exemplo da fila no transito também é interessante. Não adianta muito ficar ansioso, a ansiedade não vai fazer os carros andarem ou o relógio parar. É um momento excelente para praticar a aceitação e o desprendimento. Há apego, sou apenas o querer chegar ao destino. É preciso aceitar a situação, não vou mesmo chegar já, estou aqui. E sentir o estar, notar que não tenho que ser só o querer. Estar sentado no sofá do carro também é aceitável. Há coisas para fazer, e uma oportunidade para não fazer nada, apenas estar, sentir o momento, praticar a atenção plena ou fazer Pranaymana... Estava mesmo ansioso com o que? Ah, acho que ia caminho não sei de onde... :-)
Nestas coisas, ser demasiado sério não é bom. Na verdade, o caminho do meio é sempre o melhor em tudo.
Ei, mas não é só na fila de transito que a atitude de aceitação e desprendimento é saudável! Eu acho que é sempre, em todo o instante. Permite-nos mesmo trabalhar de forma mais eficaz. Pois estando relaxado e sem desperdiçar energia em quereres inúteis, é mais simples fazer o melhor possível. E tendo feito o melhor possível podemos desapegar-nos dos frutos, como diz no yoga sutra do Patanjali, das consequências do que fizemos. Pois não podemos controlar tudo, existe a adversidade.
E enquanto ideia isto não serve de nada. Pode-se por em prática, já! Eu estou pondo, ao escrever isto, aceitando as minhas limitações de memória, e para a escrita, e tudo o mais, e sem dar demasiada importância a isto de estar para aqui a escrever num blog, e a ver mais neste momento que apenas a minha mente a produzir palavras que para aqui escrevo.
Ao ler isto podemos observar os seis sentidos. Ver, ouvir, sentir, cheirar, saborear, e observar também a mente incansável, os pensamentos e emoções que vão surgindo... Hum... e quando acabar de ler posso parar por um instante, reconheço a mim próprio o direito de fazer isso, e observo, neste momento único, os seis sentidos, a impermanência...
quarta-feira, outubro 04, 2006
Não me faças mal...
Se olharmos bem, vemos que qualquer pessoa tem escrito na testa em letras grandes
"não me faças mal"
e um pouco mais abaixo
"e, se possível, gosta um bocadinho de mim"
Algumas pessoas têm um ar tão carrancudo que não conseguimos ver que têm estas frases escritas na cara...
Gostei de ouvir o Sagarapriya dizer isto.
terça-feira, outubro 03, 2006
Primeira aula
Gostei muito da primeira aula. Ouve alturas em que senti muita pena de não ter levado toda a gente comigo pro curso!
O Sagarapriya fala com muita clareza e tem um excelente sentido de humor. E deve ser muito difícil não gostar dele. Eu estava um pouco curioso em como seria um curso de meditação, pois é suposto estar-se calado quando se medita. Bom, no curso a meditação é guiada, e depois temos os trabalhos de casa para fazer em silêncio.
Começámos por perguntar a nós próprios o que pretendíamos com a meditação. Depois falámos com a pessoa do lado sobre isso, e a seguir algumas pessoas falaram para todos. As motivações de todos são naturalmente profundas...
Comemos três passas cada um. Observando, cheirando, ouvindo, saboreando... E depois falámos da experiência. Algumas pessoas não gostavam de passas.
A ideia era notar, sentir, estar atento ao que se está a fazer. Falou-se na inconsciência em que normalmente estamos mergulhados, de tal modo que nem sabemos por onde a mente andou.
E quem não gosta de passas teve a oportunidade de não se identificar com o "não gostar" e comer as passas. Assim até é mais interessante observar. Isto fez-me lembrar aquela ideia para mim muito útil de encarar as adversidades como oportunidades, desafios, para poder melhorar, transcender a limitação, em vez de ficarmos apenas incomodados com o desagrado que provocam. Quando se conseguem ver as coisas assim é um sossego. Em vez da ansiedade de querer que as coisas sejam como gostamos, podemos ficar abertos, receber cada coisa como é, e explorar a experiência o melhor possível. Aceitar as coisas como são é tão importante, é o fim da ansiedade. Mas parece que fazemos um esforço para que as coisas sejam como queremos, como se a vontade de as mudar só por si tivesse algum efeito, além de apenas nos causar mau estar.
Confesso que na primeira passa, além de estar atento à passa, estava também a tentar adivinhar o objectivo da experiência, e lembrei-me da cerimónia do chá, da prática da atenção vigilante... É típico, em vez de sentir a coisa, por vezes penso sobre ela. Mas as outra duas já correram melhor.
Depois fizemos a postura sentado e meditação de plena atenção ao corpo. Como trabalho de casa ficou esta meditação sentada de atenção ao corpo por um lado, e por outro a prática do notar, estar no momento presente, a sentir, a experimentar, que se pode fazer em qualquer altura.
Eu já faço isto, especialmente em relação à negatividade de pensamentos e emoções. Procuro a todo o instante observar logo que surgem, e adoptar de imediato uma perspectiva mais abrangente, que me permite, com um sorriso meio idiota na cara, eliminar a negatividade quase de imediato, e continuar a apreciar.
Acho que, mesmo em relação ao budismo, o meu maior problema é pensar mais que sentir. Estou convencido que a meditação, especialmente a meta, pode ajudar nisto. Queria mesmo poder aproximar-me mais das pessoas e senti-las de modo a ser-lhes útil. Não todos os seres, as pessoas com quem falo... E isto não é armar em bonzinho. Acredito mesmo que é a melhor maneira de cultivar as causas de felicidade, das outras pessoas e também a minha. Hum, vamos ver se o curso ajuda...
O Sagarapriya fala com muita clareza e tem um excelente sentido de humor. E deve ser muito difícil não gostar dele. Eu estava um pouco curioso em como seria um curso de meditação, pois é suposto estar-se calado quando se medita. Bom, no curso a meditação é guiada, e depois temos os trabalhos de casa para fazer em silêncio.
Começámos por perguntar a nós próprios o que pretendíamos com a meditação. Depois falámos com a pessoa do lado sobre isso, e a seguir algumas pessoas falaram para todos. As motivações de todos são naturalmente profundas...
Comemos três passas cada um. Observando, cheirando, ouvindo, saboreando... E depois falámos da experiência. Algumas pessoas não gostavam de passas.
A ideia era notar, sentir, estar atento ao que se está a fazer. Falou-se na inconsciência em que normalmente estamos mergulhados, de tal modo que nem sabemos por onde a mente andou.
E quem não gosta de passas teve a oportunidade de não se identificar com o "não gostar" e comer as passas. Assim até é mais interessante observar. Isto fez-me lembrar aquela ideia para mim muito útil de encarar as adversidades como oportunidades, desafios, para poder melhorar, transcender a limitação, em vez de ficarmos apenas incomodados com o desagrado que provocam. Quando se conseguem ver as coisas assim é um sossego. Em vez da ansiedade de querer que as coisas sejam como gostamos, podemos ficar abertos, receber cada coisa como é, e explorar a experiência o melhor possível. Aceitar as coisas como são é tão importante, é o fim da ansiedade. Mas parece que fazemos um esforço para que as coisas sejam como queremos, como se a vontade de as mudar só por si tivesse algum efeito, além de apenas nos causar mau estar.
Confesso que na primeira passa, além de estar atento à passa, estava também a tentar adivinhar o objectivo da experiência, e lembrei-me da cerimónia do chá, da prática da atenção vigilante... É típico, em vez de sentir a coisa, por vezes penso sobre ela. Mas as outra duas já correram melhor.
Depois fizemos a postura sentado e meditação de plena atenção ao corpo. Como trabalho de casa ficou esta meditação sentada de atenção ao corpo por um lado, e por outro a prática do notar, estar no momento presente, a sentir, a experimentar, que se pode fazer em qualquer altura.
Eu já faço isto, especialmente em relação à negatividade de pensamentos e emoções. Procuro a todo o instante observar logo que surgem, e adoptar de imediato uma perspectiva mais abrangente, que me permite, com um sorriso meio idiota na cara, eliminar a negatividade quase de imediato, e continuar a apreciar.
Acho que, mesmo em relação ao budismo, o meu maior problema é pensar mais que sentir. Estou convencido que a meditação, especialmente a meta, pode ajudar nisto. Queria mesmo poder aproximar-me mais das pessoas e senti-las de modo a ser-lhes útil. Não todos os seres, as pessoas com quem falo... E isto não é armar em bonzinho. Acredito mesmo que é a melhor maneira de cultivar as causas de felicidade, das outras pessoas e também a minha. Hum, vamos ver se o curso ajuda...
terça-feira, setembro 26, 2006
Contentamento
As técnicas budistas de redução de emoções negativas resultam mesmo. Tenho um sentimento crescente de contentamento e aceitação das coisas tal como são. Uma crescente sensação de liberdade. Observo claras transformações em mim próprio. A prática quase constante da atenção vigilante, a análise da vida adoptando perspectivas objectivas e lógicas que equacionam tudo sem o usual esquecer do que não agrada, e o aprofundamento pelas leituras contínuas... resultam.
Quando surge ansiedade surge quase sempre imediatamente "o observador", e volta logo o equilíbrio, a objectividade. A situação não tem peso a mais nem a menos.
Cada vez menos é preciso haver esforço de controle. Claro que já foi mais difícil acabar com as emoções negativas quando surgem. Agora é mais simples, a análise lógica de que não produzem nenhum resultado benéfico, é feita naturalmente. Ou seja, não há uma luta contra a natureza humana... há apenas um uso da inteligência para me opor ao sofrimento que no fundo tem como causa a existência de inteligência. Um treino da mente. E é muito bom viver quase sem ansiedade, cólera, ódio, apego, ciúme, medo...
O contentamento resulta essencialmente deste sentido de progresso. Não é preciso que seja um progresso radical. Basta perceber que pode haver algum progresso. E que a minha atitude em relação a todas as coisas pode ser cada vez mais benevolente. Existe um sentido claro no caminho. Embora consciente de que fases piores que esta vão continuar a aparecer, há um profundo sentido de orientação, e determinação. E um contentamento de fundo, que cultivo com base neste "poder melhorar".
Não sei se é mesmo possível o tal estado totalmente incondicionado da mente, em que todo o potencial se manifesta. O total despertar. Mas não tenho qualquer dúvida de que é possível efectuar transformações profundas no caminho desse estado. E continuo, contente, a caminhar...
domingo, setembro 24, 2006
Amor e apego
Gostei muito de ouvir falar a Tsering. Pareceu-me tão inteligente e com tanta abertura de espírito. A perspectiva que apresentou é, para este agregado que sou eu, simplesmente a realidade. É assim que vejo as coisas, como a Tsering diz.
O sentimento positivo que temos por alguém é sempre composto de duas coisas: amor e apego. O amor é o "querer bem", nada mais. Eu quero que sejas feliz, tu queres ser feliz, e tudo está bem, há coincidência de interesses. O apego é o "querer para mim". É algo egoísta, e causa do sofrimento. Tem a ver com posse, é um "querer bem se for meu", o meu interesse é o centro, eu sou mais importante. E é a isto que usualmente se chama amor. Claro que não há coincidência de interesses, ninguém vai concordar que eu é que sou importante.
Não há sentimento de amor puro ou apego puro. É como se uma percentagem fosse amor e a restate apego. Mas é claramente do nosso interesse aumentar a percentagem de amor reduzindo a de apego. É melhor para todos se o sentimento for mais amor e menos apego.
Mas também em relação a nós próprios sentimos apego, que depois oscila entre apego e aversão. E se não nos amamos a nós próprios não podemos amar os outros. Ai vamos naturalmente parar ao "eu" que está para além do corpo e do espírito (espírito como pensamentos, emoções, etc). É esse "eu" que leva a ideia de alma, ou à doutrina budista do não-eu. Interiorizar o "não-eu" é acabar com o raiz do apego, o apego ao "eu". Bom, eu acho que pelo menos podemos reduzir o apego, cultivando o amor, no interesse de todos.
Perguntei se existirem pessoas pelas quais temos a um sentimento que é claramente mais amor que apego, pode ser útil para generalizar o sentimento para outras pessoas. Estava à espera de resposta afirmativa. Mas fiz a pergunta na mesma. Por vezes fico descontente comigo, por não conseguir dirigir o amor para todas as pessoas. Sinto como se haver pessoas especiais fosse um obstáculo à equanimidade. Se o amor é um desejo de bem a ti, que como ser humano como eu tens igualmente direito à felicidade que desejas, porque motivo surge mais naturalmente em relação a algumas pessoas? Bom, às vezes perguntas a mais não ajudam. As coisas são como são e temos é que fazer o melhor uso possível delas.
E fiquei contente com a resposta da Tsering. É muito bom que existam pessoas pelas quais sentimos amor. É pior quando não existem. Pelo que percebi, podemos usar essas pessoas em exercícios, de modo a cultivar o amor por todas. E parece-me natural. Uns vislumbres de amor puro ou quase puro, já são encontrar o sentimento, depois é "só" expandir.
E também se falou concretamente de relacionamentos. São normalmente baseados em apego. As paixões aparecem quando as pessoas nem se conhecem. Por isso estou apaixonado por uma imagem que criei, não pela pessoa, que ainda nem conheço. É o meu interesse que é projectado, a imagem que me interessa é criada, e a pessoa é minha propriedade um objecto de apego, não é ela, sou eu. E posso viver até muito tempo com a pessoa, mas é sempre com essa minha imagem. Claro que é melhor se a base do relacionamento for mais amor e menos apego. Se for menos essa projecção do meu querer e mais um conhecimento da pessoa e amor "querer bem".
E a química? Foi um momento divertido. Pelo que entendi, para um relacionamento ser bem sucedido pode começar por haver química ou não. E há químicas entre mim e várias pessoas, não apenas uma, e com outras não. Claro que, quando a base de um relacionamento é atracção física, não pode durar muito. É suposto as pessoas conviverem uma com o outra. Mas obviamente que também não podem ser sexualmente repulsivas. Hum, resumindo, a meu ver é preciso que a base seja um verdadeiro conhecimento da pessoa, e um sentimento de amor, e não uma paixão apego que não passa de uma ilusão. Mas andamos em busca do amor romantizado das histórias "e foram felizes para sempre".
É difícil resistir ao apego. Dá a sensação de que se vai perder qualquer coisa. Mas não se perde nada, só egoísmo. E ganha-se amor, liberdade, alegria. O apego possui, fecha-nos, aperta-nos, o amor é abertura, liberta.
Querer bem. Só. Querer bem e ser útil a quem se quer bem, e querer bem mesmo que não possa ser útil. É assim quando é amor, e sabe-se que é amor. E cultivar este amor "querer bem" é cultivar a felicidade, é uma alegria, é tudo, nada mais é preciso.
O sentimento positivo que temos por alguém é sempre composto de duas coisas: amor e apego. O amor é o "querer bem", nada mais. Eu quero que sejas feliz, tu queres ser feliz, e tudo está bem, há coincidência de interesses. O apego é o "querer para mim". É algo egoísta, e causa do sofrimento. Tem a ver com posse, é um "querer bem se for meu", o meu interesse é o centro, eu sou mais importante. E é a isto que usualmente se chama amor. Claro que não há coincidência de interesses, ninguém vai concordar que eu é que sou importante.
Não há sentimento de amor puro ou apego puro. É como se uma percentagem fosse amor e a restate apego. Mas é claramente do nosso interesse aumentar a percentagem de amor reduzindo a de apego. É melhor para todos se o sentimento for mais amor e menos apego.
Mas também em relação a nós próprios sentimos apego, que depois oscila entre apego e aversão. E se não nos amamos a nós próprios não podemos amar os outros. Ai vamos naturalmente parar ao "eu" que está para além do corpo e do espírito (espírito como pensamentos, emoções, etc). É esse "eu" que leva a ideia de alma, ou à doutrina budista do não-eu. Interiorizar o "não-eu" é acabar com o raiz do apego, o apego ao "eu". Bom, eu acho que pelo menos podemos reduzir o apego, cultivando o amor, no interesse de todos.
Perguntei se existirem pessoas pelas quais temos a um sentimento que é claramente mais amor que apego, pode ser útil para generalizar o sentimento para outras pessoas. Estava à espera de resposta afirmativa. Mas fiz a pergunta na mesma. Por vezes fico descontente comigo, por não conseguir dirigir o amor para todas as pessoas. Sinto como se haver pessoas especiais fosse um obstáculo à equanimidade. Se o amor é um desejo de bem a ti, que como ser humano como eu tens igualmente direito à felicidade que desejas, porque motivo surge mais naturalmente em relação a algumas pessoas? Bom, às vezes perguntas a mais não ajudam. As coisas são como são e temos é que fazer o melhor uso possível delas.
E fiquei contente com a resposta da Tsering. É muito bom que existam pessoas pelas quais sentimos amor. É pior quando não existem. Pelo que percebi, podemos usar essas pessoas em exercícios, de modo a cultivar o amor por todas. E parece-me natural. Uns vislumbres de amor puro ou quase puro, já são encontrar o sentimento, depois é "só" expandir.
E também se falou concretamente de relacionamentos. São normalmente baseados em apego. As paixões aparecem quando as pessoas nem se conhecem. Por isso estou apaixonado por uma imagem que criei, não pela pessoa, que ainda nem conheço. É o meu interesse que é projectado, a imagem que me interessa é criada, e a pessoa é minha propriedade um objecto de apego, não é ela, sou eu. E posso viver até muito tempo com a pessoa, mas é sempre com essa minha imagem. Claro que é melhor se a base do relacionamento for mais amor e menos apego. Se for menos essa projecção do meu querer e mais um conhecimento da pessoa e amor "querer bem".
E a química? Foi um momento divertido. Pelo que entendi, para um relacionamento ser bem sucedido pode começar por haver química ou não. E há químicas entre mim e várias pessoas, não apenas uma, e com outras não. Claro que, quando a base de um relacionamento é atracção física, não pode durar muito. É suposto as pessoas conviverem uma com o outra. Mas obviamente que também não podem ser sexualmente repulsivas. Hum, resumindo, a meu ver é preciso que a base seja um verdadeiro conhecimento da pessoa, e um sentimento de amor, e não uma paixão apego que não passa de uma ilusão. Mas andamos em busca do amor romantizado das histórias "e foram felizes para sempre".
É difícil resistir ao apego. Dá a sensação de que se vai perder qualquer coisa. Mas não se perde nada, só egoísmo. E ganha-se amor, liberdade, alegria. O apego possui, fecha-nos, aperta-nos, o amor é abertura, liberta.
Querer bem. Só. Querer bem e ser útil a quem se quer bem, e querer bem mesmo que não possa ser útil. É assim quando é amor, e sabe-se que é amor. E cultivar este amor "querer bem" é cultivar a felicidade, é uma alegria, é tudo, nada mais é preciso.
quinta-feira, setembro 21, 2006
quem morre?
quem morre?
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções - justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
Pablo Neruda
terça-feira, setembro 12, 2006
Liberdade
Em alguns momentos surge esta sensação de que cada vez sou mais livre, e preciso menos de privacidade. O que há a esconder? Só mesmo para não magoar ninguém...
Será que uma pessoa totalmente autêntica, nua, é totalmente livre e diz tudo a toda a gente... e depois chega a um ponto em que já nem diz nada a ninguém? Será que vou acabar por andar por aí a caminhar pelas ruas totalmente livre, totalmente louco? Pouco importa.
Que triste é pensar que as pessoas de que tanto gostamos podem ir embora, de vez. E que não aproveitámos a oportunidade de lhes dar atenção. Que sonho tão triste... que me deixou tão acordado.
Será que estar atento a cada momento chega?
E pensar que tudo continua se desaparecer daqui de vez, ajuda?
Será que uma pessoa totalmente autêntica, nua, é totalmente livre e diz tudo a toda a gente... e depois chega a um ponto em que já nem diz nada a ninguém? Será que vou acabar por andar por aí a caminhar pelas ruas totalmente livre, totalmente louco? Pouco importa.
Que triste é pensar que as pessoas de que tanto gostamos podem ir embora, de vez. E que não aproveitámos a oportunidade de lhes dar atenção. Que sonho tão triste... que me deixou tão acordado.
Será que estar atento a cada momento chega?
E pensar que tudo continua se desaparecer daqui de vez, ajuda?
Muitas vidas muitos mestres
Comecei a ler e acabei no dia seguinte, impressionante. Um psiquiatra céptico que acaba a fazer terapia de regressão a vidas passadas. E se grande parte disto for verdade? Não há maneira de saber. Pensando estatisticamente temos que concluir que há mesmo renascimentos ou reencarnações. Há tantas pessoas que não têm dúvidas disso. E poderá haver alguém a dizer ter verificado que não?
sexta-feira, setembro 01, 2006
A primeira nobre verdade
Bom, parece que voltei ao ponto de partida, a primeira nobre verdade, a existência do sofrimento. Pode-se tentar ignorar, esquecer, procurar distracções, ou aceitar as coisas como são. Vou tentar manter-me na segunda opção. A próxima "distracção" tem que ser a própria vida... Mas é mesmo assim, dizem que não se caminha em linha recta, é mesmo em círculos. Por vezes mais perto do centro, outras mais longe, e nem sabemos bem a que distância estamos, é persistir, continuar e pronto...
Insegurança
E agora? O problema do pão está resolvido. Tenho que arranjar qualquer outra coisa para me distrair do momento presente. O trabalho a sério começa já para a semana. Vais trabalhar a dobrar no primeiro semestre e vais para Londres no segundo. Este momento é muito esta última frase. Mas não é isto que toda a gente faz? Arranjar uma distracção qualquer, que seja simples, que não possa causar grandes problemas? Mas de preferência mais "importante" que fazer pão numa máquina, eheh. Bom, vamos lá pôr esta criatura insegura a respirar fundo de cabeça pra baixo, sirsasana, pode ser que melhore, pode ser que a perspectiva mude, afinal fica tudo de cabeça pra baixo. E que este instante inclua menos o amanhã próximo .
O pão, finalmente
Páo de azeiotonas e oregãos, sabe mesmo bem. Sempre adorei pão (alentejano) com azeitonas, tinha que experimentar esta receita!
Já foram vários pro lixo. A quantidade ideal de ingredientes, sal, água, fermento, tornou-se uma pesquisa cientifica. Mas finalmente a solução.
Afinal é simples, basta fazer exactamente como diz neste livro, que vendem na fnac, e usar fermento seco (fermipan). Com fermento fresco é complicado. De qq modo usa-se muito menos fermento nestas máquinas do que para fazer pão normalmente, e deve ser mais saudável, além de saber melhor que aqueles ocos das padarias.
Sinto-me um grande paneleiro!
Já foram vários pro lixo. A quantidade ideal de ingredientes, sal, água, fermento, tornou-se uma pesquisa cientifica. Mas finalmente a solução.
Afinal é simples, basta fazer exactamente como diz neste livro, que vendem na fnac, e usar fermento seco (fermipan). Com fermento fresco é complicado. De qq modo usa-se muito menos fermento nestas máquinas do que para fazer pão normalmente, e deve ser mais saudável, além de saber melhor que aqueles ocos das padarias.
Sinto-me um grande paneleiro!
sábado, agosto 26, 2006
e o pão
domingo, julho 30, 2006
sábado, julho 29, 2006
Nadar no mar
E já lá estive hoje outra vez.
É engraçado como nadar no mar pode ser uma experiência serena, relaxante, quase meditativa. Apesar da água gelada, das ondas fortes, dos surfistas para contornar, do nevoeiro serrado, das bandeiras vermelhas... Parece que os nadadores já me conhecem e ignoram, o que é bom... a não ser que venha a precisar da ajuda deles por algum motivo.
Não há desconforto. Ou talvez haja, mas não me afecta. Acho que existe uma palavra em sanscrito ou pali para descrever esta atitude. A mente prevalece, o sofrimento físico não tem força. Claro que só a até certo ponto.
Em vez de nos queixarmos ao mínimo desconforto, podemos sempre usar esta atitude. Não me lembro da palavra, é qualquer coisa do yoga, mas acho que a ideia é não nos indentificarmos com o sofrimento físico. Não exige esforço mas abertura, é só observar mais coisas...
É engraçado como nadar no mar pode ser uma experiência serena, relaxante, quase meditativa. Apesar da água gelada, das ondas fortes, dos surfistas para contornar, do nevoeiro serrado, das bandeiras vermelhas... Parece que os nadadores já me conhecem e ignoram, o que é bom... a não ser que venha a precisar da ajuda deles por algum motivo.
Não há desconforto. Ou talvez haja, mas não me afecta. Acho que existe uma palavra em sanscrito ou pali para descrever esta atitude. A mente prevalece, o sofrimento físico não tem força. Claro que só a até certo ponto.
Em vez de nos queixarmos ao mínimo desconforto, podemos sempre usar esta atitude. Não me lembro da palavra, é qualquer coisa do yoga, mas acho que a ideia é não nos indentificarmos com o sofrimento físico. Não exige esforço mas abertura, é só observar mais coisas...
Jigmé Khyentse Rinpoché
Talvez nunca vá memorizar este nome, mas vai ser difícil esquecer a experiência de estar sentado perto dele a ouvir.
Começa por dizer que não é um mestre realizado e que nem é muito erudito. E depois conta as quatro nobre verdades como se fossem uma história, a história da nossa vida. Acompanha as ideias com exemplos adequados e divertidos. Na verdade o mais interessante não é o que disse mas sim o modo como o disse.
Sentado sem qualquer pressa, como se não tivesse chegado e nem fosse embora. Com um pequeno portátil no colo, cantarola uns mantras baixinho. Com a sala muito cheia, tive que me sentar à frente, perto do senhor monge. Pega no microfone, sem apego ou indiferença. Começa a falar, num inglês perfeito, claro, pausado. Fiquei surpreendido, como se não esperasse aquilo, vindo do Tibete devia haver alguma coisa estranha. Mas não, pelo contrário, sem quaisquer pretensões, a tranquilidade é autentica, vê-se, parecia muito familiar. Adequa claramente o que tem a dizer a quem está a ouvir, como faria o Buda. Conta as quatro nobres verdades como uma perspectiva, dizendo várias vezes "deste ponto de vista". É uma forma de vermos as coisas, nada mais.
As quatro nobres verdades: a existência do sofrimento, a causa do sofrimento, o caminho para a libertação do sofrimento, e a cessação. Descreve o estado iluminado, como sendo um estado em que não há sofrimento mental nem causas do sofrimento. É fácil ver que se pode reduzir o sofrimento e as suas causas, e talvez consigamos imaginar que desaparecem, e a mente fica totalmente livre. E para caminhar neste sentido é preciso treinar a mente, meditando.
Alguns exemplos: Quando alguém nos dirige palavras menos boas, podemos vê-las como uma flecha que fica cravada no coração. Em vez de retirarmos a flecha, pegamos nela e começamos a abrir um buraco no coração, em várias direcções. Exemplifica a ignorância, o não sabermos como lidar com as situações e o apego a falsas soluções como a reacção de cólera que nada resolve. Se alguém nos rouba o lugar do estacionamento ficamos zangados, além de ficarmos sem lugar ainda nos consegue roubar espaço na mente. Seria melhor sermos bondosos mesmo após perder o lugar. Outro exemplo de apego: alguém que quando tem sede, bebe coca-cola. Bebendo muita coca-cola não se fica sem sede, seria melhor beber água. Mas por vezes é difícil acabar com o apego, da ignorância resulta o apego, o apego a falsas soluções para os problemas. E o exemplo do futebol. O jogador italiano diz ao frances: vai para a rua, e o frances responde: está bem, eu vou. O italiano soube escolher as palavras certas para produzir o efeito desejado no frances.
Gostava de escrever tudo aqui para não me esquecer... mas não me lembro da perfeita sequência de palavras e não vou tentar. Ficam alguns exemplos, uma pequena brisa da imagem em vez de toda a experiência, que seria impossível transformar em letras.
E depois das quatro nobres verdades terminou, e o Paulo Borges, repete em português as palavras do mestre, com uma precisão inacreditável. Mas após terminar ainda dá uma sugestão:
Não interessa nada dizer que se é budista. O importante é desenvolver um bom coração. Ser bondoso não é algo que temos que fazer ou devemos fazer por razões morais. É agradável ser bondoso. Pela manhã ao acordar observa, vê se te sentes bondoso. E pensa numa pessoa de que gostas, imagina a sua cara... se for bom, se for agradável, se te sentires feliz, continua... Agora pensa que tens o mesmo sentimento por todos os seres... imagina... Não vai haver tempo para fazer outra coisa senão ser feliz...
Não consigo exprimir o que vinha com as palavras... não é possível... mas tocou-me tão a fundo... meditar e desenvolver um bom coração, é "só" isso...
terça-feira, julho 25, 2006
Desejo
No momento em que satisfazemos um desejo há uns instantes de verdadeira satisfação. Depois de comer, depois de beber, depois de urinar, depois de um orgasmo. Em que consiste? Na ausência de desejo! Depois surge outro desejo... e insatisfação... e o ciclo continua... o próprio ciclo é sofrimento...
E procuramos repetir satisfações momentâneas que já conhecemos e criamos desejáveis objectos ilusorios que ainda não conhecemos, somos como fantoches que giram em ciclos movidos pela ânsia, sem sossego, sem paz, uma tristeza de fundo... E diz-se que a vida é assim, não adianta lutar contra a natureza, são os desejos que nos movem, que nos permitem continuar...
E que desejos? Os que nos fazem correr em ciclos à procura de satisfações momentâneas e nos retiram a tranquilidade... ou o desejo de tranquilidade, de enfraquecer o ciclo dos desejos geradores de sofrimento...
A ideia é interessante: "verdadeira alegria existe nos instantes em que não há desejo"...
E procuramos repetir satisfações momentâneas que já conhecemos e criamos desejáveis objectos ilusorios que ainda não conhecemos, somos como fantoches que giram em ciclos movidos pela ânsia, sem sossego, sem paz, uma tristeza de fundo... E diz-se que a vida é assim, não adianta lutar contra a natureza, são os desejos que nos movem, que nos permitem continuar...
E que desejos? Os que nos fazem correr em ciclos à procura de satisfações momentâneas e nos retiram a tranquilidade... ou o desejo de tranquilidade, de enfraquecer o ciclo dos desejos geradores de sofrimento...
A ideia é interessante: "verdadeira alegria existe nos instantes em que não há desejo"...
segunda-feira, julho 24, 2006
Renascimentos
Já tinha usado a expressão "budismo sem renascimentos" e já me tinha ocorrido que talvez os renascimentos não fossem essenciais no budismo pois no tempo do Buda havia a reencarnação, e naturalmente integra-se qualquer coisa... Mas não sei grande coisa e por vezes parece que os renascimentos são de algum modo essenciais para a consistência da lei da causalidade.
Pergunto "uma constante no ensinamento de Buda é que não é suposto acreditar mas verificar, experimentar, no entanto não vejo maneira de verificar se há renascimentos, não me lembro de vidas anteriores..." A resposta "é uma boa questão, é verdade, o ensinamento é não dogmático, alguns autores dizem que os renascimentos podem vir do hinduísmo vigente no tempo de Buda, e não são essenciais no budismo...", deu-me algum alívio.
Agrada-me a delegação do porto da união budista, devo ir lá mais vezes. Tenho lido tanto sobre o assunto e é bom ouvir falar alguém sobre isso. Não me importo muito se aplico ou não o rótulo "budista" a mim próprio. Mas não estou minimamente interessado em rituais ou votos. Já verifiquei algumas técnicas, resultam, são-me úteis. Várias fontes, cada um bebe mais da que quer, esta é a que mais me agrada, a mais natural para mim, é só isso...
Pergunto "uma constante no ensinamento de Buda é que não é suposto acreditar mas verificar, experimentar, no entanto não vejo maneira de verificar se há renascimentos, não me lembro de vidas anteriores..." A resposta "é uma boa questão, é verdade, o ensinamento é não dogmático, alguns autores dizem que os renascimentos podem vir do hinduísmo vigente no tempo de Buda, e não são essenciais no budismo...", deu-me algum alívio.
Agrada-me a delegação do porto da união budista, devo ir lá mais vezes. Tenho lido tanto sobre o assunto e é bom ouvir falar alguém sobre isso. Não me importo muito se aplico ou não o rótulo "budista" a mim próprio. Mas não estou minimamente interessado em rituais ou votos. Já verifiquei algumas técnicas, resultam, são-me úteis. Várias fontes, cada um bebe mais da que quer, esta é a que mais me agrada, a mais natural para mim, é só isso...
quinta-feira, julho 20, 2006
Observar
Vagueando pelo passado, fazendo planos para o futuro, mergulhado numa profunda inconsciência, fantasias, ilusões, especulações, vivo a dormir. Não tem que ser assim...
Observar, como um cientista, os seis sentidos, todos eles. Os cinco sentidos a os respectivos estímulos, não só a sempre dominante visão... corpo, ouvidos, boca, nariz, os estímulos externos... e a mente, que vai por si só retirando os conteúdos do seu arquivo de memórias no subconsciente. E aparecem pensamentos e emoções, e depois desaparecem, não há um "eu" que decide faze-los aparecer... Observar apenas como todas as coisas vêm e vão... sem apego, atento, relaxado, desperto, vigilante, mas sem julgar, neutro... E quem é que observa? Ninguém controla nada disto, sucedem-se estímulos, pensamentos, emoções. Aparecem, ficam um pouco, e depois desaparecem. Quem controla esta sucessão? Quem testemunha? Não se pode encontrar o observador... não existe. Não há nada de que se possa dizer "isto sou eu". Mas existe a observação do momento presente, das coisas como são, sempre em mudança... E a sensação de liberdade, de deixar ser, soltar, observar o fluxo e sorrir, descansado. Continua a fluir, a sucessão continua, olho para lá... Mas quem olha? É só outro pensamento...
Bom, vou observar pra praia!
Observar, como um cientista, os seis sentidos, todos eles. Os cinco sentidos a os respectivos estímulos, não só a sempre dominante visão... corpo, ouvidos, boca, nariz, os estímulos externos... e a mente, que vai por si só retirando os conteúdos do seu arquivo de memórias no subconsciente. E aparecem pensamentos e emoções, e depois desaparecem, não há um "eu" que decide faze-los aparecer... Observar apenas como todas as coisas vêm e vão... sem apego, atento, relaxado, desperto, vigilante, mas sem julgar, neutro... E quem é que observa? Ninguém controla nada disto, sucedem-se estímulos, pensamentos, emoções. Aparecem, ficam um pouco, e depois desaparecem. Quem controla esta sucessão? Quem testemunha? Não se pode encontrar o observador... não existe. Não há nada de que se possa dizer "isto sou eu". Mas existe a observação do momento presente, das coisas como são, sempre em mudança... E a sensação de liberdade, de deixar ser, soltar, observar o fluxo e sorrir, descansado. Continua a fluir, a sucessão continua, olho para lá... Mas quem olha? É só outro pensamento...
Bom, vou observar pra praia!
Blogs
Gosto de blogs! Uma forma de comunicação, de partilha entre amigos, muito interessante. Não é só neutro, é bom. Mas agora é melhor ir pra praia...
terça-feira, julho 18, 2006
Introspecção e televisão
As pessoas olham para o mundo inteiro pela televisão, interessam-se por politica, pelos conflitos entre nações, pelos mortos nas guerras. E onde estão as causas de tudo isto? No interior das pessoas, de cada pessoa. E ajuda olhar para dentro de mim próprio? Será que ajuda mais ver o sangue na televisão? Não consigo, olhando para a televisão, retirar as pessoas da frente das balas. Só me adiciono à multidão de espectadores da carnificina, é como na Roma antiga. Às vezes olho para as televisões nos cafés...
Num mundo em que as pessoas fazem introspecção, procuram melhorar como pessoas, surge o Buda. Nos Estados Unidos surge o Bush. Moral da história: mais introspecção, menos televisão! :-)
Num mundo em que as pessoas fazem introspecção, procuram melhorar como pessoas, surge o Buda. Nos Estados Unidos surge o Bush. Moral da história: mais introspecção, menos televisão! :-)
Religião e Deus
Há uns tempos parava quase imediatamente de ler quando uma destas palavras aparecia. Religião era acreditar sem prova e Deus uma crença um bocado incómoda que as pessoas costumam meter pelo meio de raciocínios para explicar coisas que não conseguem explicar de outra forma.
Nunca dei grande importância a religiões, embora talvez em certa altura tenha metido Deus nos raciocínios como as pessoas à minha volta, quando era miúdo. Mas agora o ensinamento de Buda, se lhe chamamos religião, torna a palavra totalmente diferente. Ele dizia que não devemos acreditar no que nos dizem, nem nele próprio, o que devemos é experimentar e verificar. Usar o que nos parecer útil e deixar o que não nos serve. Ensina uma psicologia de auto-conhecimento, adaptando sempre os ensinamentos à pessoa a que está a ensinar, de modo a ela poder por si própria seguir as suas sugestões no caminho da auto-descoberta.
E o que há afinal para descobrir? Tanta coisa. Primeiro que a mente nos faz andar entre passado e futuro como se nunca estivéssemos a viver este momento. Depois que é possível ficar no presente a observar o funcionamento dos seis sentidos (a mente racional com o seu arquivo de memórias é o sexto). E ficar a ver, as sensações, percepções, emoções, pensamentos, aparecem, ficam um pouco, e depois desaparecem. E parece que é ai que estou realmente vivo, quando testemunho a vida, em mim próprio. E a impermanência, por instantes... e a consciência de que todas as outras pessoas estão no mesmo barco, são como eu, adormecidas, por acordar, talvez algumas possam seguir um caminho semelhante, outras talvez não, mas a situação é semelhante. E aqui surge a empatia, a compaixão, é natural. Todos parte de um todo, a funcionar da mesma forma, aparece, desaparece, aparece, desaparece... apego a quê? É tudo como as ondas do mar...
E "Deus"? Também já me parece bem. Embora para mim o mais natural seja "nem deus nem almas", entendo Deus de várias maneiras. Como um estado mental totalmente puro, como a natureza, mas como um ser que me protege não gosto, desresponsabiliza-me, mas entendo que haja pessoas que prefiram pensar assim, e quem sabe se até há mesmo um Deus. Para mim é indiferente, acho que o ensinamento de Buda é prático e permite-nos lidar com as coisas tal como são, não importa muito de onde surgiram.
Mas é pena que estas palavras tenham ficado tão manchadas. Inquisição, pecado, culpa... é pena. Fui uma vez a uma aula de religião e moral e mostraram uns slides do inferno... Que religião a nossa, que progresso o nosso... continua-se a tratar apenas de criar condições materiais para que se viva bem. E as pessoas continuam a alimentar negatividade, invejas, ódios, vaidade, agressividade, competitividade, e continuam a haver guerras e infelicidade...
Nunca dei grande importância a religiões, embora talvez em certa altura tenha metido Deus nos raciocínios como as pessoas à minha volta, quando era miúdo. Mas agora o ensinamento de Buda, se lhe chamamos religião, torna a palavra totalmente diferente. Ele dizia que não devemos acreditar no que nos dizem, nem nele próprio, o que devemos é experimentar e verificar. Usar o que nos parecer útil e deixar o que não nos serve. Ensina uma psicologia de auto-conhecimento, adaptando sempre os ensinamentos à pessoa a que está a ensinar, de modo a ela poder por si própria seguir as suas sugestões no caminho da auto-descoberta.
E o que há afinal para descobrir? Tanta coisa. Primeiro que a mente nos faz andar entre passado e futuro como se nunca estivéssemos a viver este momento. Depois que é possível ficar no presente a observar o funcionamento dos seis sentidos (a mente racional com o seu arquivo de memórias é o sexto). E ficar a ver, as sensações, percepções, emoções, pensamentos, aparecem, ficam um pouco, e depois desaparecem. E parece que é ai que estou realmente vivo, quando testemunho a vida, em mim próprio. E a impermanência, por instantes... e a consciência de que todas as outras pessoas estão no mesmo barco, são como eu, adormecidas, por acordar, talvez algumas possam seguir um caminho semelhante, outras talvez não, mas a situação é semelhante. E aqui surge a empatia, a compaixão, é natural. Todos parte de um todo, a funcionar da mesma forma, aparece, desaparece, aparece, desaparece... apego a quê? É tudo como as ondas do mar...
E "Deus"? Também já me parece bem. Embora para mim o mais natural seja "nem deus nem almas", entendo Deus de várias maneiras. Como um estado mental totalmente puro, como a natureza, mas como um ser que me protege não gosto, desresponsabiliza-me, mas entendo que haja pessoas que prefiram pensar assim, e quem sabe se até há mesmo um Deus. Para mim é indiferente, acho que o ensinamento de Buda é prático e permite-nos lidar com as coisas tal como são, não importa muito de onde surgiram.
Mas é pena que estas palavras tenham ficado tão manchadas. Inquisição, pecado, culpa... é pena. Fui uma vez a uma aula de religião e moral e mostraram uns slides do inferno... Que religião a nossa, que progresso o nosso... continua-se a tratar apenas de criar condições materiais para que se viva bem. E as pessoas continuam a alimentar negatividade, invejas, ódios, vaidade, agressividade, competitividade, e continuam a haver guerras e infelicidade...
domingo, julho 16, 2006
Escrever nos blogs
Alguém falou da presunção de escrever nos blogs, de achar que se tem algo a dizer. Acho que há tanta presunção quando escrevemos nos blogs, como quando falamos com os amigos. Ou talvez menos, ao falar para os amigos estamos implicitamente a força-los a ouvir, escrevendo não obrigamos ninguém a ler.
E que outras pessoas possam ler, pouco importa, não tenho nada a
esconder... é como fazer sirsana na praia rodeado de pessoas, que
importa o que pensam? Não lhes faço mal nenhum, o importante é
garantir que não lhes caio em cima...
E que outras pessoas possam ler, pouco importa, não tenho nada a
esconder... é como fazer sirsana na praia rodeado de pessoas, que
importa o que pensam? Não lhes faço mal nenhum, o importante é
garantir que não lhes caio em cima...
Caminhos seguidos
Acho que "o sentido da vida é viver, viver o melhor possível, ser feliz" não é grande coisa. Afinal que orientação dá isto? O que é ser feliz? Ser o mais feliz possível? E como se faz? Claro que cada pessoa tem que encontrar o seu caminho. Pode sempre inspirar-se no caminho que outros seguiram. Eu não encontro nada mais inspirador que a filosofia do Buda, talvez pela limitação da minha forma de pensar, meio científica e sem lugar para crenças. O budismo apenas nos ensina a transformar a mente e a "ver interiormente" as coisas tal como são, o que eventualmente pode acabar com o "sofrimento mental" de uma vez por todas.
O essencial é extremamente simples e prático, e questões que não contribuem para o progresso no caminho, não interessa colocar, só servem para satisfazer uma superficial curiosidade intelectual. Como caminhar para a alegria e paz então? O sofrimento existe, é um facto, toda a gente sofre de uma forma ou de outra, a vida não parece satisfatória. E de onde vem esta insatisfação? Resulta do apego a uma ilusão que criámos. A ilusão de que existem várias entidades separadas e permanentes, especialmente eu próprio, o que gera a noção de um ser permanente que vai morrer, extinguir-se. Apegamos-nos a estas entidades, surge o desejo, a causa do sofrimento. É preciso então acabar com o desejo acabando com a causa do desejo, a ignorância. A ignorância é a ilusão criada, de um mundo de identidades que existem por si só, separadas umas das outras. É preciso ver as coisas tal como são, impermanentes, desprovidas de existência intrínseca. Todas são parte de um todo, cada coisa surgiu e vai terminar, quando não houver condições para se manter. Isto aplica-se a todos os objectos materiais mas também às formações mentais. Os pensamentos e emoções surgem e depois desaparecem, a respiração, as ondas do mar, mas também as rochas à volta do paredão, é só uma questão de tempo. Sem o "eu" e as outras entidades não pode haver apego, e sem apego não há desejo e não há sofrimento. Depois só resta o sofrimento físico, até não haver corpo.
O Buda descobriu uma forma de alcançar uma visão correcta das coisas, de modo a não haver mais lugar para sofrimento, um caminho para o fim da insatisfação: conduta ética, disciplina mental e introspecção. Cultiva-se em simultâneo o amor universal e a sabedoria. O impermanência, que em tudo existe, pode em particular ser vista em mim próprio, observação constante, mas não tensa, o caminho é o da moderação. A vida é em todo o lado, não há pressa, e o caminho leva ao desapego, ao fim do desejo e insatisfação, à paz e alegria.
Claro que compreender racionalmente a impermanência não vale de nada. É preciso ver a impermanência, a vacuidade e simultaneamente gerar compaixão. Esta forma de percepção não racional é curiosa, um bocado estranha para os ocidentais, "insight". Talvez o que chamamos sentimentos sejam o que mais se aproxima, ninguém tenta compreender racionalmente o amor, mas vê-se...
Acho que estou muito budista. O fundo do blog ficou preto, o vazio, com umas impurezas, as letras cinzentas...
Om mani padme hum
O essencial é extremamente simples e prático, e questões que não contribuem para o progresso no caminho, não interessa colocar, só servem para satisfazer uma superficial curiosidade intelectual. Como caminhar para a alegria e paz então? O sofrimento existe, é um facto, toda a gente sofre de uma forma ou de outra, a vida não parece satisfatória. E de onde vem esta insatisfação? Resulta do apego a uma ilusão que criámos. A ilusão de que existem várias entidades separadas e permanentes, especialmente eu próprio, o que gera a noção de um ser permanente que vai morrer, extinguir-se. Apegamos-nos a estas entidades, surge o desejo, a causa do sofrimento. É preciso então acabar com o desejo acabando com a causa do desejo, a ignorância. A ignorância é a ilusão criada, de um mundo de identidades que existem por si só, separadas umas das outras. É preciso ver as coisas tal como são, impermanentes, desprovidas de existência intrínseca. Todas são parte de um todo, cada coisa surgiu e vai terminar, quando não houver condições para se manter. Isto aplica-se a todos os objectos materiais mas também às formações mentais. Os pensamentos e emoções surgem e depois desaparecem, a respiração, as ondas do mar, mas também as rochas à volta do paredão, é só uma questão de tempo. Sem o "eu" e as outras entidades não pode haver apego, e sem apego não há desejo e não há sofrimento. Depois só resta o sofrimento físico, até não haver corpo.
O Buda descobriu uma forma de alcançar uma visão correcta das coisas, de modo a não haver mais lugar para sofrimento, um caminho para o fim da insatisfação: conduta ética, disciplina mental e introspecção. Cultiva-se em simultâneo o amor universal e a sabedoria. O impermanência, que em tudo existe, pode em particular ser vista em mim próprio, observação constante, mas não tensa, o caminho é o da moderação. A vida é em todo o lado, não há pressa, e o caminho leva ao desapego, ao fim do desejo e insatisfação, à paz e alegria.
Claro que compreender racionalmente a impermanência não vale de nada. É preciso ver a impermanência, a vacuidade e simultaneamente gerar compaixão. Esta forma de percepção não racional é curiosa, um bocado estranha para os ocidentais, "insight". Talvez o que chamamos sentimentos sejam o que mais se aproxima, ninguém tenta compreender racionalmente o amor, mas vê-se...
Acho que estou muito budista. O fundo do blog ficou preto, o vazio, com umas impurezas, as letras cinzentas...
Om mani padme hum
quinta-feira, julho 06, 2006
O sentido da vida
Acordo todos os dias de manha, vivo mais um dia e vou dormir. Ainda tenho saúde, mas vou ficando cada vez mais velho, e depois... morro. Que sentido tem isto? Só a morte é certa...
O sentido da vida é viver. Viver o melhor possível, eliminar o sofrimento. Nada exterior pode trazer uma felicidade duradoura. Sofrimento e felicidade existem ao nível da mente. Algumas pessoas são felizes em grande adversidade exterior, outras têm tudo bem à sua volta e são infelizes.
Mas o nosso mundo é tão materialista. O que sabemos sobre a mente? Há a psiquiatria com os seus comprimidos para por as pessoas depressa de volta a produzir riqueza. E a psicologia, com a sua nova moda cognitiva-comportamental... que também pões o pessoal a "funcionar" depressa...
O conhecimento cientifico é sem dúvida muito útil, mas não sabemos quase nada sobre a mente. Na busca da felicidade não interessa para nada saber que partes do cérebro funcionam quando estou a bocejar. A mente não existe sem corpo e cérebro, mas isto não é informação nenhuma, é clara que todas as coisas estão interligadas. E também não serve de nada se o universo surge numa explosão e se expande e se volta o unir e expandir...
As religiões vão directamente ao assunto, ou deviam ir: o caminho para a felicidade. Mas nós temos sempre a tendência a cair no "tudo é matéria" e "somos animais", como se soubessemos grande coisa... há quem diga convictamente que deus existe, e quem diga ter atingido a iluminação. Pessoas que dizem ter visto o universo todo num instante. Não há maneira de provar coisa nenhuma, a única coisa que eu sei é que eu não vi nada disso, ou seja, nada...
E temos o yoga, pouco importa se é religião, menos ou mais que isso. Um conjunto de tecnicas que nos permite aproximar do samadhi. Caminhar para a paz e tranquilidade, felicidade. O "yoga para a felicidade" em Gouveia... caminhar para uma mente tranquila, um sentido de progresso, sentido para a vida, viver o melhor possível. Um grupo de pessoas que caminha lado a lado... uma "religião" minimalista, que só contém principios éticos que não provocam dúvidas a um espirito são...
Sinto falta de um sentido de continuidade no yoga. Vou fazer agora isto porque é fixe. Para quê? O yoga não é só uma brincadeira. É um modo de viver, um conjunto de conhecimentos práticos, que podem ser usados sucessivamente para transformar a mente, atingir um estado de maior tranquilidade, um caminho para a felicidade.
(in the search for the meaning of live, to be continued... :-) )
O sentido da vida é viver. Viver o melhor possível, eliminar o sofrimento. Nada exterior pode trazer uma felicidade duradoura. Sofrimento e felicidade existem ao nível da mente. Algumas pessoas são felizes em grande adversidade exterior, outras têm tudo bem à sua volta e são infelizes.
Mas o nosso mundo é tão materialista. O que sabemos sobre a mente? Há a psiquiatria com os seus comprimidos para por as pessoas depressa de volta a produzir riqueza. E a psicologia, com a sua nova moda cognitiva-comportamental... que também pões o pessoal a "funcionar" depressa...
O conhecimento cientifico é sem dúvida muito útil, mas não sabemos quase nada sobre a mente. Na busca da felicidade não interessa para nada saber que partes do cérebro funcionam quando estou a bocejar. A mente não existe sem corpo e cérebro, mas isto não é informação nenhuma, é clara que todas as coisas estão interligadas. E também não serve de nada se o universo surge numa explosão e se expande e se volta o unir e expandir...
As religiões vão directamente ao assunto, ou deviam ir: o caminho para a felicidade. Mas nós temos sempre a tendência a cair no "tudo é matéria" e "somos animais", como se soubessemos grande coisa... há quem diga convictamente que deus existe, e quem diga ter atingido a iluminação. Pessoas que dizem ter visto o universo todo num instante. Não há maneira de provar coisa nenhuma, a única coisa que eu sei é que eu não vi nada disso, ou seja, nada...
E temos o yoga, pouco importa se é religião, menos ou mais que isso. Um conjunto de tecnicas que nos permite aproximar do samadhi. Caminhar para a paz e tranquilidade, felicidade. O "yoga para a felicidade" em Gouveia... caminhar para uma mente tranquila, um sentido de progresso, sentido para a vida, viver o melhor possível. Um grupo de pessoas que caminha lado a lado... uma "religião" minimalista, que só contém principios éticos que não provocam dúvidas a um espirito são...
Sinto falta de um sentido de continuidade no yoga. Vou fazer agora isto porque é fixe. Para quê? O yoga não é só uma brincadeira. É um modo de viver, um conjunto de conhecimentos práticos, que podem ser usados sucessivamente para transformar a mente, atingir um estado de maior tranquilidade, um caminho para a felicidade.
(in the search for the meaning of live, to be continued... :-) )
sexta-feira, junho 23, 2006
Para uma mente tranquila
...O fim último é moksha ou libertação... um estado mental em que todas as emoções mentais penosas e grosseiras são completamente irradicadas. Moksha ou nirvana é uma qualidade mental. E finalmente temos o estado de Buda. Uma vez a mente e a consciência plenamente desenvolvidas e despertas, sem quaisquer obstáculos, o estado de mente búdica é atingida: a isso chamamos iluminação. É também uma qualidade mental.
...O objecto a ser transformado é a mente, o sujeito da transformação é também a mente e o estado transformado resultante é também a mente. Algumas pessoas descrevem o Budismo com uma ciência da mente. Parece-me apropriado explicá-lo assim.
...A nossa mente só pode ser transformada através da meditação. Há dois tipos de meditação: a analítica e a unidireccionada.
...A meditação analítica destrói a negatividade. Vipassana, ou uma particular intuição, é um tipo particular de meditação analítica... Através da meditação unidireccionada (shamatha), canalizamos toda a energia mental.
...A meditação analítica é em si mesma de dois tipos. Um é como a compaixão ou a fé. A própria mente é transformada em karuna ou compaixão. A outra meditação analítica é compreender a impermanência ou vacuidade, como objectos a serem reconhecidos.
...O reconhecimento da verdade última ou da natureza última de todos os fenómenos influencia directamente as emoções negativas, pois, geralmente, todas as emoções negativas se baseiam na percepção de que as coisas possuem uma existência independente...
Dalai Lama
...O objecto a ser transformado é a mente, o sujeito da transformação é também a mente e o estado transformado resultante é também a mente. Algumas pessoas descrevem o Budismo com uma ciência da mente. Parece-me apropriado explicá-lo assim.
...A nossa mente só pode ser transformada através da meditação. Há dois tipos de meditação: a analítica e a unidireccionada.
...A meditação analítica destrói a negatividade. Vipassana, ou uma particular intuição, é um tipo particular de meditação analítica... Através da meditação unidireccionada (shamatha), canalizamos toda a energia mental.
...A meditação analítica é em si mesma de dois tipos. Um é como a compaixão ou a fé. A própria mente é transformada em karuna ou compaixão. A outra meditação analítica é compreender a impermanência ou vacuidade, como objectos a serem reconhecidos.
...O reconhecimento da verdade última ou da natureza última de todos os fenómenos influencia directamente as emoções negativas, pois, geralmente, todas as emoções negativas se baseiam na percepção de que as coisas possuem uma existência independente...
Dalai Lama
segunda-feira, junho 19, 2006
Desapego e passado
Uma das coisas que me agrada no budismo e no yoga é a pouca importância que dão ao passado. Tentar explicar os pensamentos e emoções que surgem no momento presente, olhando para o passado, é como tentar perceber qual foi o movimento da matéria até chegar ao ilusório mundo das formas que neste momento percepcionamos. É impossível e inútil.
O passado não interessa, só interessa quando ocorre no presente. Mais vale estar atento a cada momento de modo a poder observar uma emoção ou pensamento negativo, no momento em que surge, quando ainda é fraca, e não a alimentar... e continuar a cultivar a serenidade, a sabedoria e a compaixão.
Ao pensar que somos produto do nosso passado, vemos-nos como algo que existe por si só, independentemente de tudo o resto, um eu permanente que se foi construindo. Limita-nos, condiciona-nos, não nos permite acreditar. Mas não tem que ser assim. Podemos partir de onde estamos... sempre. Não interessa comparar com o passado, não é útil. Não temos passado, o passado não existe. Podemos desapegar-nos do passado e ter um começo totalmente limpo em cada instante.
Adeus Freud, olá Buda!
O passado não interessa, só interessa quando ocorre no presente. Mais vale estar atento a cada momento de modo a poder observar uma emoção ou pensamento negativo, no momento em que surge, quando ainda é fraca, e não a alimentar... e continuar a cultivar a serenidade, a sabedoria e a compaixão.
Ao pensar que somos produto do nosso passado, vemos-nos como algo que existe por si só, independentemente de tudo o resto, um eu permanente que se foi construindo. Limita-nos, condiciona-nos, não nos permite acreditar. Mas não tem que ser assim. Podemos partir de onde estamos... sempre. Não interessa comparar com o passado, não é útil. Não temos passado, o passado não existe. Podemos desapegar-nos do passado e ter um começo totalmente limpo em cada instante.
Adeus Freud, olá Buda!
sábado, junho 17, 2006
A meditação do amor
Acho que todos amamos várias pessoas. Mas também acho que o amor e apego andam sempre juntos. Como ver o amor? Só o amor? O mais natural é querer contribuir para a felicidade das pessoas que amamos, estar lá. Mas este "querer" não permite ver a pureza do amor.
Visualizo uma das pessoas que amo feliz, uma felicidade serena, autêntica. Brincamos e sorrimos num jardim, ingenuamente, muita alegria, uma alegria tranquila... Depois afasto-me e fico a olhar para ela, que continua a sorrir da mesma forma, e olha-me, parece haver gratidão naquele olhar. O lugar é silencioso, o tempo parece ter parado... Continuo a observar e continuo feliz pela felicidade dela, que sabe que ali estou, mas já não me olha... O meu estado de beatitude mantém-se inalterável... continuo alí, mas agora ela já não sabe, esqueceu que existo, observo-a na minha alegria serena. Finalmente saio da imagem, totalmente, já nem observo, já não existo, e continuo feliz apenas por sentir a felicidade daquela pessoa que amo... Já não quero nada, e a minha felicidade é o amor, já não há apego, fundi-me com o amor... A sensação é arrebatadora, um nó na garganta, o peito inflamado, lágrimas de amor... e depois paz, muita paz... já não há nada a temer, perdi tudo menos o mais importante, conservei o amor mais puro, já não preciso de mais nada... encontrei tudo em mim... encontrei o amor...
Visualizo uma das pessoas que amo feliz, uma felicidade serena, autêntica. Brincamos e sorrimos num jardim, ingenuamente, muita alegria, uma alegria tranquila... Depois afasto-me e fico a olhar para ela, que continua a sorrir da mesma forma, e olha-me, parece haver gratidão naquele olhar. O lugar é silencioso, o tempo parece ter parado... Continuo a observar e continuo feliz pela felicidade dela, que sabe que ali estou, mas já não me olha... O meu estado de beatitude mantém-se inalterável... continuo alí, mas agora ela já não sabe, esqueceu que existo, observo-a na minha alegria serena. Finalmente saio da imagem, totalmente, já nem observo, já não existo, e continuo feliz apenas por sentir a felicidade daquela pessoa que amo... Já não quero nada, e a minha felicidade é o amor, já não há apego, fundi-me com o amor... A sensação é arrebatadora, um nó na garganta, o peito inflamado, lágrimas de amor... e depois paz, muita paz... já não há nada a temer, perdi tudo menos o mais importante, conservei o amor mais puro, já não preciso de mais nada... encontrei tudo em mim... encontrei o amor...
quinta-feira, junho 15, 2006
Gouveia - yoga para a felicidade
Foi no fim de semana passado, pessoas que não se conhecem, juntam-se num fim de semana de relaxamento, yoga, jogos e brincadeiras, pleno de paz.
Na sexta os jogos de apresentações. O objectivo é que as pessoas se conheçam, que saibam os nomes umas das outras. Fiquei meio desorientado, tantas pessoas, tanta informação, não decorei nomes quase nenhuns mas foi muito divertido. Tra-la-la, figuras ridículas, cómicas, muito fixe.
Sábado de madrugada, seis e meia, caminhada silenciosa, que termina num lindo oásis com muitas árvores e o pequeno coliseum ao meio com uma grande pedra num buraco. Aí fazemos yoga, a ouvir os cantos de muitos pássaros diferentes e a brisa. Respiração profunda, muito lenta, asanas simples, relaxantes...
De tarde ouvimos a Alice, que nos disse o essencial do yoga sutra do Patanjali, as causas de sofrimento e o caminho para a libertação do sofrimento. Depois coloco um resumo das palestras no blog, com a ajuda da Sofia.
No domingo foi tão fixe o teatro, rimos todos tanto, com vontade, gargalhadas verdadeiras. Sons e expressões, representação de improviso, quem conta um conto acrescenta um ponto, muito fixe.
As pessoas eram diversas em idades e muitas coisas. Todas interessantes. Falei mais com algumas. O Mário, o professor, com um discurso coerente e claro, vive o yoga, procura aproximar-se do samadhi pela linha que optou, que vê apenas como uma proposta, tem tanto para dar, tranquilo, é uma alegria conversar com ele. O Benigno, que parece adormecido em tanta paz, em silencio, mas que depois acorda e mostra grande inteligência e perspicácia, e um excepcional sentido de humor, "temos que sacrificar um". A Paula, uma super-yogui, um exemplo a seguir, atenta, clara, linda. E a Sofia, tanta bondade e autenticidade, é tão bom estar perto de uma pessoa assim, linda por dentro e por fora. Enfim, não vou escrever mais nomes, nem dizer mais coisas, mas houve tanto mais de bom.
Este encontro foi muito importante para mim. Fiquei a pensar que são coisas deste tipo que todas as pessoas do mundo deviam fazer. Juntarem-se com estranhos para relaxar e brincar. Isto desenvolve um humanismo autêntico. Acaba com "os outros". As pessoas podem juntar-se e ser felizes, não somos muito diferentes, é tão lindo. Foi mesmo muito bom...
Acrescenta coisas se leres isto, Sofia, talvez seja interessante reler, daqui a uns tempos...
sábado, junho 03, 2006
O Bill e os pombos
Verificação automática de sistemas concorrentes com base em modelos de autómatos e lógica temporal, aulas do mestrado, "a partir do momento presente é possível chegar a uma situação em que um determinado evento se torna verdadeiro, e assim continua, para sempre ou até um outro evento ocorrer"... E depois o curso de .NET, com as WebForms, C#, classes, objectos, HTML, server controls, eventos, XML, etc e muito sono... E bolonha e os artigos sobre ensino e a matemática, funções, integrais de superfície, fazer exames e mais exames, e a survey dos semigrupos e sempre as janelinhas do Bill Gates... que não me deixam dormir à noite, e aqui estou a olhar para elas... e de madrugada os pombos na janela também não, cantam tão mal... menos de quatro horas de sono... help!
Bom, isto acabou quase tudo, agora é recuperar, dormir, yogar... fica o registo da desgraça... bye Bill.
Bom, isto acabou quase tudo, agora é recuperar, dormir, yogar... fica o registo da desgraça... bye Bill.
sexta-feira, maio 19, 2006
O Jardim de Lótus
Quando o Buda atingiu a iluminação olhou à volta. Existirá alguém capaz de entender o que tenho para ensinar? Viu que sim, as pessoas são como flores de lotus. Algumas ainda estão enterradas na lama, mas outras estão mesmo quase a abrir todas as suas pétalas...
Sim, em algumas pessoas sente-se tanta abertura. Não são as palavras, é a presença, é o olhar... mas todos flores de lótus... todos...
Estou-me a passar... ainda um dia chego à iluminação. Já me estou a ver... no centro da sala de um manicómio, convencido que sou um lampada! eheh
Sim, em algumas pessoas sente-se tanta abertura. Não são as palavras, é a presença, é o olhar... mas todos flores de lótus... todos...
Estou-me a passar... ainda um dia chego à iluminação. Já me estou a ver... no centro da sala de um manicómio, convencido que sou um lampada! eheh
terça-feira, maio 16, 2006
Quotes
“Basically we are all the same human beings with the same potential to be a good human being or a bad human being ... The important thing is to realize the positive side and try to increase that; realize the negative side and try to reduce. That's the way.”
“We can live without religion and meditation, but we cannot survive without human affection.”
Dalai Lama
"You can search throughout the entire universe for someone who is more deserving of your love and affection than you are yourself, and that person is not to be found anywhere. You yourself, as much as anybody in the entire universe deserve your love and affection."
Buda
“We can live without religion and meditation, but we cannot survive without human affection.”
Dalai Lama
"You can search throughout the entire universe for someone who is more deserving of your love and affection than you are yourself, and that person is not to be found anywhere. You yourself, as much as anybody in the entire universe deserve your love and affection."
Buda
quinta-feira, maio 11, 2006
Impermanência
É provavelmente o essencial na visão budista do mundo. Esta tudo a mudar, nada é igual em dois momentos consecutivos. O ego é invenção, fantasia. Os pensamentos e emoções aparecem e desaparecem, nada disto sou eu. Há causas e efeitos, interdependencia, apenas.
Aplica-se em tudo. Compro um carro, sei que vai ficar velho. Faço a manutenção para impedir que fique velho ou para acompanhar e minimizar a sua natural auto-destruição? Eu prefiro a segunda opção. Mas é mais natural escolher a primeira, lutar contra o envelhecimento, contra a impermanência, em vez de a aceitar como um facto. Para mim é melhor encarar a realidade e viver com ela. Não temos mesmo nada, está tudo a mudar, por isso também não há nada a perder. É apenas viver.
Não ter nada para agarrar provoca insegurança. Na verdade no essencial não podemos escolher. Caímos num mundo em que as regras já estão definidas e temos que nos adaptar. Não podemos escolher não ficar doentes e morrer. Algumas coisas podemos escolher. Podemos escolher a perspectiva que mais nos agrada, que para nós é mais natural. Eu vejo tudo a mudar, é como se o oposto fosse estagnar, ficar preso em qualquer coisa, parar de crescer...
Às vezes fico muito animado com as viagens interiores. Um mundo imenso para descobrir. Coisas que não são mesmo minhas, perdem sentido, desvanecem. Coisas boas podem ser trazidas à superfície, exploradas, amplificadas. Não interessa se conseguimos a iluminação, ou que significa isso. Crescimento existe, e pode-se continuar a crescer até, um dia, morrer. Até à morte, existe vida. As árvores só crescem.
Estou cheio de sono. Mas isto vai mudar, depois de dormir o suficiente, se isso acontecer.
Aplica-se em tudo. Compro um carro, sei que vai ficar velho. Faço a manutenção para impedir que fique velho ou para acompanhar e minimizar a sua natural auto-destruição? Eu prefiro a segunda opção. Mas é mais natural escolher a primeira, lutar contra o envelhecimento, contra a impermanência, em vez de a aceitar como um facto. Para mim é melhor encarar a realidade e viver com ela. Não temos mesmo nada, está tudo a mudar, por isso também não há nada a perder. É apenas viver.
Não ter nada para agarrar provoca insegurança. Na verdade no essencial não podemos escolher. Caímos num mundo em que as regras já estão definidas e temos que nos adaptar. Não podemos escolher não ficar doentes e morrer. Algumas coisas podemos escolher. Podemos escolher a perspectiva que mais nos agrada, que para nós é mais natural. Eu vejo tudo a mudar, é como se o oposto fosse estagnar, ficar preso em qualquer coisa, parar de crescer...
Às vezes fico muito animado com as viagens interiores. Um mundo imenso para descobrir. Coisas que não são mesmo minhas, perdem sentido, desvanecem. Coisas boas podem ser trazidas à superfície, exploradas, amplificadas. Não interessa se conseguimos a iluminação, ou que significa isso. Crescimento existe, e pode-se continuar a crescer até, um dia, morrer. Até à morte, existe vida. As árvores só crescem.
Estou cheio de sono. Mas isto vai mudar, depois de dormir o suficiente, se isso acontecer.
sexta-feira, abril 14, 2006
Saber não ser útil
O amor dos pais pelos filhos, a necessidade, a ânsia que os pais têm de ser úteis aos filhos, ainda que por vezes só os prejudiquem com isso. Se calhar são coisas diferentes, o amor e a necessidade de ser útil. Amar liberta, não prende, não é necessidade, é uma dádiva, uma alegria profunda, a maior alegria...
Saber deixar ir, sair do quadro, pleno amor que nada quer em troca... Em vez de agarrar, ajudar a libertar... não é amar menos, é mais. Ser só entrega, não segurar, soltar, e não temer a solidão... Pode-se amar ao ponto de não ter necessidade de ser útil?
Saber deixar ir, sair do quadro, pleno amor que nada quer em troca... Em vez de agarrar, ajudar a libertar... não é amar menos, é mais. Ser só entrega, não segurar, soltar, e não temer a solidão... Pode-se amar ao ponto de não ter necessidade de ser útil?
quarta-feira, março 29, 2006
Respirar
Sentir o movimento do abdomen e o ar a passar pelas narinas... sem pensar... é tão bom... assim, respirar...
sábado, março 25, 2006
Entrega
Entrega, levitar para as mãos de outro ser sem qualquer proteção, sem defesas. Deixar cair o ego no chão e ser só coração. Um coração sem crosta, uma membrana permeavel, profundamente, autentica, totalmente exposta.
Entregue, à vida, desapegado do ego, sem defesas, em abertura absoluta e exposto a todo o sofrimento... vem o medo, que viva o medo e perca força até não poder mais existir... antes morrer de medo, a sentir, que viver morto, sem sentir nada...
Nada há a perder, nada se tem, nem existe o ego que possui, há uma presença, nua. Entrega total é... amor.
Entregue, à vida, desapegado do ego, sem defesas, em abertura absoluta e exposto a todo o sofrimento... vem o medo, que viva o medo e perca força até não poder mais existir... antes morrer de medo, a sentir, que viver morto, sem sentir nada...
Nada há a perder, nada se tem, nem existe o ego que possui, há uma presença, nua. Entrega total é... amor.
sexta-feira, março 17, 2006
Tantra do mais alto ioga
Meditações em que se utiliza a energia sexual, por exemplo olhando para um ser sexualmente atraente, para atingir estados de consciência elevados em que inclusive o desejo sexual se dissipa.
Visualização de divindades no próprio corpo, concentração dos canais e centros energéticos.
Alguns tibetanos usam estas técnicas. Parece uma espécie de sublimação intencional da energia da libido para fins mais elevados.
Numa única consciência a beautitude e a vacuidade.
Visualização de divindades no próprio corpo, concentração dos canais e centros energéticos.
Alguns tibetanos usam estas técnicas. Parece uma espécie de sublimação intencional da energia da libido para fins mais elevados.
Numa única consciência a beautitude e a vacuidade.
segunda-feira, fevereiro 13, 2006
quinta-feira, fevereiro 02, 2006
Cruzada Budista
Pessoas desorientadas, confusas, bloqueadas... Faze-las despertar ou deixa-las como estão? Despertar como? É preciso entrar na esfera delas e dizer-lhes algo, não muito distante do que querem ouvir. Não se ajuda ninguém retirando-lhe Deus... numa grande cruzada budista.
Segundo o Sinhor Lama, é muito bom que exista uma grande diversidade de religiões, assim cada pessoa pode escolher para si a que melhor se ajusta, podendo na mesma aprender com as outras.
Quem não é religioso pode aprender com as religiões na mesma. A usar técnicas de meditação, de redução da ansiedade, a melhorar como pessoa, cultivando o que aumenta o nosso bem estar e dos outros à nossa volta. O problema é que muitos ateus sao mais fanáticos no seu ateísmo que as pessoas religiosas. Religião é tabu.
Optando por uma religião não se deixa de ser uma pessoa, única. Podemos apenas escolher um caminho como orientação para crescer, naturalmente...
E o que é crescer? No mínimo todos experimentamos estados de espírito mais e menos agradáveis. Tivemos atitudes para com os outros que os animam ou desanimam... Crescer é aumentar o controlo sobre isto, é conseguir ser feliz e ser util mais tempo em cada dia, em cada momento, neste instante...
Segundo o Sinhor Lama, é muito bom que exista uma grande diversidade de religiões, assim cada pessoa pode escolher para si a que melhor se ajusta, podendo na mesma aprender com as outras.
Quem não é religioso pode aprender com as religiões na mesma. A usar técnicas de meditação, de redução da ansiedade, a melhorar como pessoa, cultivando o que aumenta o nosso bem estar e dos outros à nossa volta. O problema é que muitos ateus sao mais fanáticos no seu ateísmo que as pessoas religiosas. Religião é tabu.
Optando por uma religião não se deixa de ser uma pessoa, única. Podemos apenas escolher um caminho como orientação para crescer, naturalmente...
E o que é crescer? No mínimo todos experimentamos estados de espírito mais e menos agradáveis. Tivemos atitudes para com os outros que os animam ou desanimam... Crescer é aumentar o controlo sobre isto, é conseguir ser feliz e ser util mais tempo em cada dia, em cada momento, neste instante...
Importância
Às vezes vejo pessoas com um ar tão importante que até me convencem. Esqueço-me que querem apenas evitar o sofrimento e ser felizes, tal como eu. Se pudesse fazer alguma coisa o que faria? Respeitar a diversidade e deixa-las com o seu ar importante, ou tentar convencê-las a ficar de cócoras com a lingua de fora a respirar como um cão?
sábado, janeiro 21, 2006
Morte
Parece que os budistas não temem a morte. Nem põem em causa se há mesmo renascimento, a coisa integra-se muito naturalmente na filosofia deles. Mas não é por haver renascimento que não temem a morte. De facto, conseguindo atingir o nirvana, não se renasce mais. A ideia é portanto "morrer de vez".
Às vezes parece-me que, por instantes, entendo qualquer coisa... Não há nada de permanente, renasce-se a cada instante nesta vida, não sou o mesmo de um instante para o outro, nem sou diferente. Sou apenas a combinação dos cinco grupos (matéria, sensações, percepções, formações mentais e consciência), os quais estão constantemente em mudança, não se mantendo iguais por dois momentos consecutivos. A todo o momento nascem e morrem.
Um ser é a combinação dos cinco grupos, de energias físicas e mentais que não deixam de existir quando o corpo físico deixa de funcionar. "O querer, a intenção, o desejo, a sede de existir, de continuar, de se tornar cada vez mais e mais, é uma força tremenda que movimenta vidas inteiras, existências inteiras, e move até o mundo no seu todo. Esta é a mais poderosa força, a mais poderosa energia do mundo." Esta energia continua a existir quando o corpo deixa de funcionar, manifesta-se noutra forma, produzindo re-existência. O ciclo de continuidade permanece enquanto existir esta força motriz. Poderá unicamente ser interrompido quando a "sede" for eliminada pela sabedoria. Quando se "vê" a verdade a "sede" termina. Nirvana.
Não há alma! Portanto nada de permanente, imutável, passa de um momento para o seguinte. Assim, nada de permanente ou imutável passa de uma vida para a seguinte. Um homem de sessenta anos não é a mesma pessoa que a criança de há sessenta anos, nem uma pessoa diferente. O mesmo acontece com uma pessoa que morre aqui e renasce noutro lugar.
Alguns entraves a compreender o pensamento budista são claros, outros nem tanto. Para a ciência não há mais que matéria, leis físicas: morre o corpo, morre o cérebro e o autómato finito pára. Aplicamos sempre o princípio do terceiro excluído, e algumas coisas, bom, não sabemos provar. Mesmo quem não é crente tem o pensamento afectado pela ideia de existir alma, qualquer coisa de transcendente, permanente, que existe além do corpo, um "eu". Não se suporta a impermanência, a não existência intrínseca... Não há um "eu" que se perde com a morte, talvez baste "ver" isto.
Hum... tanto interesse tenho pela morte. A ideia não é andar a pensar em coisas tristes. A morte existe, e pode-se aprender a ve-la de outras formas. Não pensemos nisso, não me satisfaz... Acho que quero viver no presente mas com a visão do conjunto... deve ser da idade avançada... a morte aproxima-se...
Às vezes parece-me que, por instantes, entendo qualquer coisa... Não há nada de permanente, renasce-se a cada instante nesta vida, não sou o mesmo de um instante para o outro, nem sou diferente. Sou apenas a combinação dos cinco grupos (matéria, sensações, percepções, formações mentais e consciência), os quais estão constantemente em mudança, não se mantendo iguais por dois momentos consecutivos. A todo o momento nascem e morrem.
Um ser é a combinação dos cinco grupos, de energias físicas e mentais que não deixam de existir quando o corpo físico deixa de funcionar. "O querer, a intenção, o desejo, a sede de existir, de continuar, de se tornar cada vez mais e mais, é uma força tremenda que movimenta vidas inteiras, existências inteiras, e move até o mundo no seu todo. Esta é a mais poderosa força, a mais poderosa energia do mundo." Esta energia continua a existir quando o corpo deixa de funcionar, manifesta-se noutra forma, produzindo re-existência. O ciclo de continuidade permanece enquanto existir esta força motriz. Poderá unicamente ser interrompido quando a "sede" for eliminada pela sabedoria. Quando se "vê" a verdade a "sede" termina. Nirvana.
Não há alma! Portanto nada de permanente, imutável, passa de um momento para o seguinte. Assim, nada de permanente ou imutável passa de uma vida para a seguinte. Um homem de sessenta anos não é a mesma pessoa que a criança de há sessenta anos, nem uma pessoa diferente. O mesmo acontece com uma pessoa que morre aqui e renasce noutro lugar.
Alguns entraves a compreender o pensamento budista são claros, outros nem tanto. Para a ciência não há mais que matéria, leis físicas: morre o corpo, morre o cérebro e o autómato finito pára. Aplicamos sempre o princípio do terceiro excluído, e algumas coisas, bom, não sabemos provar. Mesmo quem não é crente tem o pensamento afectado pela ideia de existir alma, qualquer coisa de transcendente, permanente, que existe além do corpo, um "eu". Não se suporta a impermanência, a não existência intrínseca... Não há um "eu" que se perde com a morte, talvez baste "ver" isto.
Hum... tanto interesse tenho pela morte. A ideia não é andar a pensar em coisas tristes. A morte existe, e pode-se aprender a ve-la de outras formas. Não pensemos nisso, não me satisfaz... Acho que quero viver no presente mas com a visão do conjunto... deve ser da idade avançada... a morte aproxima-se...
sexta-feira, janeiro 20, 2006
Coisas sem nexo
O que queres ser quando fores grande? Eu sou, agora. Quero apenas continuar a ser.
"Eles não sabem o que querem..." E eu? Sei o que quero? Quero evitar o sofrimento e ser feliz. "Eles"... querem o mesmo. É tão simples.
A "sede" é a causa do sofrimento. Vamos fazer coisas, divertir-nos, aproveitar a vida... Correr, movidos pela "sede", pelo desejo obstinado, de ser, de vir a ser, pela insatisfação... até parar, eventualmente... e talvez encontrar a paz, por instantes, dentro de nós, quando não fazemos coisa nenhuma...
Amar todos os seres como uma mãe ama o seu filho único...
Bom, há menos sofrimento quando há mais paz, paciência, tolerância, abertura, quando o amor flui e não alimentamos sentimentos negativos, isso é certo, é um caminho...
"Eles não sabem o que querem..." E eu? Sei o que quero? Quero evitar o sofrimento e ser feliz. "Eles"... querem o mesmo. É tão simples.
A "sede" é a causa do sofrimento. Vamos fazer coisas, divertir-nos, aproveitar a vida... Correr, movidos pela "sede", pelo desejo obstinado, de ser, de vir a ser, pela insatisfação... até parar, eventualmente... e talvez encontrar a paz, por instantes, dentro de nós, quando não fazemos coisa nenhuma...
Amar todos os seres como uma mãe ama o seu filho único...
Bom, há menos sofrimento quando há mais paz, paciência, tolerância, abertura, quando o amor flui e não alimentamos sentimentos negativos, isso é certo, é um caminho...
O Ensinamento de Buda, de Walpola Rahula
Ando a re-ler este livro. O meu preferido sobre o assunto. Neste momento estou com vontade de escrever por aqui coisas, deste livro, ou outras sobre o assunto, que me lembre, sem qualquer ordem, conforme me apeteça...
Uma religião sem Deus, sem almas. Que nos diz que a salvação é possível durante esta vida, não só após a morte. A salvação é o fim do sofrimento, apenas. Nirvana.
A morte existe! É inevitável! Como isto é motivador. Se não há renascimento o sofrimento termina. Se há, continua, e podemos continuar a crescer interiormente noutra vida, até acabar com ele.
A "sede", a ilusão da permanência, a ignorância, leva ao sofrimento. Nirvana é "só" ver as coisas como são. É encontrar a verdadeira felicidade, o estado de paz que existe em nós e pode ser descoberto.
Não agir com a energia da revolta quando confrontado com uma situação revoltante. Voltar primeiro ao estado natural, de paz, e agir depois... em paz...
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