sábado, abril 11, 2015

Pai mata filho bebé à facada

Vi também esta notícia com o título "monstro mata bebé" ou algo do género. Mas não foi esta a perspectiva que escolhi ao ver a notícia, de indignação e raiva pelo homem que fez isso. Qualquer pessoa pode estar no lugar daquele bebé e também daquele homem. 

Lembrei-me do Thich Nhat Hanh: eu sou o bebé que acabou de ser assassinado pelo pai com uma faca cravada no peito. Eu sou o pai que acorda do álcool e da prisão as emoções que o levaram a fazer aquilo e olha para o filho, bebé de 5 meses, que acabou de matar, com uma faca no peito. E eu não consigo imaginar situação mais terrível nesta existência humana do que esta última. 

Como é que existe tanto sofrimento neste mundo? É impossível perceber e sentir realmente a massa total de sofrimento desta existência e viver com isso. Fiquei a olhar para uma estátua do Buda e a perguntar-me se existiu mesmo e como raio conseguiu ele isto...



quarta-feira, junho 05, 2013

Esforço sim, mas apropriado


Alguns colegas meus em Coimbra passavam os dias a estudar. No entanto eu achava que não se esforçavam. Pareciam acreditar que ficar muito tempo a olhar para os cadernos teria que produzir bons resultados. Tinham fé em algum misterioso sistema de retribuição. E depois chumbavam.

Eu esforçava-me. Procurava entender completamente a teoria. Em muitas cadeiras nem ia às aulas teóricas. Estudava por fotocópias de cadernos de vários colegas. Às aulas práticas não ia e nem olhava para os cadernos. Isto em Álgebra não foi boa ideia pois foi dada uma técnica só nas práticas que eu não tinha maneira de saber. Além do esforço para entender a matéria havia o esforço de decifrar os apontamentos com erros dos meus colegas. Estudava pouco tempo ao longo do ano. Passava a maior parte do tempo nos copos. Mas quando chegava a altura dos exames esforçava-me mesmo.

Acabei o curso e recebi uma medalha. Fui o aluno com melhor média no curso de matemática naquele ano. Lembro-me que entravam 145 por ano naquela altura. Quantos saiam por ano não sei. Muita gente mudava de curso. Se calhar só terminei eu, eheh.

A espiritualidade é algo diferente de tudo o resto. Mas há coisas em comum. Algumas pessoas ficam a olhar para a ponta do nariz à espera de alguma recompensa divina. Ou fecham-se num perspectiva qualquer convencidas que estão a "aprofundar" algo, seja o espiritismo, o budismo, ou outro "ismo" qualquer. Esperam retribuição, mas vão chumbar. Acredito que qualquer "ismo" pode até ajudar as pessoas a "abrirem-se", mas o que acontece na prática muitas vezes é que se "fecham".

Isto é mais difícil que fazer um curso de matemática em Coimbra, mas ainda não desisti. O esforço correcto implica um certo desconforto. Por vezes para entender algo na matemática é preciso largar uma perspectiva. Deixar de olhar daquela maneira, o que nem sempre é fácil, e causa desconforto. Mas é o esforço correcto. E quando se vê a coisa sob outro ponto de vista o problema resolve-se.

Podemos continuar a olhar para a ponta do nariz, mas de um modo criativo. Não fazer sempre a mesma coisa. Como disse o Einstein, "Insanidade é continuar fazendo a mesma coisa e esperar resultados diferentes".

E como somos criativos a olhar para a ponta do nariz? Como não ficamos só escondidos num cantinho? Como largamos perspectivas? Como permitimos o desconforto? Como deixamos de querer organizar a verdade? Como largamos tudo?

Há um truque qualquer. Mas é daqueles que não se podem ensinar, cada um tem que descobrir dentro de si. Ficar agarrado a ideias, a caminhos, não resulta, é mais ficar à deriva, ficar à beira da loucura. Um dia ainda descubro o truque... ou fico louco! :)

terça-feira, janeiro 29, 2013

Meditação e escolha das práticas



Descobri o Budismo pela televisão. A primeira prática Budista que encontrei na internet foi o Tonglen. Já não sei onde vi a prática descrita. Lembro de uma frase do género “inspirar o sofrimento, na forma de uma nuvem negra, transformar no coração a nuvem negra em luz branca e expirar raios de luz e compaixão”. Pratiquei isto durante algum tempo. Todos os dias chorava, umas vezes mais outras menos. Por vezes chorava à gargalhada. Depois sentia-me sereno, compassivo, bem. Um membro da família humana, da família de todos os seres, no fundo na mesma situação, todos juntos.

Nove anos depois, volto à mesma prática. Só me questiono porque não continuei com ela. Diz-se que o Buda deu 84 mil ensinamentos, cada um apropriado para quem o dirigia. A mesma prática não tem que resultar para todas as pessoas. Temos que experimentar várias.

Existem muitas maneiras de fazer Tonglen e passo a descrever como o faço. Começo por focar na perda. Digo para mim próprio que, no momento em que aqui estou sentado, existem pessoas em sofrimento extremo. Depois uso a imaginação. Posso visualizar uma mãe que chora em desespero com o filho morto por subnutrição nos braços. Aqui há que ser criativo. Aqui o que importa é escolher algo que nos toque. Em pouco tempo correm-me as lágrimas. O coração acorda. E logo vejo que, tal como aquela mãe, todos estamos sujeitos a sofrimentos extremos. Nisso somos todos iguais. Todos sofremos, neste momento. E foco na aspiração genuína em aliviar o sofrimento de todos os seres, incluindo eu próprio. Inspiro com o desejo de remover o sofrimento e expiro enviando alívio para o coração dos seres que sofrem, algumas vezes. E de algum modo karuna (compaixão) é alegria. Karuna surge e é alegria pura. Não sei bem como esta prática funciona mas sinto que me torna mais consciente da realidade, do sofrimento dos seres, e ao mesmo tempo mais feliz, mais ligado a todos (pequeno video com indicações para esta prática: tonglen).

Considero o Budismo Theravada uma excelente fonte. Parece conter ensinamentos do Buda de base, aceites por todas as escolas budistas. Há no entanto, a meu ver, um enfase excessivo no ideal monástico e no sofrimento. Parece que para ser um budista a sério é preciso ir para uma caverna na Tailândia meditar do nascer ao por do sol. Estou a exagerar, mas há realmente o perigo de se criarem metas e expectativas pouco realistas para quem vive neste mundo. E assim em vez de o budismo ajudar as pessoas a libertarem-se do sofrimento, torna-as mais infelizes.

O Zen, por outro lado, enfatiza muito a prática em tudo aquilo que fazemos. Estar onde estamos, ser quem somos, sem reservas. Sente-se uma alegria, uma iluminação em cada instante em que se está no momento presente. No entanto há todos aqueles rituais japoneses, que não fazem grande sentido por aqui. Faz-me lembrar dos tempos em que praticava karate. Não é que me incomodem, pouco me importa se baixo a cabeça ou dou apertos de mão. Eu gosto mesmo é de abraços.

O enfase na compaixão, do Budismo Tibetano, pode ser fundamental. Quer o Zen, quer o Theravada, podem deixar-nos muito na cabeça. E no fundo o que realmente importa é o modo como sentimos o mundo. Eu sou matemático, estou farto de ter confirmações de que o raciocínio deste meu cérebro, funciona muito bem. Mas isso por si só não me serve de nada. Se o coração desliga, nada funciona. A roda do dharma não roda.

Concluindo, ao contrário das ideias batidas de que temos que selecionar uma tradição ou mestre e praticar de acordo, defendo exatamente o contrário. Temos que ter a coragem de não ficarmos bitolados por uma perspetiva, ou estrutura de prática, e sermos capazes de reconhecer o valor de todas as tradições, e perceber a verdade que existe em todas as pessoas, em todos os seres, em todas as coisas.

Cada vez mais acredito numa espiritualidade humana, em círculos de meditação e partilha não centrados em deuses, heróis ou mestres, onde todos enriquecem com a prática de meditação conjunta e troca de ideias. Reconhecendo naturalmente o valor das pessoas que se dedicam exclusivamente às práticas espirituais e as vantagens do contacto com essas pessoas, defendo que, em última instância, tem que ser cada pessoa a decidir o que pratica e como pratica. Mais, temos que ser criativos nas nossas práticas, temos que experimentar e ir vendo o que funciona e o que não funciona. Mais ainda, temos que abandonar as práticas que já não funcionam e troca-las por outras. E quando funciona? Se funciona já. A meditação tem que fazer sentido em si mesma. É preciso acabar com o mito de que temos que esperar anos por resultados. Sentamos-mos sem esperar resultados e temos resultados imediatos, enquanto estamos sentados e, quando nos levantamos.

A espiritualidade é uma área diferente de todas as outras. Embora todos aprendamos uns com os outros, ninguém nos pode dizer o que fazer. Não acredito em mestres, neste sentido. Mas acredito na amizade. São os amigos que melhor podem funcionar como espelhos. Pode até ser que, tal como nós, tenham uma perspetiva fixa do que somos, mas não será certamente a mesma que a nossa. E sempre é melhor que a de um suposto mestre telepata que nos dá uns palpites sem sequer nos conhecer, e que na verdade nunca saberemos se são do dharma ou de mais um grande ego.

Removendo toda a estrutura, saindo da zona de conforto em cada momento, brincando com a mente, experimentando, deixando o caos dentro de nós. Requer coragem… Alternativa: junta-te a um rebanho e segue o pastor.

Estou muito feliz com o grupo de meditação de Aveiro. É um grupo heterogéneo, rico, bem-humorado, leve. As pessoas meditam, conversam sobre meditação e budismo, e também sobre outras coisas. E todos crescem em conjunto. Assim é fácil sentir gratidão.

sábado, agosto 25, 2012

Abertura e Tolerância


Durante uns tempos procurei ajustar-me ao papel de coordenador de um grupo budista Theravada. Aprendi muito com a experiência. A tradição das florestas da Tailândia procura preservar os ensinamentos originais do Buda e é uma fonte muito valiosa.

Agora que deixei este papel de coordenador budista sinto um tremendo alívio. Estava a sufocar, a tentar ajustar-me a algo, a forçar algo. Demorei muito tempo para perceber isto. Agora a minha respiração flui livremente, tem outra qualidade. A sensação no peito é de abertura. Até voltei a ter vontade de escrever neste blog.

Parece-me claro que, para algumas pessoas, a prática dentro de uma tradição religiosa pode ser a melhor opção. É possível não sentir a criatividade inibida, não sentir sufoco, mas pelo contrário, liberdade. Isso vê-se por exemplo em alguns monges Theravada, que parecem tão serenos e livres que até ficamos contagiados só de olhar para eles. Mas todas as pessoas são diferentes e não há o melhor caminho para todos. As florestas decididamente não são para mim… neste momento. Do Budismo fico apenas com a reflexão, a ética, a meditação, essas coisas simples que a todos são úteis e conduzem à harmonia.

Mesmo dentro do budismo há tanta intolerância. É mesmo difícil as pessoas verem que o caminho por que optaram não é o melhor do mundo mas apenas talvez o melhor para elas mesmas. Então vemos algumas pessoas do Theravada a gozarem com o ideal do Bodhisattva ou a dizerem que os textos do Mahayana não têm realmente origem no Buda. E há pessoas do Mahayana a dizer que os do Theravada seguem apenas os ensinamentos mais básicos do Buda. É estranho haver esta bairrismo dentro do Budismo, onde supostamente deveria haver a tolerância e abertura que o Buda ensinou.

Para uma pessoa que acredita em Deus ou que entrou em contacto com o Divino, por muito avançado no caminho espiritual que esteja um Budista, ele pode ser alguém que tem uma incapacidade de perceber a existência de Deus… É difícil evitar o condicionamento excessivo do meio em que estamos inseridos, mas é muito importante.

Uma coisa fundamental nesta vida parece-me ser a abertura e tolerância. Aparentemente todos concordam que Deus, o Nirvana, a Ascensão, o Indefinível, etc, não se pode definir por palavras. Então cada um tem a sua linguagem e o seu modo de aproximação a esse indefinível, que também pode ser simplesmente uma vida terrena com menos sofrimento e mais sentido.

Uns vão pelo caminho da sabedoria à procura das três marcas da existência, outros vão pela compaixão, outros acreditam ser médiuns e capazes de comunicar com a energia de Cristo… Não é preciso estabelecer uma relação de ordem entre as várias opções e argumentar que a nossa é superior às outras.

No fundo estamos mesma situação, caídos neste mundo, todos juntos, toda a humanidade, todos os seres. Cada um com a sua linguagem, podemos sempre dialogar, podemos sempre meditar todos juntos, se enfatizamos aquilo que nos une em vez das especificidades que nos afastam.

Recordo-me da famosa resposta do Dalai Lama quando um teólogo lhe perguntou qual é a melhor religião:

“A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus. É aquela que te faz melhor. Aquilo que te faz mais compassivo; aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável... A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião...”

quarta-feira, setembro 14, 2011

O "eu" e o "meu"


Ver as coisas como elas são, sem adicionar o "eu" e o "meu".

Isto é particular útil nos momentos de contracção emocional ou sofrimento.

É notável o que acontece quando se passa do "eu sofro" para o "existe sofrimento".

Quando não nos sentimos bem está lá o "eu" que não se sente bem. É uma sensação, está lá. E é um alívio quando se percebe isso. É um alívio imenso quando se muda para "existe sofrimento".

Onde está o "eu"? A sensação está lá? Isto chega a ser divertido...


quinta-feira, setembro 08, 2011

Yoga Artístico


No mundo do yoga existem inúmeras escolas, mestres, linhagens, métodos, estilos. Há yoga para todos os gostos. Na prática de posturas há estilos mais estáticos em que abundam permanências e outros mais dinâmicos. A prática pode ser fisicamente leve ou extremamente exigente.


Há todo o tipo de religiões, filosofias e crenças associadas ao yoga. Num extremo existem as práticas extremamente esotéricas, o mundo pode estar povoado de deuses, energias, mantras e cores mágicas ou palavras sagradas. Noutro extremo há a prática em que se procura apenas estar presente, atento ao que está a acontecer. Em qualquer caso, uma das poucas coisas que parecem consensuais no yoga é que deve existir algum trabalho mental, ou espiritual, e não apenas físico.


Apesar de muitas escolas de yoga estão associadas a religiões ou filosofias, usualmente Hindus e Budistas, existem algumas mais abertas que não estão associadas a uma filosofia particular. Eu gosto de pensar que pelo menos o essencial da ética dos Yoga Sutras e do Caminho do Meio Budista, é algo comum às várias escolas. É pelo menos é esta a imagem do yoga que o Yoga Journal nos dá do yoga em geral.


É extraordinária a quantidade de designações de yoga existentes. Muitas designações parecem ser usadas por várias pessoas e desenvolvidas ao mesmo tempo de forma independente, como o Power Yoga ou o Acro-Yoga. Ainda agora pesquisei “Artistic Yoga” no Google e apareceu uma página do Bharat Thakur, como criador do Yoga Artístico (http://www.artisticyoga.com). Talvez existam ainda mais criadores do Yoga Artístico. Seja como for parece existir muito trabalho com qualidade em torno no yoga desenvolvido por inúmeras pessoas ao longo de muito tempo.


Dois dos aspectos que me agradam na escola de Yoga Integral, onde fiz a formação como professor de yoga, são a abertura de não estar associada a nenhuma religião e o excepcional cuidado e trabalho em torno da prática de posturas de yoga. Já vi outras coisas muito diferentes nestes dois aspectos.


Costumo praticar coreografias do Yoga Artístico fundado pelo Estevez Griego, conhecido no mundo do yoga como Swami Maitreyananda (http://www.artisticyoga.org). É um estilo de prática, dentro do Yoga Integral, em que se pretende estabelecer uma ligação entre o yoga e a arte. Há estilos de yoga em que se praticam coreografias fixas, como no Asthanga Vinyasa. No yoga artístico são criadas coreografias apropriadas para cada praticante. O resultado natural é uma prática fluída e bonita. Nesta prática, individual, em pares ou em grupo, ao ritmo da música, existe muita magia, é uma forma de expressão artística e de estar plenamente no aqui e agora. O resultado pode apenas sentir-se belo ou ser realmente muito belo, como mostram esta mulher e este homem.


Existem há muitos anos campeonatos de Yoga Desportivo. Além de método de prática, o Yoga Artístico, pela sua beleza, presta-se naturalmente para demonstrações e para estas “competições”. Surge assim o Yoga Desportivo. Pretende-se que a avaliação nestes campeonatos não seja como nos outros desportos. Como eu entendo, o espírito é mais de comemoração e partilha do que competitividade. Pretende-se que a avaliação seja espiritual. É assim por exemplo mais importante a alegria demonstrada pelo participante do que a sua flexibilidade. Claro que na prática não se pode definir como ou fazer objectivamente uma avaliação espiritual das pessoas, e assim avaliam-se as coreografias procurando ter em conta a espiritualidade. Mas na verdade, do meu ponto de vista, não importa muito quem ganha, se a atitude for apropriada todos ganham.


Ainda só participei em dois campeonatos mas conto participar em breve no campeonato Europeu de Yoga Desportivo, que já é o 13º e vai ser na Bulgária. Engraçado que, como a maior parte das pessoas interessadas por yoga, comecei por achar os campeonatos de yoga um perfeito disparate. O problema é que estamos muito centrados na cabeça. Claro que não é nada assim, como se pode ver por estes filmes do Campenato Português de Yoga Desportivo, foi o primeiro e realizou-se este ano em Aveiro: http://www.youtube.com/yogaarte. Na foto está a minha pequena yogi, que também participou.

quinta-feira, abril 07, 2011

Todas as emoções são dor?


Quando reflectia sobre a frase “todas as emoções são dor” apareceu na minha mente esta imagem, que embora não seja nova, surgiu agora como muito clarificadora.

Estou no mar, no meio das ondas. É óbvio que não consigo mudar as ondas do mar, por muito que seja a minha força de vontade, as ondas simplesmente não vão mudar a meu gosto. As ondas são as emoções. Elas simplesmente vão surgindo, não sou “eu” quem decide faze-las aparecer.

Se não estou atendo, no meio das ondas, surge de vez em quando uma onda violenta que me arrasta com força às cambalhotas e eventualmente atira-me contra a areia ou contras as rochas. Quando uma onda destas me atinge, estando assim distraído, não há nada a fazer, não dá para sair de toda aquela força que me arrasta e me domina. E além de todo o sofrimento que já existe neste percurso violento, por vezes ainda culmina num arremessar contra a areia ou mesmo contra as rochas. Assim é quando perdemos a visão do todo, estando completamente identificados com uma emoção destrutiva, completamente à mercê desta onda violenta. E além de todo o sofrimento que isto é por si só, permitimos por vezes que tenha consequências ainda piores. Estando atento talvez podesse ter mergulhado a tempo, passando por baixo da onda e evitando todo este sofrimento, ou talvez não.

Por vezes conseguimos apanhar uma boa onda e é muito bom apanhar uma onda destas. Mas mesmo aqui existe sofrimento, há tensão, há um saber que vai terminar, e pode haver uma inabilidade para sair da onda atempadamente, mais uma vez vem um arremesso contra a areia ou contra as rochas. E a seguir vem a ânsia por uma nova onda como esta, por mais deste prazer.

Este brincar nas ondas é o jogo da vida. Seja qual for a nossa actividade neste momento, as ondas continuam a surgir. Podemos estar distraídos e ser violentamente arrastados por elas. Ou podemos aprender sobre as ondas, observar, estar atentos. Podemos aprender a apanhar as boas ondas e a sair delas na altura certa. Estar atento não significa ser “controlado”, não há maneira de ficar estático no meio do mar, há sempre movimento, temos que acompanhar o movimento.

Não há maneira de parar as ondas, apenas podemos observa-las, aprender com elas informando a nossa intuição. Aprender a estar no mar quando as ondas estão boas e nas difíceis tempestades. E para aprender as ondas é preciso notar que existem, que por vezes nos levam, é preciso observar, é preciso meditar.

Isto parece tudo obvio mas o que é facto é que estamos quase sempre a fazer força para que não venham ondas que não gostamos, e para que venham daquelas ondas que gostamos. E por outro lado andamos distraídos, somos arrastados, e depois o mundo deixa de ser mundo, perde todas as cores, passa a ter apenas a cor daquela onda violenta que nos levou, e isto pode ter consequências desastrosas. Talvez todos males da humanidade advenham daqui. Da inabilidade dos homens para lidar com as ondas do mar.

sábado, abril 02, 2011

Yoga: uma religião para viciados sexuais



Voltei a encontrar na net este divertido artigo sobre Yoga e desta vez guardo aqui o link, que é de partir a rir.

Alguém que define o Yoga como "uma religião que ensina os seus praticantes a contorcer os seus corpos em posições deomoniacas com o objectivo ultimo de serem capazes de colocar os seus orgãos genitais nas suas bocas".






sexta-feira, dezembro 03, 2010

Ser mestre de si próprio


No passado fim de semana fizemos um retiro de meditação sem mestre. O mini-retiro começou na sexta à noite e terminou no domingo ao fim da manhã.

Cinco pessoas e um programa impresso numa folha, que consistia essencialmente em alternar meia hora de meditação sentada com meia hora de meditação a andar. Tivemos também duas sessões de yoga. A meditação no sábado foi intensiva, das 7:30 da manhã às 10h00 da noite.

Também lemos um texto sobre o Kalama Sutta, onde o Buda refere a importância de não aceitarmos algo, mesmo que seja ele próprio a dizer, sem validarmos com a nossa própria experiência. O texto chamava a atenção para a importância do "inquérito", do questionamento, da observação.

Até voltei a ler um pouco de Krishnamurti. Acho que uma pitada faz bem a toda a gente. Um extracto do conhecido discurso da Dissolução da ordem da Estrela: "Eu sustento que a Verdade é uma terra sem caminhos e dela não podereis vos aproximar por nenhum caminho, por nenhuma religião, por nenhuma seita."

É forte a tendência que as pessoas têm para seguir alguém, em vez de procurarem ser uma luz para si próprias. Existem muitos seres inspiradores mas em última instância cada um tem que ser mestre de si próprio e tem que ter a coragem de não se sujeitar a nenhuma forma de autoridade. Ninguém nos pode dizer o que fazer. Temos que ser nós próprios... em silêncio.

terça-feira, novembro 23, 2010

Workshop com Swami Maitreyananda e Campeonato Europeu de Yoga Artístico


Foi em Lisboa, no fim-de-semana passado. Finalmente percebi o que é uma linhagem do yoga. Não são conhecimentos, não são técnicas que passam, mas sim uma arte: a arte de ser feliz. É isso que o Estevez Griego passa as pessoas, com o seu genial sentido de humor aliado ao vasto conhecimento sobre Yoga.

Eu não entendia porque motivo a prática do Yoga Artístico me faz tão feliz. Existem várias formas de Yoga Artístico. A forma que pratico consiste essencialmente em explorar a beleza das posturas do yoga criando coreografias fluidas que envolvem posturas de yoga e cuidadas transições entre posturas, com roupas coloridas e música. É a prática em si que funciona, nem importam os resultados. Quando exprimimos através da arte o melhor que existe dentro de nós, somos flores que desabrocham. Nem importa muito se fazemos posturas de yoga muito bem ou não. É mesmo apenas a atitude, a intenção com que o fazemos. Expressar o que existe de belo em nós, deixar a criança interior sair e brincar, apenas fazer, sem pensar porquê. Na verdade continuo sem entender bem como funciona o Yoga Artístico. Só sei que esta prática, aliada a uma acção pura e bem-intencionada, me tem movido da mente para o corpo, do que penso para o que sinto, do dukkha para o sukha. Não me lembro de viver tão feliz, durante tanto tempo, em toda a minha vida…

E entendo agora que não são palavras que passam. E sinto-me muito grato ao Estevez, quem criou o Yoga Artístico, uma pessoa extraordinária que tive o privilégio de conhecer melhor este fim-de-semana, que iniciou a Juliana Brod nesta arte, outra pessoa extraordinária, que foi quem me tocou com o Yoga Artístico, com quem pratico, quase diariamente.

Foi também o 12º Campeonato Europeu de Yoga Artístico este fim-de-semana. Foi um grande desafio para mim participar. Os nossos resultados foram muito bons. Várias medalhas de prata e ouro! A Juliana ficou em primeiro lugar no Yoga Artístico individual, como era de esperar. E somos os dois campeões europeus de Yoga Artístico em pares! Não havia muitos participantes, mas estou determinado a promover o Yoga Artístico Desportivo (a variante direccionada para a “competição espiritual”) para divulgar o Yoga Artístico. Acredito que, tal como eu, devem existir outras pessoas para quem esta prática encaixa perfeitamente. No próximo ano deve ser na Bulgária. Estou lá caído!