domingo, fevereiro 25, 2007

O infinito na palma da mão

Estou a ler este livro. É uma longa conversa entre um cientista que se tornou monge e um budista que se tornou cientista. Este está escrito em português, mas ainda é mais difícil de perceber que o outro.

Parece haver uma estranha coincidência entre o que diz a física moderna e a filosofia budista. Já nem sei o que é que existe. Parece que quer matéria quer consciência em termos de existência estão em pé de igualdade. Apenas há o todo e relações entre coisas que não existem por si. O que se observa depende sempre do observador. E nos instantes iniciais do big bang não se entende nada pois a mecânica quântica e a relatividade geral não se conseguem conciliar. Tudo é possível. E pode ser que o big bang seja um de muitos, embora actualmente se pense que não. E pode ser que o mundo, ou os mundos, existam desde sempre como diz o budismo. A consciência pode existir sem matéria? Os renascimentos fazem sentido? Parece que não se sabe grande coisa e tudo é possível e nada existe nem não existe. Esta vida é um grande mistério...

Condições exteriores

É o quarto fim de semana que passo neste país. Já nem me lembro que vivia num apartamento limpinho junto ao mar, antes de vir para aqui. A cozinha está sempre cheia de loiça suja, espalhada por todo o lado, há "undergraduates" nos outros quartos do apartamento :-). Tive que comprar loiça e panelas e como no quarto. Tenho tão poucas coisas, um só prato, talheres, 3 panelas... E parece que não é preciso mais nada. E se fosse para outro lugar, ainda com menos objectos de conforto? Era igual, adaptava-me ao fim de dois dias, como aqui. Sei que é temporário... e se não fosse? É interessante verificar que todos aqueles objectos de conforto que acumulamos, desaparecem e não são precisos, assim, instantaneamente, quando se mudar de lugar. Mas arranjei logo um tapete de yoga... mantenho-me alegre na mesma, faço yoga aqui no quarto, medito... É tão interessante ver como nos adaptamos, e pequenas coisas ganham outro valor. Parece que se pode estar bem em qualquer lado.

A vida mudou muito quando comprei uma bicicleta, que custou três semanas de gasolina em Portugal. Ganhei asas, passava tanto tempo a andar a pé... Uma simples bicicleta deu-me tanta alegria...

Tenho tempo demais para trabalhar, dá para cansar e fazer outras coisas. Tenho saído quase todas as noites. Danças na Universidade e fora, as pessoas são tão simpáticas em todo o lado neste país. Mas estou cansado, vou começar a sair menos. Tive uma gripe terrível há mais de uma semana, e ainda não recuperei totalmente, talvez o cansaço também seja disso. Que noite passei, gripe a sério, e não tinha paracetamol. Havia uns instantes em que o desespero diminuia um bocadinho, quando tentava fazer pranayama.

As condições exteriores podem piorar, piorar muito, e podemos ficar felizes na mesma. Há sempre um lugar em que nos podemos sentar, e com esta mania de sentar de pernas cruzadas nem é preciso cadeira, basta uma almofada. :-)

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Buddhism without beliefs

Acabei de ler este livro. A teoria do karma e renascimentos, natural no tempo do Buda, não é essencial, diz. Fala na importância da imaginação e criatividade de cada um para o que o Dharma se adapte a novas realidades e se mantenha vivo. No entanto, perdendo-se aspectos místicos, corre também o risco de ser "engolido" por qualquer outra coisa, como a psicoterapia ou o cristianismo contemplativo. E fala de instituições religiosas que procuram manter crenças para não perderem poder. Enfim, gostei, acho que tem razão em muitas coisas.

E os renascimentos? É como Deus, não sei, e não vou crer porque me dizem. Vou morrer, é a única coisa certa. Quando? Não sei. E não há maneira de garantir que não vai ser neste instante. E sou feliz. Afinal o que vai morrer? E não vejo necessidade de promessas de boas vidas futuras ou ameaças de infernos. Basta esta. E não há respostas, só há perguntas... que não pedem resposta...

Bom livro, é pena estar em inglês e não perceber quase nada do que lá esta escrito... :-)