terça-feira, setembro 26, 2006

Contentamento


As técnicas budistas de redução de emoções negativas resultam mesmo. Tenho um sentimento crescente de contentamento e aceitação das coisas tal como são. Uma crescente sensação de liberdade. Observo claras transformações em mim próprio. A prática quase constante da atenção vigilante, a análise da vida adoptando perspectivas objectivas e lógicas que equacionam tudo sem o usual esquecer do que não agrada, e o aprofundamento pelas leituras contínuas... resultam.

Quando surge ansiedade surge quase sempre imediatamente "o observador", e volta logo o equilíbrio, a objectividade. A situação não tem peso a mais nem a menos.

Cada vez menos é preciso haver esforço de controle. Claro que já foi mais difícil acabar com as emoções negativas quando surgem. Agora é mais simples, a análise lógica de que não produzem nenhum resultado benéfico, é feita naturalmente. Ou seja, não há uma luta contra a natureza humana... há apenas um uso da inteligência para me opor ao sofrimento que no fundo tem como causa a existência de inteligência. Um treino da mente. E é muito bom viver quase sem ansiedade, cólera, ódio, apego, ciúme, medo...

O contentamento resulta essencialmente deste sentido de progresso. Não é preciso que seja um progresso radical. Basta perceber que pode haver algum progresso. E que a minha atitude em relação a todas as coisas pode ser cada vez mais benevolente. Existe um sentido claro no caminho. Embora consciente de que fases piores que esta vão continuar a aparecer, há um profundo sentido de orientação, e determinação. E um contentamento de fundo, que cultivo com base neste "poder melhorar".

Não sei se é mesmo possível o tal estado totalmente incondicionado da mente, em que todo o potencial se manifesta. O total despertar. Mas não tenho qualquer dúvida de que é possível efectuar transformações profundas no caminho desse estado. E continuo, contente, a caminhar...

domingo, setembro 24, 2006

Amor e apego

Gostei muito de ouvir falar a Tsering. Pareceu-me tão inteligente e com tanta abertura de espírito. A perspectiva que apresentou é, para este agregado que sou eu, simplesmente a realidade. É assim que vejo as coisas, como a Tsering diz.

O sentimento positivo que temos por alguém é sempre composto de duas coisas: amor e apego. O amor é o "querer bem", nada mais. Eu quero que sejas feliz, tu queres ser feliz, e tudo está bem, há coincidência de interesses. O apego é o "querer para mim". É algo egoísta, e causa do sofrimento. Tem a ver com posse, é um "querer bem se for meu", o meu interesse é o centro, eu sou mais importante. E é a isto que usualmente se chama amor. Claro que não há coincidência de interesses, ninguém vai concordar que eu é que sou importante.

Não há sentimento de amor puro ou apego puro. É como se uma percentagem fosse amor e a restate apego. Mas é claramente do nosso interesse aumentar a percentagem de amor reduzindo a de apego. É melhor para todos se o sentimento for mais amor e menos apego.

Mas também em relação a nós próprios sentimos apego, que depois oscila entre apego e aversão. E se não nos amamos a nós próprios não podemos amar os outros. Ai vamos naturalmente parar ao "eu" que está para além do corpo e do espírito (espírito como pensamentos, emoções, etc). É esse "eu" que leva a ideia de alma, ou à doutrina budista do não-eu. Interiorizar o "não-eu" é acabar com o raiz do apego, o apego ao "eu". Bom, eu acho que pelo menos podemos reduzir o apego, cultivando o amor, no interesse de todos.

Perguntei se existirem pessoas pelas quais temos a um sentimento que é claramente mais amor que apego, pode ser útil para generalizar o sentimento para outras pessoas. Estava à espera de resposta afirmativa. Mas fiz a pergunta na mesma. Por vezes fico descontente comigo, por não conseguir dirigir o amor para todas as pessoas. Sinto como se haver pessoas especiais fosse um obstáculo à equanimidade. Se o amor é um desejo de bem a ti, que como ser humano como eu tens igualmente direito à felicidade que desejas, porque motivo surge mais naturalmente em relação a algumas pessoas? Bom, às vezes perguntas a mais não ajudam. As coisas são como são e temos é que fazer o melhor uso possível delas.

E fiquei contente com a resposta da Tsering. É muito bom que existam pessoas pelas quais sentimos amor. É pior quando não existem. Pelo que percebi, podemos usar essas pessoas em exercícios, de modo a cultivar o amor por todas. E parece-me natural. Uns vislumbres de amor puro ou quase puro, já são encontrar o sentimento, depois é "só" expandir.

E também se falou concretamente de relacionamentos. São normalmente baseados em apego. As paixões aparecem quando as pessoas nem se conhecem. Por isso estou apaixonado por uma imagem que criei, não pela pessoa, que ainda nem conheço. É o meu interesse que é projectado, a imagem que me interessa é criada, e a pessoa é minha propriedade um objecto de apego, não é ela, sou eu. E posso viver até muito tempo com a pessoa, mas é sempre com essa minha imagem. Claro que é melhor se a base do relacionamento for mais amor e menos apego. Se for menos essa projecção do meu querer e mais um conhecimento da pessoa e amor "querer bem".

E a química? Foi um momento divertido. Pelo que entendi, para um relacionamento ser bem sucedido pode começar por haver química ou não. E há químicas entre mim e várias pessoas, não apenas uma, e com outras não. Claro que, quando a base de um relacionamento é atracção física, não pode durar muito. É suposto as pessoas conviverem uma com o outra. Mas obviamente que também não podem ser sexualmente repulsivas. Hum, resumindo, a meu ver é preciso que a base seja um verdadeiro conhecimento da pessoa, e um sentimento de amor, e não uma paixão apego que não passa de uma ilusão. Mas andamos em busca do amor romantizado das histórias "e foram felizes para sempre".

É difícil resistir ao apego. Dá a sensação de que se vai perder qualquer coisa. Mas não se perde nada, só egoísmo. E ganha-se amor, liberdade, alegria. O apego possui, fecha-nos, aperta-nos, o amor é abertura, liberta.

Querer bem. Só. Querer bem e ser útil a quem se quer bem, e querer bem mesmo que não possa ser útil. É assim quando é amor, e sabe-se que é amor. E cultivar este amor "querer bem" é cultivar a felicidade, é uma alegria, é tudo, nada mais é preciso.

quinta-feira, setembro 21, 2006

quem morre?


quem morre?

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções - justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.


Pablo Neruda

terça-feira, setembro 12, 2006

Liberdade

Em alguns momentos surge esta sensação de que cada vez sou mais livre, e preciso menos de privacidade. O que há a esconder? Só mesmo para não magoar ninguém...

Será que uma pessoa totalmente autêntica, nua, é totalmente livre e diz tudo a toda a gente... e depois chega a um ponto em que já nem diz nada a ninguém? Será que vou acabar por andar por aí a caminhar pelas ruas totalmente livre, totalmente louco? Pouco importa.

Que triste é pensar que as pessoas de que tanto gostamos podem ir embora, de vez. E que não aproveitámos a oportunidade de lhes dar atenção. Que sonho tão triste... que me deixou tão acordado.

Será que estar atento a cada momento chega?

E pensar que tudo continua se desaparecer daqui de vez, ajuda?

Muitas vidas muitos mestres

Comecei a ler e acabei no dia seguinte, impressionante. Um psiquiatra céptico que acaba a fazer terapia de regressão a vidas passadas. E se grande parte disto for verdade? Não há maneira de saber. Pensando estatisticamente temos que concluir que há mesmo renascimentos ou reencarnações. Há tantas pessoas que não têm dúvidas disso. E poderá haver alguém a dizer ter verificado que não?

sexta-feira, setembro 01, 2006

A primeira nobre verdade

Bom, parece que voltei ao ponto de partida, a primeira nobre verdade, a existência do sofrimento. Pode-se tentar ignorar, esquecer, procurar distracções, ou aceitar as coisas como são. Vou tentar manter-me na segunda opção. A próxima "distracção" tem que ser a própria vida... Mas é mesmo assim, dizem que não se caminha em linha recta, é mesmo em círculos. Por vezes mais perto do centro, outras mais longe, e nem sabemos bem a que distância estamos, é persistir, continuar e pronto...

Insegurança

E agora? O problema do pão está resolvido. Tenho que arranjar qualquer outra coisa para me distrair do momento presente. O trabalho a sério começa já para a semana. Vais trabalhar a dobrar no primeiro semestre e vais para Londres no segundo. Este momento é muito esta última frase. Mas não é isto que toda a gente faz? Arranjar uma distracção qualquer, que seja simples, que não possa causar grandes problemas? Mas de preferência mais "importante" que fazer pão numa máquina, eheh. Bom, vamos lá pôr esta criatura insegura a respirar fundo de cabeça pra baixo, sirsasana, pode ser que melhore, pode ser que a perspectiva mude, afinal fica tudo de cabeça pra baixo. E que este instante inclua menos o amanhã próximo .

O pão, finalmente

Páo de azeiotonas e oregãos, sabe mesmo bem. Sempre adorei pão (alentejano) com azeitonas, tinha que experimentar esta receita!

Já foram vários pro lixo. A quantidade ideal de ingredientes, sal, água, fermento, tornou-se uma pesquisa cientifica. Mas finalmente a solução.

Afinal é simples, basta fazer exactamente como diz neste livro, que vendem na fnac, e usar fermento seco (fermipan). Com fermento fresco é complicado. De qq modo usa-se muito menos fermento nestas máquinas do que para fazer pão normalmente, e deve ser mais saudável, além de saber melhor que aqueles ocos das padarias.

Sinto-me um grande paneleiro! Posted by Picasa