quinta-feira, junho 30, 2005

Correr na praia

Olaria, vou buscar bebida ao balcão e aparece uma rapariga logo a seguir. Põe uma moedas em cima do balcão, pede um carioca e o barman pergunta-lhe se quer mesmo isso. Ela diz que queria antes uma imperial mas as moedas não chegam, vira-se para mim e refere o ridículo da situação. Usa a estratégia de sempre, conhece o barman, procura um homem qualquer, que lhe pague. Apenas sorri. Sexo pago, para mim deve haver no mínimo atracção física e respeito para haver sexo, embora respeite quem não exige tanto. Há algum interesse na vida nocturna... pessoas estranhas... mas também é tão ridículo. Homens de pé que se babam olhando para as mulheres. Mulheres sentadas, com ar de pavão. Eu não sou daqui, cheguei agora, e parece-me tudo tão primitivo...

Bebi duas cervejas ontem à noite, esta manhão senti-me barrigudo e fui correr. Saí de casa, percorri o paredão e voltei. Só dez minutos?... Vou até à Costa Nova. E assim fiz, à beira mar na areia dura, depressa cheguei ao paredão sul da Costa. Chovia e estava todo ensopado. Não parei, voltei, e continuei a correr, no meio da chuva, das gotas vindas do mar e das lágrimas. Queria cair no chão, ser um monte de sal, dissolver-me na agua do mar e ao mesmo tempo nas memórias de todas as pessoas que me conhecem. Morrer sem ter nascido, nunca ter existido. Depressão? Toma Prozac e continua a produzir riqueza. Prefiro chamar-lhe dukkha, continuar saudável e sentir cada vez mais...

A praia de manhã é interessante, não tem pessoas, vou para lá mais vezes. Bom para a surya namaskar, ainda que se tenha que imaginar o surya, como esta manhã...

As pessoas falam tanto, escrevem tanto. Quantas pessoas terão escrito o que estou a escrever agora? Porque não fico apenas sentado, sem fazer nada? É sabido que é a melhor maneira de não contribuir para a desordem...

quarta-feira, junho 29, 2005

Paredão revisited

Hoje fui para lá antes das 9. Não parece o mesmo lugar, não há pessoas, não há bares, há a luz e o silencio das ondas. E lá estive no primeiro banquinho, sentado sem me mexer, a olhar em frente e a sentir-me muito vivo e tranquilo...

Anck Su Namun! Já não sei se é nesta vida que nos vamos reunir... Sonhar, sonhar... O que é realidade e fantasia? Pouco importa, quando a fantasia se concretiza perde progressivamente a magia, e morre, torna-se real. Quero manter-me vivo e sonhar, consciente que sonho, vivendo no presente...

Mas que raio estou eu para aqui a escrever?

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terça-feira, junho 28, 2005

Amor eterno

Aqui posso ser quem quiser...agora sou o Imhotep...acredito no amor eterno...e espero que Anck Su Namun se recorde de mim...

segunda-feira, junho 27, 2005

Dois dias na Barra

Não sei bem o que me leva a escrever coisas sobre mim num blog que todas as pessoas podem ver. Terei a presunção de poder escrever alguma coisa que interesse a alguém? Vou só contribuir para o aumento do lixo na internet mas na verdade nem quero saber...

Há dois dias que vivo na Barra, sozinho num apartamento vazio, sem água e sem luz. No quarto tenho uma espuma fina para dormir e uma mala com roupa. Também tenho um rádio, um tapete para o yoga e uma almofada indiana. Ouço musica relaxante, medito e faço yoga. Sinto-me bem sozinho no quarto e sozinho no meio dos veraneantes alegres que não conheço. Não sei o que aconteceu ao medo da solidão, se esta paz e este sossego, que não me lembro de ter antes, vão durar.

O apartamento vazio faz-me lembrar o inter rail. Recordo-me de pensar que podia andar de comboio a vida toda, a improvisar, sem conforto, sem nada, sem parar. Uma almofada e uma parede branca...complicar para quê? É um apartamento Zen e quero que continue assim.

Ontem resolvi nadar até à Costa Nova. Em menos de meia hora fiquei cheio de frio e saí da água, não cheguei à Costa. Estava um nadador salvador à minha espera, zangado. Parece que me acompanhou durante todo o percurso. Ainda lhe expliquei que nadava longe para não incomodar os surfistas, mas não adiantou, ficou zangado na mesma. Suponho que também não ia adiantar se lhe explicasse que não me importava de morrer afogado. Fosse morrer para uma praia não vigiada. Hoje fui novamente a caminho da Costa Nova, as ondas estavam pequenas e pude nadar perto da costa evitando os surfistas e os nadadores salvadores...mas não o frio. Não avancei para além da meia hora, mas desta vez voltei a nadar, mesmo com frio. Nunca vou chegar à Costa Nova, desisto. Talvez com um fato térmico conseguisse contornar os surfistas, evitar os nadadores salvadores e vencer o frio, mas assim não tinha interesse.

É bom sair de casa à noite e percorrer o paredão, fica-se no meio do mar. O mar à noite faz-me sempre sentir um arrepio no peito e sonhar com histórias de marinheiros e tempestades no mar alto. Mas não gosto das pontas do paredão, no início há o barulho dos bares e no fim o cheiro a mijo. Divertem-me os casais que por lá passeiam no escuro, fazem-me lembrar da intensidade das paixões acabadas de nascer...condenadas quase sempre a uma curta existência.

Vou voltar para lá...